segunda-feira, 30 de novembro de 2020

"we hope that you choke"

 eu nunca pensei que a raiva seria o meu sentimento mais paralisante

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Para todas as minhas amigas, que como eu, estão cansadas daquilo que não dá certo

Quando eu me mudei pra Portugal e conheci minha colega de apartamento, ela brincou que nós nos encontramos por um motivo: pra alcançarmos equilíbrio. Ela precisava de mais foco para estudar, e eu precisava me soltar mais na vida pessoal - sempre fui profissional em me afundar nos livros pra fugir de tudo, e ela me disse que sempre fez exatamente o contrário, então sempre teve muitos amigos e amores.

Antes da pandemia começar, eu tive vida social. Claro que à minha maneira; ainda com longos períodos de solidão e autocontemplação, muito pé atrás com qualquer pessoa que tentasse se aproximar, mas aproveitando as coisas de alguma forma. Eu me diverti, eu conversei com pessoas, eu saí de casa, eu até flertei com desconhecidos no balcão do bar, entre cervejas e shots de ginja. E por alguns momentos, no bar ou caminhando até o encontro do rio com o mar (bem naquela hora em que a sua cabeça não está concentrada em nada, e as ideias vêm de forma orgânica), eu pensei que talvez fosse hora de me abrir. "Talvez eu possa permitir procurar alguém, gostar de alguém... Eu já me formei, eu já sou adulta, eu... posso. Talvez eu deva". A culpa que eu sinto por não ter um emprego, por não estar no patamar da vida em que eu gostaria de estar... Nada disso importa quando esse pensamento orgânico vem; acho que porque eu percebi que gostaria muito de ter uma família minha, e que quado se conhece alguém, a construção das coisas é dos dois, e não só de um. 

Nesse meio tempo, eu conheci alguém que vou chamar aqui de Luz. A Luz era colega de classe da minha colega de apartamento; as duas tinham a mesma idade, mas vidas completamente diferentes. A Luz passou dez anos casada, separou e resolveu fazer o mestrado em outro país para ver o mundo. Eu imediatamente me conectei com ela; nós duas éramos excessivamente sensíveis (se é que isso existe!), românticas e curiosas. Ela estava tentando conhecer pessoas usando o método late millennial: aplicativos. Era engraçado ouvi-la pedindo dicas ("então existem emojis que podem ser algo sexual?") e falando dos caras com quem ela conversava; tirando a inaptidão com a tecnologia, nós duas éramos iguais. Eu também tive dificuldade para entender o que as pessoas procuravam, para entender as perguntas e frases cheias de camadas de intenções e também tive dificuldade para interpretar o silêncio. O silêncio quase sempre vinha. A construção de expectativa é inevitável - eu inclusive acho que já li em algum lugar que é a notificação que ativa aquela adrenalina que faz com que a gente se torne viciado. É um tipo de expectativa; seja a da mensagem nova, da descoberta de um ser humano novo, um universo novo que se colide com o seu, ou uma nova possibilidade. Quando você tem certeza do que quer, conhecer alguém sempre traz uma possibilidade, sempre traz uma... esperança.

Depois de uma desilusão que a Luz sofreu, eu e minha colega de apartamento conversamos sobre relacionamentos. Não lembro se foi depois de um jantar regado a vinho, ou um lanche da tarde regado a tanto bolo de chocolate que eu não tinha capacidade de responder (só ouvir), mas ela me disse que a Luz tinha essa dificuldade porque não sabia lidar com o "namoro moderno". Claro que o nome do Bauman, e as expressões "amor líquido" e "relações líquidas" surgiram. Minha colega de apartamento é alguém mais experiente e habituada ao tal "namoro moderno", e a tal fluidez que o namoro moderno proporciona. "As coisas andam rápido", ela me disse e seguiu com um "ou você se adapa, ou você se magoa muito e sofre". Eu assenti, mas depois fiquei pensando em pessoas como eu e a Luz, que levam um tempo para se curar de qualquer mágoa. A quebra de expectativa quase sempre gera uma ferida, e eu sempre tive bastante orgulho de me entender o suficiente para saber que preciso de tempo para me recuperar. Será que algum dia eu iria me adaptar a essa modernidade, mesmo ela não sendo assim tão boa para mim? 

Nesse mês em que eu me recupero de uma decepção amorosa, eu conversei bastante com meus amigos. Pela primeira vez na vida, eu consegui me abrir com pessoas que achei que pudessem entender; todas estavam longe de mim, no Brasil, mas o apoio foi fundamental para que eu parasse de chorar, saísse da cama, e passasse pelas fases do "luto" da maneira mais natural possível. Essas amigas (e esse amigo!) com quem conversei são parecidos comigo em um aspecto: todos se consideram (ou são considerados) "emocionados". Eu amo a versatilidade do termo, porque se parece deboche para alguns, pra outros é elogio. Eu, alguém que ama o Romantismo e o romantismo, não acho que sentir emoção quando há esse encontro entre duas pessoas seja algo ruim. Claro que meu lado racional (muito bem trabalhado por mais de uma década de terapia) sabe definir limites. O gostar é uma construção, o amor leva tempo, a confiança também, e até mesmo a criação de expectativas - tudo é um processo. E como uma amiga me disse (entre áudios inflamados) você não é paciente psiquiátrica, que cria coisas na cabeça do nada. Se você está sentindo algo que foi se desenvolvendo por um tempo, em uma relação (qualquer que seja o tipo) entre duas pessoas, é porque existe uma troca. Ação e reação. Depois disso, eu fiquei pensando nessas pessoas do amor líquido: será que elas pensam que as ações delas, por menores que sejam, não vão ter uma reação? Ou será que elas sabem, e simplesmente não ligam paara o efeito que podem ter numa vida alheia? Outra amiga me falou  (também entre áudios inflamados), que sente que "as relações são normalizadas com escrotidão". Analisando com um pouquinho mais de profundidade essa escrotidão, eu chego ao seguinte processo mental (de quem é filho da puta e sai por aí fazendo as coisas no automático, com a dita rapidez dos relacionamentos modernos): tudo bem fazer essa coisa x que pode magoar muito alguém que entrou na minha vida, que eu alimentei com esperanças. Tudo bem não ter respeito por esse alguém. Eu estou sendo honesto - não dando certezas! -, mesmo que minhas ações digam o contrário. Esta pessoa é só mais um número para mim; por que eu deveria me importar com o que ela sente?

Eu acho que as coisas são mais duras para quem sabe o que quer, e sabe que quer emocionado. Namorar nunca foi tão difícil, mesmo com esse mundo de possibilidades. É fácil encontrar pessoas. É fácil beijar, transar, e até mesmo ser honesto. Mas dar continuidade às coisas é tão difícil... O que eu sinto, e o que eu sinto de todas as pessoas com que conversei, é um cansaço enorme, uma frustração. "Eu não aguento mais, sabe. Não dar certo niguém", uma amiga disse. Eu entendo. Eu queria que todas nós nos juntássemos num grande karaokê, cheio de cerveja fria e abraços quentes. Esses momentos de alegria cega são o que dão esperança na vida, sabe? No fim das contas, por mais difícil que seja, por mais dolorido que seja tentar algo novo, criar expectativas mesmo tendo quase certeza que elas vão ser quebradas, é muito bonito ter esperança. E isso faz a caminhada valer a pena. 




sábado, 21 de novembro de 2020

Quase o fim

 Eu acho que não sinto mais vontade de chorar.

domingo, 8 de novembro de 2020

Anatomia do meu gostar, ou um mini estudo sobre passividade

 Eu nunca sei exatamente como começa, mas nos últimos dias fiz um exercício de memória com amores passados.

A primeira pessoa por quem eu me apaixonei era meu amigo. Ainda é, mas éramos muito mais próximos de convivência. Nós estudávamos juntos na escola, fazíamos inglês juntos, e quando não nos encontrávamos em ambiente escolar, ele vinha na minha casa ou eu ia na dele (morávamos perto um do outro). Ele me ouvia. Ele gostava das mesmas coisas que eu, e era intelectualmente estimulante. Ele escrevia, era sensível. Um dia eu acordei, e percebi que não gostava mais dele como amigo. Mas eram tempos difíceis dentro da minha cabeça - não que hoje seja mais fácil, mas antes era tudo muito mais confuso, e eu me sentia pior que me sinto hoje. Quando eu fui forçada a contar pra ele, passamos uma semana sem conversar. Eu adoeci. E a paixão passou, porque a amizade foi mais forte. Essa foi minha primeira lição: às vezes as coisas se confudem, e é preciso escolher o que priorizar.

A segunda pessoa por quem eu me apaixonei estava longe. Eu levei alguns meses até ver o rosto dele, ele raramente via o meu, mas nós nos achávamos engraçados de alguma forma. Ele me achava bonita. Ele dizia isso pra mim. Nós conversamos todos os dias, por três anos. Ele foi a primeira pessoa que fez eu me sentir desejada, a primeira pessoa que não tinha absolutamente nenhum motivo pra me encorajar e mesmo assim o fazia. Eu me apaixonei quando ele tirou uma foto minha tomando sorvete na sorveteria vegana da baixa Augusta, e depois me levou até o metrô Consolação de mãos dadas. Mas algo parecia errado. Dentro de mim, eu sentia que algo estava errado - seja porque parecia que estávamos fazendo tudo escondido, porque minha intuição dizia que ele não estava 100% ali comigo, como eu estava com ele. Quando acabou, e eu me senti desrespeitada (por diversas razões), eu entendi que paixão e amor precisavam ser cultivados. Essa foi minha segunda lição: as coisas mudam, as pessoas mudam e os sentimentos podem acabar.

A terceira pessoa por quem eu me apaixonei parecia perfeita pra mim. Nós dois falávamos a mesma língua de internet, ele era extremamente político, ele era carinhoso e me fazia rir. Nós tínhamos muito em comum. Ele parecia adulto e seguro, parecia ter feito todas as escolhas seguras que eu não fiz. Oficialmente nós nunca tivemos nada, mas por por mais de um ano eu fui o apoio emocional dele; com o tempo eu vi que ele não tinha certeza de nada, e que eu era o peso mais seguro da balança. Eu me acostumei a receber migalhas de afeto, e percebi que me adapto fácil demais ao que não é exatamente bom pra mim. Só um ano depois, quando eu consegui me abrir com alguém sobre a situação, eu entendi que não precisava sentir culpa por ter desistido, ou por não ter insistido em algo que seria só tarefa minha. Essa foi minha terceira lição: a forma com que eu me apaixono tem muito mais a ver comigo mesma do que com o outro. Por mais que eu ame o platônico, quando o real acontece, eu preciso estar preparada.

Eu não queria ter me apaixonado pela quarta pessoa por quem eu me apaixonei. Eu não achava que era a hora, eu estava muito ocupada. Mas eu sempre estou ocupada. Sempre tem uma pulga atrás da minha orelha dizendo que eu tenho que ser mais equilibrada, que eu devo dar uma chance pra algo novo quando esse algo novo aparece. Claro que depois que não dá certo - porque eu me iludo, porque a outra pessoa me ilude, porque a vida acontece - eu amaldiçoo essa pulga e qualquer outra pessoa que diz que eu devo me abrir, porque minha intuição nunca falha. Mas essa quarta pessoa era mais do mesmo - muito adulto, muito seguro, muitas coisas em comum... Outro intelectual, muito político, com gostos peculiares que me faziam rir, piadas que me faziam rir, mais experiência que eu. Outra pessoa que me dava alguma espécie de carinho, mas não o que eu precisava, não o que eu acho que eu mereço. Foi muito próximo do fim que eu percebi que tinha me apaixonado por ele, e consegui perceber exatamente quando aconteceu: foi na falta. Foi pela saudade. 

Com todos eles, sem exceção, eu nunca fui firme.

Eu nunca impus o meu querer, e sempre me deixei levar - tanto pelos meus sentimentos, quanto pelo agir deles. Eu fui passiva. Eu sou passiva. Eu deixo acontecer, e finalmente percebi que isso nunca vai dar certo comigo. Não adianta me proteger de todas as maneiras possíveis, pra no fim deixar que o outro me conduza, porque o caminho das rosas inicial sempre leva pra um abismo. Acho que essa vai ser minha quarta lição: não adianta nada eu entender qual é o meu tipo e saber o que eu quero, se eu não sei dar uma importância ao meu desejo; se eu não sei dar importância maior... a mim.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Preach

 "Love is awful. It’s awful. It’s painful. It’s frightening. It makes you doubt yourself, judge yourself, distance yourself from the other people in your life. It makes you selfish. It makes you creepy, makes you obsessed with your hair, makes you cruel, makes you say and do things you never thought you would do. It’s all any of us want, and it’s hell when we get there. 

So no wonder it’s something we don’t want to do on our own.

 I was taught if we’re born with love then life is about choosing the right place to put it. People talk about that a lot, feeling right, when it feels right it’s easy. But I’m not sure that’s true. It takes strength to know what’s right. And love isn’t something that weak people do. Being a romantic takes a hell of a lot of hope. I think what they mean is, when you find somebody that you love, it feels like hope."

(Fleabag, S2E06)


Pode até não acontecer comigo, mas existe e é bonito.


domingo, 1 de novembro de 2020

"você precisa de mais amigos, conhecer mais gente"

a coisa mais esquisita aconteceu
eu comecei a falar: falei, falei, falei.
contei do que se passava na minha cabeça pra todo mundo. e não sinto mais raiva. ainda não quero ver a pessoa que me magoou, mas não sinto raiva. ainda sinto mágoa, mas isso eu sei que passa com o tempo. 
eu realmente sei lidar melhor com tristeza do que com raiva. eu espero que o ponto de "sentir nada" chegue logo.
e também não acho que precise de mais amigos; foram os meus amigos, que me conhecem há mais tempo, que me ajudaram esses dias.
mas pela primeira vez na vida, eu consegui falar.
e isso me ajudou.