segunda-feira, 16 de março de 2020

Epidemia, até agora.

Quarta-feira eu tive uma crise pânico. 
Eu ainda teria aula quinta. Todas as universidades do país tinham parado, menos a Universidade do Porto. Eu abria o twitter e via notícias assustadoras da Itália - gente morrendo aos montes, gente presa em casa com corpos, gente fora dos grupos de risco na UTI - e ficava sem conseguir respirar, pensando que iria faltar aula de qualquer maneira. Quarta à noite, depois de chorar e passar o dia sem conseguir respirar direito, recebo um e-mail da FLUP: aulas canceladas por tempo indeterminado. 
Na quinta de manhã, meu senhorio avisa que nós devemos nos preparar; a Merkel ("aquela que manda na Europa de verdade") avisou que entre 60-80% da população vai pegar coronavírus se as coisas continuarem como estão. Fomos ao mercado, compramos coisa pra mais ou menos duas semanas sem sair de casa pra absolutamente nada. Tudo normal. O mercado é dentro do shopping, numa área nobre da cidade, então não é cheio normalmente. Meu senhorio avisa que as redes maiores já estão com as prateleiras vazias, que os mercados estão regulando os produtos (as pessoas estão em pânico, e estocando comida pra meses) e a entrada de pessoas.
Eu e Denisse, minha colega de apartamento, fazemos um pacto: vamos não ler notícias. Ou ler menos. Já sabemos o que fazer, vamos ficar em casa e pronto. Fazemos piada, ouvimos o remix da Cardi B falando coronavírus. Começamos a ver os vídeos de italianos cantando nas sacadas, e comentamos como deve ser difícil pra qualquer pessoa da França pra baixo - italianos, espanhóis, gregos, portugueses - não abraçar ou beijar alguém. "Uma coisa é dizer pra um dinamarquês não manter contato físico. Mas imagina pra um italiano? É igual dizer pra um brasileiro. Uma hora a gente vai sentir".
Portugal começa a ficar caótico. É um país cheio de velhinhos, é relativamente desorganizado, e o sistema de saúde pública é complicado em tempos normais (principalmente pra consultas). Se mais pessoas ficarem doentes, a situação seria mais difícil que na Itália. Não existe mais maneira de escapar das notícias sobre coronavírus - é só o que passa na tv. Meu senhorio fala de álcool em gel, e eu coloco na cozinha meu vidro que comprei assim que cheguei. Quando tudo isso passar eu compro um novo.
Cancelo minha viagem pra Oslo. Compro passagens pra Itália em junho. Estou agarrada à esperança de que no final de junho isso já vai ter passado. 
Começo a ler notícias boas da China, e sobre como os países asiáticos souberam lidar melhor com a epidemia. A China mandou aparelhos e médicos pra Itália. Minha admiração pelo oriente só aumenta. O ocidente é uma grande falácia, com muito mais gente egoísta que altruísta.

Quando isso acabar, eu vou começar a estudar chinês.

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