sexta-feira, 27 de março de 2020

Dissociação

Meia noite e quarenta e três.
Eu leio um romance de banca de uma série longa que comecei ano passado, porque decidi que merecia. Hoje foi difícil. Dos dias de desespero, hoje foi o de pânico total: chorei no meio de uma aula por videoconferência, pensei em me cortar, abri o site e passagens pra comprar uma passagem e ir embora, chorei abraçada com a Denisse.
Eu merecia algumas horas sem pensar no mundo, no Brasil, no mestrado, na minha vida profissional ou na minha vida amorosa. Não sei de nada. Não posso fazer nenhum plano. Mas por um momento vou focar minhas energias em acompanhar um casal fictício fofinho.
Seu Manuel assiste TV no quarto dele e eu consigo ouvir a música de alguma propaganda triste. De repente, um estalo: eu estou longe de tudo. Essa não é minha casa. Eu estou aqui há seis meses, e ainda não é minha casa. Esses braços que eu olho nesse exato momento são estranhos, e estão crescendo. Eu engordei muito esses dias. O ar fica esquisito. Eu não sei o que estou fazendo aqui. Viro pra frente e vejo as fotos dos meus amigos e da minha família, penduradas na frente da minha cama. Começo a chorar enquanto escrevo. Olho pras minhas mãos, pra ter certeza que são minhas mesmo. Seu Manuel desligou a TV, não vou mais ouvir a música que despertou isso, seja lá o que isso seja. 

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