quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Mais do mesmo

 Eu espero não sofrer mais por quem não me respeita, nem respeita meus sentimentos.

Eu também espero conseguir escrever rápido, e arrumar um emprego longe de onde estou (e em um lugar que seja melhor que esse, e que seja bom pra mim).

Eu espero poder sorrir com meus amigos de verdade, abraçá-los e deixar todo esse peso pra trás.


E foda-se esse ano que me tirou gente e quebrou meu coração.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Eu quero ir embora

Vai chover por pelo menos três semanas seguidas, e meu humor está sendo pautado por isso. Começou com um frio absurdo, causado por alguma depressão climática que baixou a temperatura pra 4 graus durante o dia, e eu senti tanta dor nos joelhos e nas mãos que fui comprar um edredom a mais, pra ficar enrolada durante o dia. Meu mau humor era visível. Eu proclamei aos quatro ventos que meu objetivo de vida virou morar em um lugar em que o aquecimento não custe o olho da cara, e eu possa conseguir viver dentro de casa sem sentir dor de tanto frio.

Eu preciso levantar e ir pagar a faculdade (debaixo de chuva!), mas estou aqui deitada no escuro, olhando para a fresta de "luz" que entra no quarto. Eu preciso ir embora. Eu ainda estou muito dentro da situação do português filho da puta, e moro com alguém que também está na situação e me fez sofrer, e quase todos os dias algo me faz lembrar que ninguém aqui gosta de mim o suficiente pra respeitar os meus sentimentos.

Eu sinto falta da minha família e dos meus amigos. 

Todos os meus amigos que me ajudaram, que me entenderam, que me acolheram, que não me julgaram, estão longe. Em Porto Velho, em São Paulo, em Casa Branca, em Londres. Ou sou eu que estou longe? Eu queria poder passar por essas coisas do coração perto dos meus amigos. É o normal, não é? Todo mundo que tem amigo perto acaba sofrendo menos. Ou as coisas passam mais rápido, não sei. Eu tenho a impressão que essa minha intensidade seria diluída se eu pudesse ter meus amigos perto.

Eu ainda sinto raiva, e me sinto traída. Eu queria vingança. Mas eu também queria esquecer essas pessoas, e fingir que elas nunca existiram. 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

"we hope that you choke"

 eu nunca pensei que a raiva seria o meu sentimento mais paralisante

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Para todas as minhas amigas, que como eu, estão cansadas daquilo que não dá certo

Quando eu me mudei pra Portugal e conheci minha colega de apartamento, ela brincou que nós nos encontramos por um motivo: pra alcançarmos equilíbrio. Ela precisava de mais foco para estudar, e eu precisava me soltar mais na vida pessoal - sempre fui profissional em me afundar nos livros pra fugir de tudo, e ela me disse que sempre fez exatamente o contrário, então sempre teve muitos amigos e amores.

Antes da pandemia começar, eu tive vida social. Claro que à minha maneira; ainda com longos períodos de solidão e autocontemplação, muito pé atrás com qualquer pessoa que tentasse se aproximar, mas aproveitando as coisas de alguma forma. Eu me diverti, eu conversei com pessoas, eu saí de casa, eu até flertei com desconhecidos no balcão do bar, entre cervejas e shots de ginja. E por alguns momentos, no bar ou caminhando até o encontro do rio com o mar (bem naquela hora em que a sua cabeça não está concentrada em nada, e as ideias vêm de forma orgânica), eu pensei que talvez fosse hora de me abrir. "Talvez eu possa permitir procurar alguém, gostar de alguém... Eu já me formei, eu já sou adulta, eu... posso. Talvez eu deva". A culpa que eu sinto por não ter um emprego, por não estar no patamar da vida em que eu gostaria de estar... Nada disso importa quando esse pensamento orgânico vem; acho que porque eu percebi que gostaria muito de ter uma família minha, e que quado se conhece alguém, a construção das coisas é dos dois, e não só de um. 

Nesse meio tempo, eu conheci alguém que vou chamar aqui de Luz. A Luz era colega de classe da minha colega de apartamento; as duas tinham a mesma idade, mas vidas completamente diferentes. A Luz passou dez anos casada, separou e resolveu fazer o mestrado em outro país para ver o mundo. Eu imediatamente me conectei com ela; nós duas éramos excessivamente sensíveis (se é que isso existe!), românticas e curiosas. Ela estava tentando conhecer pessoas usando o método late millennial: aplicativos. Era engraçado ouvi-la pedindo dicas ("então existem emojis que podem ser algo sexual?") e falando dos caras com quem ela conversava; tirando a inaptidão com a tecnologia, nós duas éramos iguais. Eu também tive dificuldade para entender o que as pessoas procuravam, para entender as perguntas e frases cheias de camadas de intenções e também tive dificuldade para interpretar o silêncio. O silêncio quase sempre vinha. A construção de expectativa é inevitável - eu inclusive acho que já li em algum lugar que é a notificação que ativa aquela adrenalina que faz com que a gente se torne viciado. É um tipo de expectativa; seja a da mensagem nova, da descoberta de um ser humano novo, um universo novo que se colide com o seu, ou uma nova possibilidade. Quando você tem certeza do que quer, conhecer alguém sempre traz uma possibilidade, sempre traz uma... esperança.

Depois de uma desilusão que a Luz sofreu, eu e minha colega de apartamento conversamos sobre relacionamentos. Não lembro se foi depois de um jantar regado a vinho, ou um lanche da tarde regado a tanto bolo de chocolate que eu não tinha capacidade de responder (só ouvir), mas ela me disse que a Luz tinha essa dificuldade porque não sabia lidar com o "namoro moderno". Claro que o nome do Bauman, e as expressões "amor líquido" e "relações líquidas" surgiram. Minha colega de apartamento é alguém mais experiente e habituada ao tal "namoro moderno", e a tal fluidez que o namoro moderno proporciona. "As coisas andam rápido", ela me disse e seguiu com um "ou você se adapa, ou você se magoa muito e sofre". Eu assenti, mas depois fiquei pensando em pessoas como eu e a Luz, que levam um tempo para se curar de qualquer mágoa. A quebra de expectativa quase sempre gera uma ferida, e eu sempre tive bastante orgulho de me entender o suficiente para saber que preciso de tempo para me recuperar. Será que algum dia eu iria me adaptar a essa modernidade, mesmo ela não sendo assim tão boa para mim? 

Nesse mês em que eu me recupero de uma decepção amorosa, eu conversei bastante com meus amigos. Pela primeira vez na vida, eu consegui me abrir com pessoas que achei que pudessem entender; todas estavam longe de mim, no Brasil, mas o apoio foi fundamental para que eu parasse de chorar, saísse da cama, e passasse pelas fases do "luto" da maneira mais natural possível. Essas amigas (e esse amigo!) com quem conversei são parecidos comigo em um aspecto: todos se consideram (ou são considerados) "emocionados". Eu amo a versatilidade do termo, porque se parece deboche para alguns, pra outros é elogio. Eu, alguém que ama o Romantismo e o romantismo, não acho que sentir emoção quando há esse encontro entre duas pessoas seja algo ruim. Claro que meu lado racional (muito bem trabalhado por mais de uma década de terapia) sabe definir limites. O gostar é uma construção, o amor leva tempo, a confiança também, e até mesmo a criação de expectativas - tudo é um processo. E como uma amiga me disse (entre áudios inflamados) você não é paciente psiquiátrica, que cria coisas na cabeça do nada. Se você está sentindo algo que foi se desenvolvendo por um tempo, em uma relação (qualquer que seja o tipo) entre duas pessoas, é porque existe uma troca. Ação e reação. Depois disso, eu fiquei pensando nessas pessoas do amor líquido: será que elas pensam que as ações delas, por menores que sejam, não vão ter uma reação? Ou será que elas sabem, e simplesmente não ligam paara o efeito que podem ter numa vida alheia? Outra amiga me falou  (também entre áudios inflamados), que sente que "as relações são normalizadas com escrotidão". Analisando com um pouquinho mais de profundidade essa escrotidão, eu chego ao seguinte processo mental (de quem é filho da puta e sai por aí fazendo as coisas no automático, com a dita rapidez dos relacionamentos modernos): tudo bem fazer essa coisa x que pode magoar muito alguém que entrou na minha vida, que eu alimentei com esperanças. Tudo bem não ter respeito por esse alguém. Eu estou sendo honesto - não dando certezas! -, mesmo que minhas ações digam o contrário. Esta pessoa é só mais um número para mim; por que eu deveria me importar com o que ela sente?

Eu acho que as coisas são mais duras para quem sabe o que quer, e sabe que quer emocionado. Namorar nunca foi tão difícil, mesmo com esse mundo de possibilidades. É fácil encontrar pessoas. É fácil beijar, transar, e até mesmo ser honesto. Mas dar continuidade às coisas é tão difícil... O que eu sinto, e o que eu sinto de todas as pessoas com que conversei, é um cansaço enorme, uma frustração. "Eu não aguento mais, sabe. Não dar certo niguém", uma amiga disse. Eu entendo. Eu queria que todas nós nos juntássemos num grande karaokê, cheio de cerveja fria e abraços quentes. Esses momentos de alegria cega são o que dão esperança na vida, sabe? No fim das contas, por mais difícil que seja, por mais dolorido que seja tentar algo novo, criar expectativas mesmo tendo quase certeza que elas vão ser quebradas, é muito bonito ter esperança. E isso faz a caminhada valer a pena. 




sábado, 21 de novembro de 2020

Quase o fim

 Eu acho que não sinto mais vontade de chorar.

domingo, 8 de novembro de 2020

Anatomia do meu gostar, ou um mini estudo sobre passividade

 Eu nunca sei exatamente como começa, mas nos últimos dias fiz um exercício de memória com amores passados.

A primeira pessoa por quem eu me apaixonei era meu amigo. Ainda é, mas éramos muito mais próximos de convivência. Nós estudávamos juntos na escola, fazíamos inglês juntos, e quando não nos encontrávamos em ambiente escolar, ele vinha na minha casa ou eu ia na dele (morávamos perto um do outro). Ele me ouvia. Ele gostava das mesmas coisas que eu, e era intelectualmente estimulante. Ele escrevia, era sensível. Um dia eu acordei, e percebi que não gostava mais dele como amigo. Mas eram tempos difíceis dentro da minha cabeça - não que hoje seja mais fácil, mas antes era tudo muito mais confuso, e eu me sentia pior que me sinto hoje. Quando eu fui forçada a contar pra ele, passamos uma semana sem conversar. Eu adoeci. E a paixão passou, porque a amizade foi mais forte. Essa foi minha primeira lição: às vezes as coisas se confudem, e é preciso escolher o que priorizar.

A segunda pessoa por quem eu me apaixonei estava longe. Eu levei alguns meses até ver o rosto dele, ele raramente via o meu, mas nós nos achávamos engraçados de alguma forma. Ele me achava bonita. Ele dizia isso pra mim. Nós conversamos todos os dias, por três anos. Ele foi a primeira pessoa que fez eu me sentir desejada, a primeira pessoa que não tinha absolutamente nenhum motivo pra me encorajar e mesmo assim o fazia. Eu me apaixonei quando ele tirou uma foto minha tomando sorvete na sorveteria vegana da baixa Augusta, e depois me levou até o metrô Consolação de mãos dadas. Mas algo parecia errado. Dentro de mim, eu sentia que algo estava errado - seja porque parecia que estávamos fazendo tudo escondido, porque minha intuição dizia que ele não estava 100% ali comigo, como eu estava com ele. Quando acabou, e eu me senti desrespeitada (por diversas razões), eu entendi que paixão e amor precisavam ser cultivados. Essa foi minha segunda lição: as coisas mudam, as pessoas mudam e os sentimentos podem acabar.

A terceira pessoa por quem eu me apaixonei parecia perfeita pra mim. Nós dois falávamos a mesma língua de internet, ele era extremamente político, ele era carinhoso e me fazia rir. Nós tínhamos muito em comum. Ele parecia adulto e seguro, parecia ter feito todas as escolhas seguras que eu não fiz. Oficialmente nós nunca tivemos nada, mas por por mais de um ano eu fui o apoio emocional dele; com o tempo eu vi que ele não tinha certeza de nada, e que eu era o peso mais seguro da balança. Eu me acostumei a receber migalhas de afeto, e percebi que me adapto fácil demais ao que não é exatamente bom pra mim. Só um ano depois, quando eu consegui me abrir com alguém sobre a situação, eu entendi que não precisava sentir culpa por ter desistido, ou por não ter insistido em algo que seria só tarefa minha. Essa foi minha terceira lição: a forma com que eu me apaixono tem muito mais a ver comigo mesma do que com o outro. Por mais que eu ame o platônico, quando o real acontece, eu preciso estar preparada.

Eu não queria ter me apaixonado pela quarta pessoa por quem eu me apaixonei. Eu não achava que era a hora, eu estava muito ocupada. Mas eu sempre estou ocupada. Sempre tem uma pulga atrás da minha orelha dizendo que eu tenho que ser mais equilibrada, que eu devo dar uma chance pra algo novo quando esse algo novo aparece. Claro que depois que não dá certo - porque eu me iludo, porque a outra pessoa me ilude, porque a vida acontece - eu amaldiçoo essa pulga e qualquer outra pessoa que diz que eu devo me abrir, porque minha intuição nunca falha. Mas essa quarta pessoa era mais do mesmo - muito adulto, muito seguro, muitas coisas em comum... Outro intelectual, muito político, com gostos peculiares que me faziam rir, piadas que me faziam rir, mais experiência que eu. Outra pessoa que me dava alguma espécie de carinho, mas não o que eu precisava, não o que eu acho que eu mereço. Foi muito próximo do fim que eu percebi que tinha me apaixonado por ele, e consegui perceber exatamente quando aconteceu: foi na falta. Foi pela saudade. 

Com todos eles, sem exceção, eu nunca fui firme.

Eu nunca impus o meu querer, e sempre me deixei levar - tanto pelos meus sentimentos, quanto pelo agir deles. Eu fui passiva. Eu sou passiva. Eu deixo acontecer, e finalmente percebi que isso nunca vai dar certo comigo. Não adianta me proteger de todas as maneiras possíveis, pra no fim deixar que o outro me conduza, porque o caminho das rosas inicial sempre leva pra um abismo. Acho que essa vai ser minha quarta lição: não adianta nada eu entender qual é o meu tipo e saber o que eu quero, se eu não sei dar uma importância ao meu desejo; se eu não sei dar importância maior... a mim.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Preach

 "Love is awful. It’s awful. It’s painful. It’s frightening. It makes you doubt yourself, judge yourself, distance yourself from the other people in your life. It makes you selfish. It makes you creepy, makes you obsessed with your hair, makes you cruel, makes you say and do things you never thought you would do. It’s all any of us want, and it’s hell when we get there. 

So no wonder it’s something we don’t want to do on our own.

 I was taught if we’re born with love then life is about choosing the right place to put it. People talk about that a lot, feeling right, when it feels right it’s easy. But I’m not sure that’s true. It takes strength to know what’s right. And love isn’t something that weak people do. Being a romantic takes a hell of a lot of hope. I think what they mean is, when you find somebody that you love, it feels like hope."

(Fleabag, S2E06)


Pode até não acontecer comigo, mas existe e é bonito.


domingo, 1 de novembro de 2020

"você precisa de mais amigos, conhecer mais gente"

a coisa mais esquisita aconteceu
eu comecei a falar: falei, falei, falei.
contei do que se passava na minha cabeça pra todo mundo. e não sinto mais raiva. ainda não quero ver a pessoa que me magoou, mas não sinto raiva. ainda sinto mágoa, mas isso eu sei que passa com o tempo. 
eu realmente sei lidar melhor com tristeza do que com raiva. eu espero que o ponto de "sentir nada" chegue logo.
e também não acho que precise de mais amigos; foram os meus amigos, que me conhecem há mais tempo, que me ajudaram esses dias.
mas pela primeira vez na vida, eu consegui falar.
e isso me ajudou.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

"Tristeza não tem fim"

 Eu passei os últimos seis dias sofrendo, e mais ainda nos últimos três. Terça-feira eu fiz algo que minha terapeuta recomenda vivamente: eu enfrentei algo de frente. Eu tenho o hábito de fugir, sabe? Eu deixo as coisas passarem, eu deixo a vida passar, deixo o que quer que seja que tenha me magoado passar. Mas terça-feira eu confrontei a situação, e não foi tão horrível. Claro, minha sessão de terapia, que aconteceu 1h depois do ocorrido, foi uma grande merda. Eu passei vinte minutos chorando, tentando racionalizar as coisas, sendo que e o que eu queria de verdade era sumir. Abri uma garrafa de vinho assim que acabou, e bebi inteira. Chorei mais. Montei uma playlist de sofrimento, liguei pra uma amiga, tuitei em caixa alta tudo o que eu estava pensando. Prometi pra mim mesma que só teria esse dia de sofrimento, e depois me enterraria em livros.

É óbvio que nada do que eu planejei deu certo. Desde quando alguém sentimental demais consegue controlar o que sente? 

Hoje digito isso da cama. Ontem eu senti tanta dor no corpo que tive que tomar um miosan. Hoje ainda tenho o pescoço duro, sinto uma dor esquisita do lado direito do peito e um impulso tentador de não comer por cinco dias. Li um pouco, mas passei a maior parte do tempo ouvindo música e chorando, sentindo tristeza, sentindo raiva e vendo Fleabag. Tenho vontade de dizer pra todo mundo que estou triste. "Olha, eu tô triste. Vocês não tão vendo que eu tô triste?". O que recebo dos poucos amigos que perguntam, é um silêncio ensurdecedor, que parece muito com pena. Eu sinto um "todo mundo já passou por isso" em cada palavra de cada um. Um "supera isso logo". Talvez esse seja o malefício de ser alguém que parece muito forte: todo mundo acha que eu sei lidar muito bem com meus sentimentos, e que eu consigo me virar sozinha.

Talvez eu sempre tenha tido que me virar sozinha, porque sempre sinto um pouco de desdém dos outros em relação aos meus sentimentos. Talvez eu tenha ouvido tanto que sou uma grande dramática e exagero em tudo, que acabei internalizado isso, e no fim das contas eu sofro por sofrer demais.

Eu sinto uma raiva imensa por ter cedido, e ter me aberto emocionalmente pra alguém que nunca quis se abrir. Eu fico voltando e voltando pro exato instante que eu cedi e grito "sua burra do caralho, não faz isso!". Eu sinto uma revolta enorme, porque dessa vez não fui eu quem procurou isso: ele veio atrás de mim. Ele insistiu. Se ele insistiu, se ele iniciou, então por que sou eu que estou chorando na cama e me sentindo um lixo? Por que não é ele que está sofrendo? Eu quero que ele sofra. Eu não me importo que ele não fez nada pra me magoar intencionalmente. Ele me magoou, querendo ou não. Por que quem paga por isso sou eu?

Eu me sinto um lixo, porque acho que a culpa é minha. Eu não fui bonita o suficiente. Eu não fui interessante o suficiente. Ele me conheceu o suficiente pra perceber que eu sou uma grande fraude, e eu não sou o suficiente nem pra ele, nem pra ninguém. Eu não sou magra, eu não sou feminina, eu não sou inteligente, articulada, sexualmente experiente. Ele viu que eu sou uma grande fraude, e ele correu. E não teve coragem de dizer nada disso na minha cara, então fez o que todos os outros fizeram: começou a desaparecer aos poucos. Porque como os outros, ele também não me respeita.

Mas hoje eu percebi, que acima de tudo, eu sinto tristeza pela rejeição. Mais uma vez eu fui rejeitada. Eu tentei, e dessa vez não foi nem escolha do meu dedo podre: foi ele que veio até mim, e ele provou, como os outros, e também me rejeitou. Talvez eu sofra desse jeito e nessa intensidade, pra não esquecer como rejeição dói. E depois de um tempo, quase todos os momentos bons se vão; eu lembro de um beijo enquanto eu descia a Augusta, uma conversa na Martins Fontes depois de uma peça de teatro, de andar de mãos dadas na Paulista. São só flashes, encobertos pelo sentimento aterrador da rejeição.

Eu sei que isso vai passar. Mas agora, a única coisa que eu consigo desejar, é que não tivesse acontecido. 

terça-feira, 27 de outubro de 2020

so yesterday, live from my broken heart

"Thank you

 You've made my mind up for me 

When you started to ignore me 

You won't see a single tear

It isn't gonna happen here

At least not today 

Not today 

Not today


If you're over me 

I'm already over you 

If it's all been done 

What is left to do?

How can you hang up 

If the line is dead?

If you wanna walk out 

I'm a step ahead

If you're moving on

I'm already gone 

If the light is off 

Then it isn't on


Cause

If it's over let it go and 

Come tomorrow it will seem 

So yesterday

So yesterday

I'm just a bird 

That's already flown away 

Laugh it off

Let it go and 

When you wake up it will seem

So yesterday

So yesterday 

Haven't you heard that I'm gonna be ok?"

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

quando o coração se parte

 eu sei que leva tempo, mas eu também tenho muito a fazer... então sempre estabeleço metas.

hoje tenho um documento para escrever e entregar, depois tenho uma palestra. amanhã leio um livro e tenho terapia. quarta ainda chove, então vou escrever e terminar de ver fleabag.

quinta faz sol. quinta eu saio, bebo sangria, vou pra beira do rio chorar e prometo pra mim mesma não deixar absolutamente ninguém entrar no meu coração até eu entrar no doutorado - e nunca mais me envolvo com alguém que não sabe exatamente o que quer.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

medicina tropical

 toda essa chuva e esse cinza que sempre me deixam melancólica

nao conseguiram vencer uma risada quente, um sotaque enrolado e chamadas de vídeo cheias de verde, de céu azul e paisagens que me fizeram lembrar de casa

estar distante sempre me deu a oportunidade de conhecer gente de longe, que me entregou pacotinhos de felicidade quando eu mais precisava 

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Hoje, na terapia

 1- Algumas pessoas são mais introspectivas e melancólicas. Só há algo de errado com isso quando a melancolia é predominante;

2- Eu só vou conseguir ganhar as batalhas contra o meu inconsciente - que é regido pelas emoções -, quando eu parar de racionalizar (como eu sempre tentei fazer) e imaginar cenários em que a emoção é o foco;

3- Eu só vou conseguir chegar ao cerne das questões que causam sintomas (de depressão, ansiedade, toc, insônia, compulsão alimentar, o que seja) se eu trabalhar no meu inconsciente, pra quebrar conceitos preestabelecidos pela minha criação.


Meu mundo se abriu.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Eu não sei se consigo

 Hoje não chove no Porto. Eu sei que faz sol porque a luz entra pela fresta que deixo aberta da persiana. Eu sei que faz frio porque sentei, e o ar frio penetra a pele das minhas mãos, que vão ficar geladas até maio, quando esquentar.

Ando me sentindo melancólica. Não por amor, ou talvez o amor seja só parte disso tudo. É melancolia geral. Sinto muita falta de casa, dos meus pais, do meu irmão, dos meus amigos e da segurança. 

Eu corro o tempo todo. Eu me movo o tempo todo. E quando eu paro, eu sinto que não tenho forças. Eu não sou forte o suficiente pra seguir com qualquer que seja o plano que eu tenho. Andar sempre pra frente faz com que eu pareça corajosa, mas quando eu fico sozinha, toda a coragem do mundo vai embora e eu fico minúscula. 

domingo, 4 de outubro de 2020

Platônico é mais gostoso

Eu sempre vivenciei no meio de muita gente a dor no estômago e o nó na garganta que sinalizam o fim.
É sempre doloroso segurar o choro pra ninguém saber que seu coração tá se partindo em mil pedaços. Eu sinto que se eu estivesse em silêncio, eu conseguiria ouvir esses mil pedaços quebrando. Mas no meio de gente, só dói por dentro.

Eu acho que no fim das contas, eu não idealizo ninguém. Eu podia, não é? Eu como leitora de romance, podia mesmo idealizar tudo. Esperar por muito. Mas na real, eu não espero. Eu só quero alguém que goste de mim. E isso de tentar e não conseguir dói tanto. Não sei como as pessoas conseguem. Não sei mesmo. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

"O que trago sobre os ombros é meu e é só meu"

 Hoje pela manhã eu acordei com notícias de pessoas do meu passado. Não passava das 7:30 e bateu com força: o fracasso. Agradeci pela insistência da minha terapeuta de continuar com a sessão da semana (eu teria que fazer duas sessões semana que vem), e decidi que vou resolver o tiver de pendência com redes sociais e vou me afastar. Se eu ainda não estou pronta para lidar com a comparação (que é praticamente inevitável nesse mundo que a gente vive), então eu que me resolva pra poder viver.

Quando eu estiver melhor, acho que vou precisar escrever sobre isso pra conseguir processar. 

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Col hamesubach col hazman

 Essa vontade absurda de chorar até secar, de não ser engraçada, nem tentar ser nada. Só ser. Só chorar. Chorar escondida, longe de qualquer um que não vá entender porque eu me sinto essa massa uniforme de sentimentos que não fazem sentido.

Eu não consigo me concentrar em nada pra conseguir fugir desse monte de coisas que eu sinto, e ao mesmo tempo eu sinto que estou cada vez mais fechada pro mundo. Não sei. Tudo é complicado o tempo todo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

gatilhos

 arrumar tudo o que sempre deixo de lado

limpar o que deixei pra trás 

e recomeçar, sem me comparar com nada ou ninguém

eu não sou um fracasso

eu não sou um fracasso 

eu não sou um fracasso 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Sobre os meus relacionamentos

 Todas as vezes que eu me abro, eu lembro porque me fechei: porque eu quero algo muito específico, e nunca conheci ninguém que pudesse suprir esse querer. Quando eu aceito menos, eu acabo magoada e me fecho.

É muito difícil sair desse ciclo, mesmo sabendo que ele existe e tentando lutar contra ele. Esse sentimento de derrota, de "tem algo errado comigo", de tristeza de fim de domingo... É destruidor. 

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Eu tenho raiva

1) porque não consegui me adaptar à universidade aqui, e tenho me sentido cada vez mais fracassada por não atingir as expectativas dos meus professores (e nem gosto dos meus professores).
2) porque eu associo o meu valor com minha vida acadêmica. se ela vai mal, eu fico extremamente mal.
3) porque eu não tenho mais certeza de porra nenhuma.
4) porque eu queria chorar sozinha por uns três dias. mas não consigo mais me dar esse luxo.
5) porque quando as coisas apertam, eu mando o "equilíbrio" pra casa do caralho e penso só em estudar - mesmo tendo cada dia mais certeza de que eu não fui feita pra isso.
6) porque eu não sou boa em nada que me dá dinheiro.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Daydreaming

Essa semana o Thom Yorke cantou "dreamers, they never learn" nos meus ouvidos, justo no dia em que eu não consegui levantar da cama. Foi um dos dias em que eu desejei com todas as forças estar sozinha pra conseguir sofrer em paz. Fechando os olhos, eu consegui sentir o cheiro da minha casa limpa em São Paulo, e a sensação da manta que cobria o meu sofá. Foi um dos dias que volta e meia voltam, dias em que eu tenho a certeza que vou terminar meus dias sozinha, e que só preciso estar ok com essa ideia pra conseguir ficar em paz.
Um dia eu aceitei tão bem o fato de ser sonhadora. Quando isso mudou? Quando eu virei alguém que quer mostrar pros outros que não sonha, que não é romântica?
Talvez eu deva voltar a ser esse alguém, mesmo sozinha.
Assim eu não engano ninguém, nem me engano.

sábado, 30 de maio de 2020

sola me voy

y todo va a quedarse bien
y todo lo que siento va a pasar
y voy a entender que sola me basto

domingo, 10 de maio de 2020

e foda-se o amor também

eu baixei o tinder semana passada, e passei quatro dias passeando entre países.
das várias pessoas divertidas com quem conversei, dos tarados de quem fugi (e pros que dei corda também!), dos perfis bizarros que tirei print...
um parecia promissor.
um era meu número, em absolutamente tudo.
depois de muita prosa, o meu coração de leitora de romance IMEDIATAMENTE pensou "opa".

mas daí hoje eu lembrei que romance não é real pra todo mundo.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Foda-se essa merda

Ontem eu consegui assistir um vídeo inteiro em francês, com legenda em francês e entendi tudo. Chorei.
Hoje chegou um e-mail do CEJ anunciando bolsa de Doutorado em Cambridge, pra estudos de Literatura Hebraica e Cinema Israelense. Além do mestrado, a outra exigência era fluência em hebraico moderno. Chorei também.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Can't stop

São Paulo era a melhor cidade pra ser sozinha. De alguma forma, o solitário de São Paulo era diferente, e doía de uma forma diferente. Talvez por ser uma cidade que quase nunca para, é fácil olhar pra fora e sorrir com tudo se movendo enquanto você tá lá se sentindo uma planta amarela e medrosa. Era menos patético sentir pena de mim mesma em São Paulo.
É enlouquecedor ficar sozinha com meus pensamentos. Faz com que eu me lembre que não consigo ficar sem fazer nada. Eu estou sempre fazendo alguma coisa. E agora que estou há tanto tempo sem me mover, sem ver estranhos que povoam meus contos mentais e meus sonhos, eu percebi que gosto mesmo é de estar sozinha... Na multidão.




"The world I love, the tears I drop to be part of the wave, can't stop
Ever wonder if it's all for you?
The world I love, the trains I hop to be part of the wave, can't stop
Come and tell me when it's time to" 


quarta-feira, 15 de abril de 2020

derrotada

2h da manhã e eu me segurando pra não levantar e limpar o banheiro e o quarto

terça-feira, 14 de abril de 2020

Black

I've always liked my hands, even when they weren't perfect. I once said they were the only part of me that felt "adult". Now that I'm way past the actual adult age, but I still feel like a teenager, I'm back at thinking about my hands, and how I like them specially when they have black on them.
Maybe I need to wear black all the time, until I feel any connection with what I am and what I feel. 

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Pesadelos e transtorno obsessivo compulsivo

Arrumo todos as sacolas, malas e pilhas de objetos que estão na sala. Abro gavetas cheias de meias, e sei que elas devem ir. Gosto de coisas velhas, de coisas usadas, mas todas as meias devem ir. Mato insetos. Assim que eu acordar, vou separar tudo o que não uso. Todas as minhas coisas vão caber em duas malas. Um dia vão caber em uma só. Não sei onde vai ser minha próxima casa, e enquanto não sei isso, minhas coisas tem que caber em duas malas. Eu preciso me descobrir, pra conseguir ter menos. Não sei como, mas sei que vou conseguir ter só uma mala quando isso acontecer.
Tenho pensamentos recorrentes com tudo que tenho nojo. Acho que eu deveria voltar a tomar lexapro e bupropiona. O enjoo é constante. É horrível. Ouvir sotaque do sul me deixa irritada. Também é horrível. Queria uma semana em silêncio, em um lugar em que conheço ninguém. Será que minha cabeça deixaria de pensar em coisas asquerosas se não estivesse tão obcecada com limpeza?
Eu me sinto suja.
Não gosto de grandes quantidade de água concentrada, mas queria estar em um rio de água doce e gelada, com o sol queimando o corpo. 

segunda-feira, 6 de abril de 2020

"Não sei. Só sei que foi assim"

Não consigo mais dormir antes de 1h da manhã, mas sigo tentando acordar entre 8h e 9h. Minha sobrancelha tá caindo, a dermatite veio com força total e não consigo parar de comer. Vou tentar ler tudo o que preciso essa semana, e começar a escrever semana que vem. Vou mandar e-mails pros meus professores, enviar a carta pro Chris e talvez começar a fazer dieta de novo. Vai fazer um mês que começou tudo isso e eu fiz absolutamente nada do que deveria fazer. Pelo menos três semanas foram de pânico total. Tenho me acalmado nos últimos dias, mas ao mesmo tempo sinto tudo isso aí de cima, e umas palpitações esquisitas. Meus pais me ligam pra me acalmar, eu sinto um desespero - "e se alguma coisa acontecer com eles ou com o Julio?" -  mas me forço a não pensar nisso. 
Hoje de madrugada eu ouvi o tal barulho do céu. 
Senti um senso de comunidade bizarro ouvindo o tal barulho (que parece de duas placas de metal se chocando ou algo assim), e acordei me sentindo diferente. Não sei porque. Os últimos meses tem sido exclusivamente disso: um grande não sei. Não sei porque, não sei se quero. Eu queria estar trabalhando pra pagar uma terapia pelo menos. 

quinta-feira, 2 de abril de 2020

E vamos de Dolores Duran no escuro.

Tudo o que eu faço é sentir medo e tentar fugir dos meus próprios pensamentos sobre o futuro do mundo e meu futuro acadêmico.
Curiosamente, além do nu metal e dos animes (que me fazem voltar a um passado seguro), o que mais me vêm à mente é minha vida amorosa.



sexta-feira, 27 de março de 2020

Dissociação

Meia noite e quarenta e três.
Eu leio um romance de banca de uma série longa que comecei ano passado, porque decidi que merecia. Hoje foi difícil. Dos dias de desespero, hoje foi o de pânico total: chorei no meio de uma aula por videoconferência, pensei em me cortar, abri o site e passagens pra comprar uma passagem e ir embora, chorei abraçada com a Denisse.
Eu merecia algumas horas sem pensar no mundo, no Brasil, no mestrado, na minha vida profissional ou na minha vida amorosa. Não sei de nada. Não posso fazer nenhum plano. Mas por um momento vou focar minhas energias em acompanhar um casal fictício fofinho.
Seu Manuel assiste TV no quarto dele e eu consigo ouvir a música de alguma propaganda triste. De repente, um estalo: eu estou longe de tudo. Essa não é minha casa. Eu estou aqui há seis meses, e ainda não é minha casa. Esses braços que eu olho nesse exato momento são estranhos, e estão crescendo. Eu engordei muito esses dias. O ar fica esquisito. Eu não sei o que estou fazendo aqui. Viro pra frente e vejo as fotos dos meus amigos e da minha família, penduradas na frente da minha cama. Começo a chorar enquanto escrevo. Olho pras minhas mãos, pra ter certeza que são minhas mesmo. Seu Manuel desligou a TV, não vou mais ouvir a música que despertou isso, seja lá o que isso seja. 

segunda-feira, 23 de março de 2020

I can't seem to make you mine

Acho que foi o tom de voz. Você sempre falou mansinho, e eu achava que era só algo cultural, mas no final da contas parece ser algo seu mesmo, de ser muito doce. Antes era só por te achar uma figura curiosa: o cabelo meio comprido, a figura comprida, as roupas sempre pretas e várias camadas, como se você estivesse sempre com frio. Isso parecia curioso também, porque na minha cabeça você devia estar acostumado com o clima chuvoso, frio e à atmosfera cinzenta do lugar - e aqui estou eu, agindo como se o amor ao sol e o uso de várias camadas fossem minha propriedade... Um comportamente clássico meu. Eu achava curioso, até descobrir que você era realmente tranquilo, e não era tão cheio de machismo quanto os outros. Acho que alguma coisa mudou em mim assim que descobri, com um clique. 
Então vieram os sorrisos cúmplices; compartilhados pela raiva, pelo escárnio de quem não queria estar ali, ouvindo um monte de besteiras ditas por alguém cujo ego deve ser do tamanho da Serra da Estrela. E você ficou mais doce ainda. E eu curiosa, pensando em como as coisas mudam, se algo pequeno acontece. Ou se as circunstâncias mudam levemente. 
Eu espero que você não fume, como todo mundo aqui. Não combinaria com você.
Eu aposto que você é doce em todos os sentidos.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Ariana Grande cantando Focus em meus ouvidos até entrar no cérebro

Eu não consigo me concentrar em absolutamente nada do Mestrado. Hoje passei o dia transcrevendo mais de 100 perguntas de uma prova (coisas que mãe pede e a gente faz) ouvindo Paganini, toda encurvada na cadeira dura do quarto sem uma mesa - seu Manuel tá na sala trabalhando. Sinto uma coceira insuportável (urticária nervosa? alergia da gata? uma mistura dos dois? o tempo dirá), falta de ar e o coração apertado de nervoso, e uma sensação muito forte de que o mundo do jeito que a gente conhece vai mudar. 
Segunda, na minha aula sobre exílio, minha professora passou metade do tempo falando sobre o medo, e o ser exilado que sofre como uma quebra de subjetividade quando o externo é modificado. Eu quis chorar.
É muito esquisito pensar que se eu estivesse em Porto Velho, protegida, próxima da minha família, eu não estaria sentindo metade disso.

Hoje só Chopin vai conseguir me entender.


segunda-feira, 16 de março de 2020

Epidemia, até agora.

Quarta-feira eu tive uma crise pânico. 
Eu ainda teria aula quinta. Todas as universidades do país tinham parado, menos a Universidade do Porto. Eu abria o twitter e via notícias assustadoras da Itália - gente morrendo aos montes, gente presa em casa com corpos, gente fora dos grupos de risco na UTI - e ficava sem conseguir respirar, pensando que iria faltar aula de qualquer maneira. Quarta à noite, depois de chorar e passar o dia sem conseguir respirar direito, recebo um e-mail da FLUP: aulas canceladas por tempo indeterminado. 
Na quinta de manhã, meu senhorio avisa que nós devemos nos preparar; a Merkel ("aquela que manda na Europa de verdade") avisou que entre 60-80% da população vai pegar coronavírus se as coisas continuarem como estão. Fomos ao mercado, compramos coisa pra mais ou menos duas semanas sem sair de casa pra absolutamente nada. Tudo normal. O mercado é dentro do shopping, numa área nobre da cidade, então não é cheio normalmente. Meu senhorio avisa que as redes maiores já estão com as prateleiras vazias, que os mercados estão regulando os produtos (as pessoas estão em pânico, e estocando comida pra meses) e a entrada de pessoas.
Eu e Denisse, minha colega de apartamento, fazemos um pacto: vamos não ler notícias. Ou ler menos. Já sabemos o que fazer, vamos ficar em casa e pronto. Fazemos piada, ouvimos o remix da Cardi B falando coronavírus. Começamos a ver os vídeos de italianos cantando nas sacadas, e comentamos como deve ser difícil pra qualquer pessoa da França pra baixo - italianos, espanhóis, gregos, portugueses - não abraçar ou beijar alguém. "Uma coisa é dizer pra um dinamarquês não manter contato físico. Mas imagina pra um italiano? É igual dizer pra um brasileiro. Uma hora a gente vai sentir".
Portugal começa a ficar caótico. É um país cheio de velhinhos, é relativamente desorganizado, e o sistema de saúde pública é complicado em tempos normais (principalmente pra consultas). Se mais pessoas ficarem doentes, a situação seria mais difícil que na Itália. Não existe mais maneira de escapar das notícias sobre coronavírus - é só o que passa na tv. Meu senhorio fala de álcool em gel, e eu coloco na cozinha meu vidro que comprei assim que cheguei. Quando tudo isso passar eu compro um novo.
Cancelo minha viagem pra Oslo. Compro passagens pra Itália em junho. Estou agarrada à esperança de que no final de junho isso já vai ter passado. 
Começo a ler notícias boas da China, e sobre como os países asiáticos souberam lidar melhor com a epidemia. A China mandou aparelhos e médicos pra Itália. Minha admiração pelo oriente só aumenta. O ocidente é uma grande falácia, com muito mais gente egoísta que altruísta.

Quando isso acabar, eu vou começar a estudar chinês.

sábado, 7 de março de 2020

Propice

fones de ouvido com runaway
vento frio no rosto, mãos geladas
algumas cervejas, alguns gritos de tequila seguidos de risada
ou uma noite pensando no que não foi

"And I always find, yeah I always find something wrong
You been putting up with my shit just way too long
I'm so gifted at finding what I don't like the most
So I think it's time for us to have a toast
Let's have a toast for the douche bags
Let's have a toast for the assholes
Let's have a toast for the scumbags
Every one of them that I know
Let's have a toast for the jerk offs
That'll never take work off
Baby, I got a plan


Run away fast as you can"

quinta-feira, 5 de março de 2020

Não útil

Pinto os quadradinhos da folha de anotações, enquanto olho os azulejos organizados como um tabuleiro de xadrez. Isso é realmente pra mim?, penso. Talvez eu esteja insistindo em algo que não é pra mim, e que não vai me dar futuro.
Talvez isso tudo seja pra uma casta social da qual eu não faço parte, e que ser comum não seja a norma aqui. Isso é realmente pra mim?, penso de novo.
Desistir é uma opção, mas tem tanto peso e tantas expectativas envolvidas, que praticamente não é uma opção.
Meu quarto está uma bagunça, meu computador, meu telefone, e mesmo achando que faço muito, faço muito pouco.
Isso é realmente pra mim?


Talvez eu não mereça essa chance.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Dia 29

Chego ao final do mês sem conseguir engolir de tanta dor na garganta, mas já com os antibióticos comprados (e um tomado). 
Tenho muita coisa pra fazer e não consigo pensar direito em nada. Vou me refugiar em listas, agendas e horários pra conseguir fazer tudo.
Estar atarefada é mais fácil que pensar.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Dia 28


Hoje vi Little Women no cinema, e foi uma catarse tão grande, que achei que fosse chegar em casa e chorar sentada no chão do quarto.
Crescer é difícil demais. Como minha adolescência foi dolorosa, mesmo sem privações financeiras. Mesmo sendo pobre menina rica, como foi doloroso. O começo da vida adulta também. Todos os sentimentos que eu senti no passado voltaram em minutos do filme, e tudo o que eu ainda sinto em relação ao amor voltou. Tudo o que ainda é doloroso e difícil.
Amanhã eu provavelmente vou me arrepender de ter falado isso: mas quando minha hora vai chegar? 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Dia 27

Querido Marte,
Hoje o meu dia foi bom. Não foi tão bom quanto no ano passado - mesmo cercada de pessoas recém-conhecidas, eu estava de férias, tinha acabado de formar (os sonhos ainda estavam frescos na memória), gritei qualquer coisa na frente do Mar da Galileia, dancei e cantei com estranhos na chuva e bebi tanto arak que não lembro de nada ruim. Mas são anos diferentes, e situações diferentes. 
Eu fui ao médico, depois fui à aula, e pela primeira vez acho que vou conseguir responder todo mundo que me enviou mensagens. Você me lê, não lê, Marte? Então você sabe que eu tenho um problema com mensagens. Eu sou lenta pra respondê-las. É terrível. Já me custou amizades.
Eu cantei parabéns com minha colega de apartamento, e comi um bolo de cenoura com tanto chocolate que não consigo nem descrever. Tinha bala de goma de melancia em cima. Não fez muito sentido, não combinou com o bolo de aniverário de alguém que fez 27 anos, mas eu sou assim, não é? Estou aqui vivendo essa juventuda tardiamente, e às vezes me sinto mais próxima dos 20 e menos dos 30. Mesmo já tendo 30 na minha cabeça. É meu jeitinho, bem dramático.
Eu já disse isso em algum ano anterior, mas todos os anos eu espero pelas sua mensagem do dia 27 de fevereiro. Virou uma tradição minha também. É a coisa mais de livro que eu vivo - e você provavelmente sabe que eu amo essa sensação de estar vivendo algo parecido com algo de livro. Eu não sei nada de você, e você sabe dos meus pensamentos mais íntimos, que estão todos aqui nesse blog desde os mes 14 anos. Eu acho fantástico. Já fui muito mais ansiosa nisso de saber algo sobre você, mas o tempo me fez alguém menos curiosa. Hoje eu fico feliz só com a mensagem. O que vier além disso é lucro.

Meu médico me passou antibióticos, anti-inflamatórios e corticóides. Mas eu recebo com carinho o abraço e o cafuné enviados. Li o post scriptum com um sorriso no rosto.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Dia 26


Eu queria ter viajado pra Londres, pra ficar perto de amigos próximos e me sentir mais em casa. Eu provavelmente choraria pensando que fiz 17 anos la, e estaria fazendo 27. Não deu. Sigo doente, e amanhã tenho médico (que marquei dia 30 de janeiro, no auge da febre causada pela gripe horrorosa que peguei). Minha garganta segue inflamada, minha cabeça machucada de tanta dermatite, tenho cólicas, deveria ter lido alguns textos pra amanhã, mas comi M&Ms de amendoim e vi Brooklyn 99 com uma bolsa de água quente em cima da barriga.
Meu irmão me deu notícias boas, e fiquei mais tranquila. Meu cérebro ridículo - que não consegue se acalmar por mais de 30 minutos - já começou a se preocupar com outras coisas da vida; trabalho, dinheiro, detalhes de viagem. Parei de pensar neles, e instantaneamente minha garganta começou a doer mais. Assim como tudo que acontece comigo: foi emocional, e cheguei à conclusão de que preciso de terapia. Então eu comecei a olhar site de roupas, pra procurar calças e camisas pretas. Lembrei do ponto exato em que virei alguém consumista pra afogar as mágoas da vida, lá em 2015, no terceiro ano de São Paulo, depois de um pé na bunda.
Estou solteira há 5 anos. Já?
Também notei que engordei, e assim que tudo de chocolate do meu armário acabar, vou voltar a fazer alguma espécie de dieta. Amanhã não: vou comer bolo de cenoura e tomar refrigerante.
Talvez eu escute Erik Satie e chore enquanto caminho até o clínico geral da universidade. Tenho aula à tarde; ter aula no meu aniversário me lembra quando eu tive prova da minha matéria nemesis no terceiro ano do ensino médio (química), e ninguém ligou pra mim (meu aniversário: o único dia do ano que eu quero toda a atenção do mundo). Eu terminei o dia vendo algum filme triste na sala da casa, e meus pais quiseram compensar me dando o teatro completo do Shakespeare no outro dia. Não adiantou. Poor little rich girl.
Em 2014 eu passei sozinha no quarto, na pensão que eu morava, e comi uma mini torta de morango de uma padaria duvidosa da rua que eu morava no Jardim Bonfiglioli. Passei mal depois. Meu ex-namorado sociopata nem tentou ir me ver. Também foi um dia ruim.
Eu tenho certeza que amanhã não vai ser um dia ruim. Mas por que eu estou chorando enquanto escrevo esse post, com a sensação de que vai ser? 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Dia 25

Hoje eu li um texto do Edward Said sobre o exílio, e passei parte do dia pensando em como as experiência de estar fora - seja como exilado, expatriado, imigrante ou refugiado - modifica alguém.
Eu sempre me senti fora. Fora dos meus costumes, dos grupos que me rodeavam. Então eu saí da minha terra, e vi como ela estava em mim, de maneiras que eu nunca nem imaginei. Foi estando fora que eu passei a me sentir pertencente a algo; o problema é que agora esse algo estava distante. E eu estou sempre querendo ir pra mais longe, e cada dia mais conectada com a minha origem: seja ela a América Latina, o Brasil, a Amazônia, Rondônia ou Porto Velho.
Dia 27 eu vou jantar num restaurante brasileiro comer Baião de dois com farofa e macaxeira. Vou tomar um açaí no restaurante amazonense antes. No outro dia tem festa no Dona Arepa, e minha segunda casa aqui no Porto - a Venezuela - também vai fazer parte da minha celebração. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Dia 24

Eu não aguento mais estar doente.
Minha garganta ainda dói. Hoje tive aulas (em plena segunda de carnaval! como dói também estar longe do Brasil), e foram boas. Consegui tirar o aplicativo do twitter do celular, ganhei um copo retrátril da Denisse. Tenho muito o que ler, muito o que responder e muito o que fazer, mas hoje vou dormir mais tranquila.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Dia 23

Passei o dia em casa, tentando me recuperar. 
Ainda penso sem parar no problema do meu irmão, a ponto de me dar uma dor de estômago bizarra. 
Eu me martírio o tempo todo por ser responsável demais a ponto de não viver, mas sempre agradeço à força que me faz ser quadrada quando alguém aparece com um problema causado por pura irresponsabilidade. 

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Dia 22

Meu irmão me jogou no colo uma bomba que ativou gatilhos que eu nem lembrava que tinha. 
Agora tô aqui, doente e com crise de refluxo de tanto nervoso... Sem poder fazer nada. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Dia 21

Hoje encontrei o João, um amigo que fiz no Direito em Pelotas. Nós tínhamos nos encontrado pela última vez em 2017; foi estranho perceber como o tempo é relativo. Parecia que tinha sido ontem, mas foi há 3 anos. Uma mundo de coisas aconteceu. Ele se mudou de volta pra Porto Alegre, eu me formei. Foi estranho ouvir ele falar como eu pareço mais velha: não fisicamente, mas de experiências. "Quando eu te conheci, tu não tinha beijado na boca e não bebia. Só foi há 10 anos."
2011: parece ontem, mas foi há uma vida. 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Dia 20

Querido Deus: que minha garganta não siga inflamada até o dia do meu aniversário. Eu quero comer Baião de dois com macaxeira, e quero sentir o gosto.
Obrigada. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Dia 19

Fui à Coimbra, só pra ficar doente de novo e enlouquecida com os atrasos na minha agenda. Mas acho que valeu a pena.
Acho.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Dia 18

Dormir metade do dia e na outra metade tomar meio litro de energético pra conseguir escrever: total e completa energia de 2018 - depressiva, ansiosa e atarefada com TGI.
Metade do tempo em que eu olhei pra tela em branco, eu pensei que o emprego perfeito pra mim é o de personal organizer.

E talvez eu faça meu currículo pensando nisso.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Dia 17

Que cansaço. 
Não sei como gente que não tem 20 anos consegue viver na esbórnia; eu parei hoje, e tive que tomar um resfenol porque sinto o resfriado (pós 3 semanas de gripe!!!!!!!!) vindo. 
Mas o ótimo desses dias foi descobrir que por mais cansada que eu fique de interação social, eu tenho mais traquejo que eu imagino ter.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Dia 16

A ressaca moral: eu precisava passar por isso pelo menos uma vez na vida.

Dia 15


Nathalia veio de Lisboa, e fomos no Erasmus (o bar onde a caneca de cerveja é 2 euros).
Pela primeira vez na vida, eu bebi a ponto de vomitar na rua e abraçar o vaso sanitário.
Eu só consigo achar essa juventude tardia... Hilária.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Dia 14

Eu poderia estar triste nesse dia dos namorados, mas eu vou sair pra beber e dançar Beyoncé.

Dia 13

Novamente escrevendo no dia seguinte, pq cheguei tarde demais ontem.
O que é bom, certo?
Eu gostei das minha aulas de ontem.
Meu professor de estética literária fala num tom de voz tranquilo, e num ritmo mais calmo (diferente de todos os outros professores), então eu consegui ficar 3h ouvindo ele falar sobre as coisas mais aleatórias sobre arte, o belo, o moral, Kant e cia ltda sem pirar. Minha outra matéria vai ser útil, porque eu vou conseguir falar sobre as Novas Cartas Portuguesas.
Depois da aula eu fui até o hostel da Panna comer comida húngara e conversar. Acabei escrevendo o pedaço de uma carta em húngaro, e brincando de aprender essa língua tão difícil.

Nathalia vem pra cá no final de semana... O que significa que vou ter só dois dias pra finalizar um trabalho. 
Mas eu não ligo. 
É a primeira vez que me divirto no meio da semana, e não coloco meus estudos em primeiro lugar. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Dia 12

Hoje caminhando pela cidade com a Panna, eu percebi que falo muito pouco. É bizarro porque eu sempre acho que falo demais, até ter que conversar com alguém; se eu preciso conversar, eu entro 100% no modo ouvidos e no modo "posso caminhar em silêncio por muito tempo". 
Eu gosto quando encontro pessoas que também gostam de silêncio. 

Comprei caramelos mentolados e uma sacola de arco-íris. Saí de rímel pelo terceiro dia seguido e me senti bem. Meu cartão de residência chegou. Eu estou livre agora. Chorei enquanto mandava foto dele pros meus pais. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Dia 11

Postando de madrugada, porque acabei de chegar em casa num estado deplorável. Eu não bebi muito, mas cheguei no quase no limite da dignidade humana - mas tomei banho, escovei os dentes e joguei uma água de rosas no rosto. Limpei minha bota também.
Fui beber com a Panna, uma amiga húngara que fiz em Israel. Paguei um drink pra um alemão. Ele me pagou um drink.
Eu gosto de brincar de ser jovem.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Dia 10

Hoje voltei a ter aulas.
Ainda estou frustrada por ter esquecido de escrever ontem; ontem eu fiz absolutamente nada, o que só piora a sensação de culpa por ter quebrado um pacto que fiz comigo mesma. 
Mas hoje foi... bom. Eu acordei 3h da manhã, provavelmente com alguma notificação do celular - que não fica mais no silencioso; assim que eu responder todas as mensagens que devo responder, eu não vou me esconder mais de ninguém - e fiquei assistindo Brooklyn 99 até ter sono de novo, próximo das 5h. Levantei tarde, com uma dor tenebrosa nos ombros e no pescoço e tive que tomar chai e levar chá preto pra aula. O que foi bom, porque só me provou que eu preciso do mínimo de cafeína se quiser tirar algum proveito das minhas aulas. O fato de ter menos gente na sala de aula também ajudou; eu não consigo me esconder se só tem cinco pessoas na sala, então acabo prestando atenção. Manter o celular na bolsa também ajudou, então vou seguir com esse modus operandi do telefone só em casa (até eu responder todas as mensagens!!!!!!!!!!!!!). Minhas matérias vão ter uso na dissertação. Eu saí feliz da universidade, e meu dia foi proveitoso só por isso: das cinco matérias, pelo menos essas de segunda-feira (até agora) vão. ser. úteis. Eu sabia o quanto queria isso, mas não sabia o quão feliz e aliviada ficaria com isso.
Em uma delas, vamos falar sobre o exílio. Eu vou voltar a poder falar do Aharon Appelfeld. Baruch Ashem!

Quase não tossi. Meu cartão de residência ainda não chegou. Amanhã vou buscar a Panna, minha colega húngara, no aeroporto e vou dar role com ela. Talvez eu vá pra Londres no meu aniversário. Talvez eu vá pra Oslo em abril.  

Dia 9

Ontem eu passei o dia deitada sem fazer nada e esqueci de escrever.
É só mais uma prova de que quanto menos coisas eu faço, mas eu esqueço de tudo. 
E eu odeio esquecer coisas e quebrar rituais. 

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Dia 8

Hoje eu postei algo no Instagram, comi amendoim japonês e jujuba de menta. 
Eu ainda não terminei de responder todo mundo que eu queria responder, mas postei algo no Instagram porque tive vontade. Ainda com muita culpa por estar online, por ter esse comportamento esquisito em redes sociais, mas postei.
Eu também me dei conta de que se eu tivesse meu cartão de residência na mão, eu já teria feito alguma loucura, tipo comprado uma passagem pra Oslo, pra Londres, ou pra qualquer lugar que eu tenho amigos que não me lembrem que eu preciso de um emprego e fazer meus trabalhos do mestrado. Eu gosto mesmo é de fugir. Mesmo encarando tudo, se eu tenho a chance, eu gosto e fugir. 
Talvez essa residência não tenha chegado pelo correio até agora justamente por isso. 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Dia 7

Hoje eu falei abertamente sobre homens com um antigo colega de trabalho. 
Não do jeito que eu sempre falo: contida, com vergonha, como se eu tivesse vergonha de ser mulher.
Eu falei bobagem. Besteira mesmo. Falei de pinto, de óleo da bota, da maneira mais escrachada e natural pra qualquer pessoa da minha idade. Eu nunca me dou conta de como falar bobagem sobre homem, algo que me fez ter vergonha por anos, é libertador.
É difícil sentir embaraço por ser um ser sexual, mas de piada em piada, eu vou desconstruindo isso.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Dia 6

Minha mãe tinha 27 anos quando me teve. 
Eu vou fazer 27 anos em duas semanas, e além de não ter um emprego, não tenho nem possibilidade de namorar alguém, ter um filho, casar, o que seja.
Claro que são outros tempos, mas eu nunca tinha pensado nessa perspectiva. Mas eu também nunca tinha pensado em casar e ter uma família, até o ano passado. É incrível pensar que algo que não tinha importância alguma até alguns meses, pode virar algo quase prioritário na minha vida. Eu consigo imaginar o que minha terapeuta me perguntaria sobre isso. O que não consigo fazer, é agir pra mudar as coisas do estado em que estão.
Envelhecer é maravilhoso e assustador.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Dia 5

Hoje eu enviei a carta do Chris, e já estou pensando em quando receber a resposta.
É isso. Eu preciso desacelerar em todos os sentidos. Eu não percebi o quanto eu sentia saudade de esperar por algo. Talvez muito da minha ansiedade, que já existia quando eu não vivia online, não vivia querendo me informar, esteja nisso: em ter que ser rápida sempre. Eu preciso ser devagar. Eu preciso de tempo pra aprender muita coisa, e estando sempre rápida, eu fico cheia de informação e acabo aprendendo nada de verdade - ou nada que me faça me sentir feliz. 
E sabe de uma coisa?
Acho que se eu ficar menos online, eu vou conseguir ser muito mais presente na vida dos meus amigos, e não vou hiperventilar toda vez que a notificação de mensagem chegar. Não sei exatamente como, eu tenho quase certeza que eu vou melhorar se tentar.


Fiz chá de limão, gengibre e mel, e a tosse melhorou consideravelmente. Também ouvi o Shape of a broken heart, da Imany, e lembrei do meu amor por músicas tristes.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Dia 4

Terminei de ver Evangelion.
Comecei ano passado, e assim como Buffy, fui vendo aos poucos (eu parei de ver Buffy porque saiu da Netflix. Esse é meu ritmo vendo série com mais de 10 episódios) até o episódio 17... E hoje terminei. A impressão que tive é que foi tudo se arrastando até o episódio 17, e do 18 pra frente vira gritaria e dedo no cu - eu sentei pra ver no sofá e não consegui mais levantar, nem pra pegar meu remédio de tosse. 
Eu chorei, e não lembro da última vez que chorei vendo algo na netflix. 
Só conseguia pensar em como minha adolescência teria sido diferente se eu tivesse visto isso com 14 anos, quando comecei a ficar seriamente triste, e só conseguia me odiar e achar que estava sozinha. Não me importou que os dois últimos episódios tenham sido escritos pela Clarice Lispector (como o Thiago falou, fazendo piada), e eu tenha penado pra acompanhar o fluxo de consciência legendado em espanhol enquanto lacrimejava; talvez isso tenha tornado o final mais poético ainda, e a tristeza do que estava por trás de tudo melhorou. 
Assistam Evangelion. Coloquem os adolescentes que fazem parte da vida de vocês pra assistir Evangelion. Eu saio desses 26 episódios como outra pessoa. 

Sigo tossindo. Amanhã vou fazer um balde de chá de limão com gengibre e mel, e jogar nas mãos de Jesus.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Dia 3

Hoje eu escrevi uma carta.
Ano passado, um alemão caiu no meu colo em Jerusalém. Não literalmente, mas quase isso. No primeiro final de semana de folga que eu e Nathalia tivemos do workaway, fomos pra Jerusalém. Como nós somos duas velhas, ficamos no saguão do Abraham hostel, e esse moço alemão ficava olhando pra gente como se quisesse conversar. Como eu estou acostumada com a Nathalia (que tem quase fobia social), eu puxei assunto. Ele tinha 20 e poucos anos (menos que eu), tinha acabado alguma coisa de técnica em construção na Alemanha, não tinha rede sociais e estava em Israel procurando estágio. Ele era bem travado, bem alemão, mas eu, como sempre, soterrei o desconhecido de perguntas e achei inofensivo. No outro dia fomos juntos ao Yad Vashem, e tiramos uma foto na máquina analógica antiga dele no final do museu, já na frente da floresta. Uma das minhas amigas israelenses comentou rindo que essa história era o começo de uma piada de humor negro: conheci um alemão e fui com ele até o Yad Vashem. Eu rio de nervoso quando penso nesse comentário dela.
Eu dei a ele meu número de telefone. Um mês depois ele me liga e diz que me enviou uma carta. Fui até a caixa postal do hostel em Tiberiades, e sim, tinha carta dele, escrita em caneta tinteiro e falando que ele tinha decidido trabalhar em uma fazenda no sul do país. Ele me ligou de novo, e ficou combinado que ele me encontraria em Tel Aviv antes de eu ir embora.
Ele realmente foi até Jaffa, e ficou no mesmo hostel que eu. Andamos boa parte de Tel Aviv atrás de meias de algodão, um sapato de couro e filme pra câmera dele. Eu paguei um almoço. Ele pagou um jantar. Ele me contou que não tinha redes sociais, e que tinha como hobby ir pras feiras em que se vivia como no século retrasado (por isso as meias de algodão e a roupa vintage). Ele pediu pra colocar os braços em volta de mim, e disse que eu podia encostar nele se estivesse frio. Quando eu percebi as intenções, eu já tinha que ir embora, e o Chris (esse é o nome dele) ficou sendo uma história boa pra contar - absolutamente todo mundo quer me bater quando eu conto, e pergunta porque eu não fiz a brasileira e beijei de uma vez. Eu digo que não percebi na hora. Eu realmente não percebi, e quando percebi, achei que era brincadeira. Eu sempre acho que é - e um contato no telefone.
Quando eu mudei pra Portugal, avisei os amigos que fiz em Israel que poderia ir visitá-los; o Chris foi um deles. Nós trocamos endereços pra trocar cartas, porque eu decidi que usaria menos redes sociais e diminuiria meu ritmo, pra ver se me encontro. Então hoje eu escrevi essa carta, em papel sem linha e falando de assuntos aleatórios. Foi divertido. Eu gosto de escrever à mão. Amanhã vou enviar e escrever mais cartas. Lembrar dessa história e escrever como se eu estivesse em 2006 fazem com que a pisciana que eu deixo de lado apareça.

Sigo com tosse, mas hoje fez 20 graus e eu me senti um pouco melhor. Ainda não sei o que fazer pro meu aniversário, mas já comecei a pensar.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Dia 2

Hoje parte do meu dia na cama foi vendo Evangelion, além de vídeos no YouTube. Parte do tempo que eu vejo Evangelion, eu fico pensando em como eu teria sido mais feliz se tivesse visto na adolescência. Evangelion tem tudo o que eu mais gostava quando era mais nova (e sigo gostando hoje): crise existencial, inadequação, raiva do pai e longos silêncios. Eu ia gostar de ter uma personagem que tem sentimentos conflitantes em relação ao pai como modelo. Talvez eu até conseguisse assistir tudo de uma vez - hoje eu acho muito pesado, só consigo assistir três episódios e troco pra alguma coisa bobinha. Enfim.
No último episódio que vi hoje, o Shinji (a personagem principal) toca aquele prelúdio famoso do Bach, o que me fez lembrar que eu estou decidida a ouvir compositores novos esse ano, e um pouco menos dos dramáticos de sempre (Mozart, Chopin, Liszt, Satie e Mahler).
Eu queria voltar a cantar, ou voltar pro piano. 

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Dia 1

Eu parei de tossir.
Também consegui levantar, limpar meu quarto, e ficar obcecada por lavar roupas e sapatos - chove há três dias, não seria muito prático lavar roupas e sapatos agora - e jogar soda cáustica na banheira. Também cnosegui ver uma série norueguesa, comecei a ver uma italiana, amanhã vou à missa, e quero responder todas as mensagens que tenho no whatsapp. 
Esse mês eu faço 27. 
Faço 27, e consigo lembrar de quando tinha 14 e imaginava que fazia 27. Eu tinha recém descoberto o Clube dos 27, e já tinha sintomas de depressão; eu ainda não queria sumir, só sentia coisas demais. 
Não acho que eu tenha virado o que eu esperava aos 27. Pra ser sincera, eu não tinha algo muito específico em mente. Eu acho que queria ter paz de espírito, mas sempre quis ter paz de espírito, e há alguns anos eu entendi que assim como felicidade, paz de espírito é sempre um caminho. Eu esperava estar satisfeita com trabalho, mas meu trabalho é a Academia, e estou bem longe de estar satisfeita com isso. Acho que nunca vou estar. Talvez seja hora de pensar melhor nisso. Eu não esperava que minha vida fosse virar a Academia, e também não esperava que fosse estar tão preocupada com amor. Acho um castigo digno de círculo do inferno pessoal: eu amar o amor, e ao mesmo tempo desgostar tanto de pensar no amor pra mim. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Legal

Hoje eu dei entrada no meu visto, e recebo minha residência em mais ou menos um mês.
Eu já tinha dado entrada no visto ano passado, antes de vir pro Porto, mas a burocracia portuguesa é maior que a brasileira; então eu fiquei presa aqui em Portugal desde o fim do meu visto de turista (de 11 de dezembro até quando chegar meu cartão de residência). Final de semana passado eu fui pra Lisboa e voltei tão doente, mas tão doente, que ontem passei o dia na cama - febre, uma tosse horrível e tanta dor no corpo que era ruim respirar) - provavelmente por conta de estresse por causa desse visto (imunidade baixa, cá estamos).
Eu me senti presa. Não conseguir trabalhar, não conseguir ter um número pro seguro de saúde, não conseguir sair do país (eu podia ter passado Natal e Ano Novo na Inglaterra, bem white people problem) me deixaram com um sentimento de "estou num limbo" que só me atrasou. Mas enfim. Hoje eu fiz a entrevista. No máximo daqui a um mês tenho meu cartão na mão. Estou tossindo tanto que meu peito dói, e to esperando a Denisse, minha colega de apartemento, trazer um combo vegetariano do McDonald's porque é a única coisa que eu consegui ter vontade de comer desde que meu apetite voltou.
Eu devia ter um termômetro e um aparelho de inalação aqui comigo, mas acho que só vou comprar quando estiver trabalhando. 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Mestrado

Eu escrevo cada vez menos pra mim e sou cada dia mais engolida pelo mundo.


(eu deveria estar escrevendo trabalhos, mas não aguento mais olhar pra tela do word)