quarta-feira, 12 de julho de 2023

Desafogar

 Todo mundo me pergunta sobre a minha tese, e eu não quero falar sobre ela. Primeiro porque não tenho muito gosto pelo que estou fazendo - tem algumas coisas que me interessam no assunto, mas a tese em si foi sendo moldada por orientadores, de uma forma que ficasse a gosto deles. Eu queria estudar literatura. Eu queria estudar uma escritora mulher, e fazer close reading do livro dela - podia até ser em hebraico, mesmo o hebraico (ou a falta do hebraico) sendo uma das principais causas da minha insônia, palpitações e episódios de compulsão alimentar. Eu não digo que odeio o que estou fazendo porque já trabalhei fazendo serviço braçal, e sei o cansaço que dá - mas ficar sentada na frente do computador e fazer qualquer coisa não seja trabalhar na minha tese não é bem um indicativo de que eu ame o que estou fazendo.

Eu acho que estou perdendo amigos. Meus amigos são todos do Brasil, e minha comunicação com eles é online; como a minha vida online está uma bagunça, eu sinto que não consigo manter o contato necessário pra manter uma amizade. É normal. São coisas da vida. São fases. Mas hoje eu me peguei pensando que preferia ser alguém offline que consegue responder e-mails de amigos do que ser alguém cronicamente online que sabe de onde vem todo e qualquer meme, mas se sente extremamente solitário.

(meu celular usa o toque de alerta do MSN pra qualquer notificação, e eu sei distinguir quando é mensagem do whatsapp e quando é e-mail. Ver a notificação do gmail faz meu coração acelerar. Sempre pode ser meu orientador perguntando por notícias. E eu sempre tô aqui, na mesma, sem avançar muito. Abrir o gmail me dá náusea; eu virei alguém que vive com náusea. Eu nunca li A Náusea do Sartre, mas sei que é um romance existencialista; mas olha... se não for sobre uma mulher que quase vomita antes de abrir o gmail, eu acho que vou adiar a leitura por alguns anos, até o fim do doutorado)

Meu mundinho aqui em Praga é muito pequeno, minúsculo. Eu preciso expandir esse mundo, mas não quero. Eu acho que não gosto das pessoas daqui. Eu tive uma prévia das pessoas daqui, e não gostei. Ou talvez eu só esteja em depressão ansiosa mesmo, e não consiga me conectar com absolutamente ninguém. Talvez eu seja uma versão não tão doente da mocinha do Meu ano de descanso e relaxamento - eu estou no começo do livro e já marquei vários trechos pavorosos do grande fluxo de consciência dela... será que devo me preocupar? Talvez essa maluquice seja algo em comum que todas nós, mocinhas que gostamos de história da arte e coisas tristes, tenhamos. 

Eu nunca tive tanto perfis em redes sociais como tenho agora. Todos são meio abandonados, porque eu odeio qualquer tipo de obrigatoriedade e constância, mas estou em todos, aguardando qual vai ser a rede premiada pós-derrocada do twitter. O twitter segue sendo meu palanque; eu não consigo acompanhar minha timeline (sigo quase 3 mil perfis, a maioria jornalistas e jornais) e quando falo sobre qualquer coisa que estou assistindo ou lendo, as mesmas cinco pessoas me respondem. É como meu blog em 2012. Todos os dias eu penso que vou ser forte o suficiente pra largar tudo e ficar só com meu blog, mas abro as outras redes por impulso, reflexo. Só mais uma prova de que não é saudável.