sábado, 29 de fevereiro de 2020

Dia 29

Chego ao final do mês sem conseguir engolir de tanta dor na garganta, mas já com os antibióticos comprados (e um tomado). 
Tenho muita coisa pra fazer e não consigo pensar direito em nada. Vou me refugiar em listas, agendas e horários pra conseguir fazer tudo.
Estar atarefada é mais fácil que pensar.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Dia 28


Hoje vi Little Women no cinema, e foi uma catarse tão grande, que achei que fosse chegar em casa e chorar sentada no chão do quarto.
Crescer é difícil demais. Como minha adolescência foi dolorosa, mesmo sem privações financeiras. Mesmo sendo pobre menina rica, como foi doloroso. O começo da vida adulta também. Todos os sentimentos que eu senti no passado voltaram em minutos do filme, e tudo o que eu ainda sinto em relação ao amor voltou. Tudo o que ainda é doloroso e difícil.
Amanhã eu provavelmente vou me arrepender de ter falado isso: mas quando minha hora vai chegar? 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Dia 27

Querido Marte,
Hoje o meu dia foi bom. Não foi tão bom quanto no ano passado - mesmo cercada de pessoas recém-conhecidas, eu estava de férias, tinha acabado de formar (os sonhos ainda estavam frescos na memória), gritei qualquer coisa na frente do Mar da Galileia, dancei e cantei com estranhos na chuva e bebi tanto arak que não lembro de nada ruim. Mas são anos diferentes, e situações diferentes. 
Eu fui ao médico, depois fui à aula, e pela primeira vez acho que vou conseguir responder todo mundo que me enviou mensagens. Você me lê, não lê, Marte? Então você sabe que eu tenho um problema com mensagens. Eu sou lenta pra respondê-las. É terrível. Já me custou amizades.
Eu cantei parabéns com minha colega de apartamento, e comi um bolo de cenoura com tanto chocolate que não consigo nem descrever. Tinha bala de goma de melancia em cima. Não fez muito sentido, não combinou com o bolo de aniverário de alguém que fez 27 anos, mas eu sou assim, não é? Estou aqui vivendo essa juventuda tardiamente, e às vezes me sinto mais próxima dos 20 e menos dos 30. Mesmo já tendo 30 na minha cabeça. É meu jeitinho, bem dramático.
Eu já disse isso em algum ano anterior, mas todos os anos eu espero pelas sua mensagem do dia 27 de fevereiro. Virou uma tradição minha também. É a coisa mais de livro que eu vivo - e você provavelmente sabe que eu amo essa sensação de estar vivendo algo parecido com algo de livro. Eu não sei nada de você, e você sabe dos meus pensamentos mais íntimos, que estão todos aqui nesse blog desde os mes 14 anos. Eu acho fantástico. Já fui muito mais ansiosa nisso de saber algo sobre você, mas o tempo me fez alguém menos curiosa. Hoje eu fico feliz só com a mensagem. O que vier além disso é lucro.

Meu médico me passou antibióticos, anti-inflamatórios e corticóides. Mas eu recebo com carinho o abraço e o cafuné enviados. Li o post scriptum com um sorriso no rosto.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Dia 26


Eu queria ter viajado pra Londres, pra ficar perto de amigos próximos e me sentir mais em casa. Eu provavelmente choraria pensando que fiz 17 anos la, e estaria fazendo 27. Não deu. Sigo doente, e amanhã tenho médico (que marquei dia 30 de janeiro, no auge da febre causada pela gripe horrorosa que peguei). Minha garganta segue inflamada, minha cabeça machucada de tanta dermatite, tenho cólicas, deveria ter lido alguns textos pra amanhã, mas comi M&Ms de amendoim e vi Brooklyn 99 com uma bolsa de água quente em cima da barriga.
Meu irmão me deu notícias boas, e fiquei mais tranquila. Meu cérebro ridículo - que não consegue se acalmar por mais de 30 minutos - já começou a se preocupar com outras coisas da vida; trabalho, dinheiro, detalhes de viagem. Parei de pensar neles, e instantaneamente minha garganta começou a doer mais. Assim como tudo que acontece comigo: foi emocional, e cheguei à conclusão de que preciso de terapia. Então eu comecei a olhar site de roupas, pra procurar calças e camisas pretas. Lembrei do ponto exato em que virei alguém consumista pra afogar as mágoas da vida, lá em 2015, no terceiro ano de São Paulo, depois de um pé na bunda.
Estou solteira há 5 anos. Já?
Também notei que engordei, e assim que tudo de chocolate do meu armário acabar, vou voltar a fazer alguma espécie de dieta. Amanhã não: vou comer bolo de cenoura e tomar refrigerante.
Talvez eu escute Erik Satie e chore enquanto caminho até o clínico geral da universidade. Tenho aula à tarde; ter aula no meu aniversário me lembra quando eu tive prova da minha matéria nemesis no terceiro ano do ensino médio (química), e ninguém ligou pra mim (meu aniversário: o único dia do ano que eu quero toda a atenção do mundo). Eu terminei o dia vendo algum filme triste na sala da casa, e meus pais quiseram compensar me dando o teatro completo do Shakespeare no outro dia. Não adiantou. Poor little rich girl.
Em 2014 eu passei sozinha no quarto, na pensão que eu morava, e comi uma mini torta de morango de uma padaria duvidosa da rua que eu morava no Jardim Bonfiglioli. Passei mal depois. Meu ex-namorado sociopata nem tentou ir me ver. Também foi um dia ruim.
Eu tenho certeza que amanhã não vai ser um dia ruim. Mas por que eu estou chorando enquanto escrevo esse post, com a sensação de que vai ser? 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Dia 25

Hoje eu li um texto do Edward Said sobre o exílio, e passei parte do dia pensando em como as experiência de estar fora - seja como exilado, expatriado, imigrante ou refugiado - modifica alguém.
Eu sempre me senti fora. Fora dos meus costumes, dos grupos que me rodeavam. Então eu saí da minha terra, e vi como ela estava em mim, de maneiras que eu nunca nem imaginei. Foi estando fora que eu passei a me sentir pertencente a algo; o problema é que agora esse algo estava distante. E eu estou sempre querendo ir pra mais longe, e cada dia mais conectada com a minha origem: seja ela a América Latina, o Brasil, a Amazônia, Rondônia ou Porto Velho.
Dia 27 eu vou jantar num restaurante brasileiro comer Baião de dois com farofa e macaxeira. Vou tomar um açaí no restaurante amazonense antes. No outro dia tem festa no Dona Arepa, e minha segunda casa aqui no Porto - a Venezuela - também vai fazer parte da minha celebração. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Dia 24

Eu não aguento mais estar doente.
Minha garganta ainda dói. Hoje tive aulas (em plena segunda de carnaval! como dói também estar longe do Brasil), e foram boas. Consegui tirar o aplicativo do twitter do celular, ganhei um copo retrátril da Denisse. Tenho muito o que ler, muito o que responder e muito o que fazer, mas hoje vou dormir mais tranquila.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Dia 23

Passei o dia em casa, tentando me recuperar. 
Ainda penso sem parar no problema do meu irmão, a ponto de me dar uma dor de estômago bizarra. 
Eu me martírio o tempo todo por ser responsável demais a ponto de não viver, mas sempre agradeço à força que me faz ser quadrada quando alguém aparece com um problema causado por pura irresponsabilidade. 

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Dia 22

Meu irmão me jogou no colo uma bomba que ativou gatilhos que eu nem lembrava que tinha. 
Agora tô aqui, doente e com crise de refluxo de tanto nervoso... Sem poder fazer nada. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Dia 21

Hoje encontrei o João, um amigo que fiz no Direito em Pelotas. Nós tínhamos nos encontrado pela última vez em 2017; foi estranho perceber como o tempo é relativo. Parecia que tinha sido ontem, mas foi há 3 anos. Uma mundo de coisas aconteceu. Ele se mudou de volta pra Porto Alegre, eu me formei. Foi estranho ouvir ele falar como eu pareço mais velha: não fisicamente, mas de experiências. "Quando eu te conheci, tu não tinha beijado na boca e não bebia. Só foi há 10 anos."
2011: parece ontem, mas foi há uma vida. 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Dia 20

Querido Deus: que minha garganta não siga inflamada até o dia do meu aniversário. Eu quero comer Baião de dois com macaxeira, e quero sentir o gosto.
Obrigada. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Dia 19

Fui à Coimbra, só pra ficar doente de novo e enlouquecida com os atrasos na minha agenda. Mas acho que valeu a pena.
Acho.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Dia 18

Dormir metade do dia e na outra metade tomar meio litro de energético pra conseguir escrever: total e completa energia de 2018 - depressiva, ansiosa e atarefada com TGI.
Metade do tempo em que eu olhei pra tela em branco, eu pensei que o emprego perfeito pra mim é o de personal organizer.

E talvez eu faça meu currículo pensando nisso.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Dia 17

Que cansaço. 
Não sei como gente que não tem 20 anos consegue viver na esbórnia; eu parei hoje, e tive que tomar um resfenol porque sinto o resfriado (pós 3 semanas de gripe!!!!!!!!) vindo. 
Mas o ótimo desses dias foi descobrir que por mais cansada que eu fique de interação social, eu tenho mais traquejo que eu imagino ter.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Dia 16

A ressaca moral: eu precisava passar por isso pelo menos uma vez na vida.

Dia 15


Nathalia veio de Lisboa, e fomos no Erasmus (o bar onde a caneca de cerveja é 2 euros).
Pela primeira vez na vida, eu bebi a ponto de vomitar na rua e abraçar o vaso sanitário.
Eu só consigo achar essa juventude tardia... Hilária.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Dia 14

Eu poderia estar triste nesse dia dos namorados, mas eu vou sair pra beber e dançar Beyoncé.

Dia 13

Novamente escrevendo no dia seguinte, pq cheguei tarde demais ontem.
O que é bom, certo?
Eu gostei das minha aulas de ontem.
Meu professor de estética literária fala num tom de voz tranquilo, e num ritmo mais calmo (diferente de todos os outros professores), então eu consegui ficar 3h ouvindo ele falar sobre as coisas mais aleatórias sobre arte, o belo, o moral, Kant e cia ltda sem pirar. Minha outra matéria vai ser útil, porque eu vou conseguir falar sobre as Novas Cartas Portuguesas.
Depois da aula eu fui até o hostel da Panna comer comida húngara e conversar. Acabei escrevendo o pedaço de uma carta em húngaro, e brincando de aprender essa língua tão difícil.

Nathalia vem pra cá no final de semana... O que significa que vou ter só dois dias pra finalizar um trabalho. 
Mas eu não ligo. 
É a primeira vez que me divirto no meio da semana, e não coloco meus estudos em primeiro lugar. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Dia 12

Hoje caminhando pela cidade com a Panna, eu percebi que falo muito pouco. É bizarro porque eu sempre acho que falo demais, até ter que conversar com alguém; se eu preciso conversar, eu entro 100% no modo ouvidos e no modo "posso caminhar em silêncio por muito tempo". 
Eu gosto quando encontro pessoas que também gostam de silêncio. 

Comprei caramelos mentolados e uma sacola de arco-íris. Saí de rímel pelo terceiro dia seguido e me senti bem. Meu cartão de residência chegou. Eu estou livre agora. Chorei enquanto mandava foto dele pros meus pais. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Dia 11

Postando de madrugada, porque acabei de chegar em casa num estado deplorável. Eu não bebi muito, mas cheguei no quase no limite da dignidade humana - mas tomei banho, escovei os dentes e joguei uma água de rosas no rosto. Limpei minha bota também.
Fui beber com a Panna, uma amiga húngara que fiz em Israel. Paguei um drink pra um alemão. Ele me pagou um drink.
Eu gosto de brincar de ser jovem.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Dia 10

Hoje voltei a ter aulas.
Ainda estou frustrada por ter esquecido de escrever ontem; ontem eu fiz absolutamente nada, o que só piora a sensação de culpa por ter quebrado um pacto que fiz comigo mesma. 
Mas hoje foi... bom. Eu acordei 3h da manhã, provavelmente com alguma notificação do celular - que não fica mais no silencioso; assim que eu responder todas as mensagens que devo responder, eu não vou me esconder mais de ninguém - e fiquei assistindo Brooklyn 99 até ter sono de novo, próximo das 5h. Levantei tarde, com uma dor tenebrosa nos ombros e no pescoço e tive que tomar chai e levar chá preto pra aula. O que foi bom, porque só me provou que eu preciso do mínimo de cafeína se quiser tirar algum proveito das minhas aulas. O fato de ter menos gente na sala de aula também ajudou; eu não consigo me esconder se só tem cinco pessoas na sala, então acabo prestando atenção. Manter o celular na bolsa também ajudou, então vou seguir com esse modus operandi do telefone só em casa (até eu responder todas as mensagens!!!!!!!!!!!!!). Minhas matérias vão ter uso na dissertação. Eu saí feliz da universidade, e meu dia foi proveitoso só por isso: das cinco matérias, pelo menos essas de segunda-feira (até agora) vão. ser. úteis. Eu sabia o quanto queria isso, mas não sabia o quão feliz e aliviada ficaria com isso.
Em uma delas, vamos falar sobre o exílio. Eu vou voltar a poder falar do Aharon Appelfeld. Baruch Ashem!

Quase não tossi. Meu cartão de residência ainda não chegou. Amanhã vou buscar a Panna, minha colega húngara, no aeroporto e vou dar role com ela. Talvez eu vá pra Londres no meu aniversário. Talvez eu vá pra Oslo em abril.  

Dia 9

Ontem eu passei o dia deitada sem fazer nada e esqueci de escrever.
É só mais uma prova de que quanto menos coisas eu faço, mas eu esqueço de tudo. 
E eu odeio esquecer coisas e quebrar rituais. 

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Dia 8

Hoje eu postei algo no Instagram, comi amendoim japonês e jujuba de menta. 
Eu ainda não terminei de responder todo mundo que eu queria responder, mas postei algo no Instagram porque tive vontade. Ainda com muita culpa por estar online, por ter esse comportamento esquisito em redes sociais, mas postei.
Eu também me dei conta de que se eu tivesse meu cartão de residência na mão, eu já teria feito alguma loucura, tipo comprado uma passagem pra Oslo, pra Londres, ou pra qualquer lugar que eu tenho amigos que não me lembrem que eu preciso de um emprego e fazer meus trabalhos do mestrado. Eu gosto mesmo é de fugir. Mesmo encarando tudo, se eu tenho a chance, eu gosto e fugir. 
Talvez essa residência não tenha chegado pelo correio até agora justamente por isso. 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Dia 7

Hoje eu falei abertamente sobre homens com um antigo colega de trabalho. 
Não do jeito que eu sempre falo: contida, com vergonha, como se eu tivesse vergonha de ser mulher.
Eu falei bobagem. Besteira mesmo. Falei de pinto, de óleo da bota, da maneira mais escrachada e natural pra qualquer pessoa da minha idade. Eu nunca me dou conta de como falar bobagem sobre homem, algo que me fez ter vergonha por anos, é libertador.
É difícil sentir embaraço por ser um ser sexual, mas de piada em piada, eu vou desconstruindo isso.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Dia 6

Minha mãe tinha 27 anos quando me teve. 
Eu vou fazer 27 anos em duas semanas, e além de não ter um emprego, não tenho nem possibilidade de namorar alguém, ter um filho, casar, o que seja.
Claro que são outros tempos, mas eu nunca tinha pensado nessa perspectiva. Mas eu também nunca tinha pensado em casar e ter uma família, até o ano passado. É incrível pensar que algo que não tinha importância alguma até alguns meses, pode virar algo quase prioritário na minha vida. Eu consigo imaginar o que minha terapeuta me perguntaria sobre isso. O que não consigo fazer, é agir pra mudar as coisas do estado em que estão.
Envelhecer é maravilhoso e assustador.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Dia 5

Hoje eu enviei a carta do Chris, e já estou pensando em quando receber a resposta.
É isso. Eu preciso desacelerar em todos os sentidos. Eu não percebi o quanto eu sentia saudade de esperar por algo. Talvez muito da minha ansiedade, que já existia quando eu não vivia online, não vivia querendo me informar, esteja nisso: em ter que ser rápida sempre. Eu preciso ser devagar. Eu preciso de tempo pra aprender muita coisa, e estando sempre rápida, eu fico cheia de informação e acabo aprendendo nada de verdade - ou nada que me faça me sentir feliz. 
E sabe de uma coisa?
Acho que se eu ficar menos online, eu vou conseguir ser muito mais presente na vida dos meus amigos, e não vou hiperventilar toda vez que a notificação de mensagem chegar. Não sei exatamente como, eu tenho quase certeza que eu vou melhorar se tentar.


Fiz chá de limão, gengibre e mel, e a tosse melhorou consideravelmente. Também ouvi o Shape of a broken heart, da Imany, e lembrei do meu amor por músicas tristes.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Dia 4

Terminei de ver Evangelion.
Comecei ano passado, e assim como Buffy, fui vendo aos poucos (eu parei de ver Buffy porque saiu da Netflix. Esse é meu ritmo vendo série com mais de 10 episódios) até o episódio 17... E hoje terminei. A impressão que tive é que foi tudo se arrastando até o episódio 17, e do 18 pra frente vira gritaria e dedo no cu - eu sentei pra ver no sofá e não consegui mais levantar, nem pra pegar meu remédio de tosse. 
Eu chorei, e não lembro da última vez que chorei vendo algo na netflix. 
Só conseguia pensar em como minha adolescência teria sido diferente se eu tivesse visto isso com 14 anos, quando comecei a ficar seriamente triste, e só conseguia me odiar e achar que estava sozinha. Não me importou que os dois últimos episódios tenham sido escritos pela Clarice Lispector (como o Thiago falou, fazendo piada), e eu tenha penado pra acompanhar o fluxo de consciência legendado em espanhol enquanto lacrimejava; talvez isso tenha tornado o final mais poético ainda, e a tristeza do que estava por trás de tudo melhorou. 
Assistam Evangelion. Coloquem os adolescentes que fazem parte da vida de vocês pra assistir Evangelion. Eu saio desses 26 episódios como outra pessoa. 

Sigo tossindo. Amanhã vou fazer um balde de chá de limão com gengibre e mel, e jogar nas mãos de Jesus.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Dia 3

Hoje eu escrevi uma carta.
Ano passado, um alemão caiu no meu colo em Jerusalém. Não literalmente, mas quase isso. No primeiro final de semana de folga que eu e Nathalia tivemos do workaway, fomos pra Jerusalém. Como nós somos duas velhas, ficamos no saguão do Abraham hostel, e esse moço alemão ficava olhando pra gente como se quisesse conversar. Como eu estou acostumada com a Nathalia (que tem quase fobia social), eu puxei assunto. Ele tinha 20 e poucos anos (menos que eu), tinha acabado alguma coisa de técnica em construção na Alemanha, não tinha rede sociais e estava em Israel procurando estágio. Ele era bem travado, bem alemão, mas eu, como sempre, soterrei o desconhecido de perguntas e achei inofensivo. No outro dia fomos juntos ao Yad Vashem, e tiramos uma foto na máquina analógica antiga dele no final do museu, já na frente da floresta. Uma das minhas amigas israelenses comentou rindo que essa história era o começo de uma piada de humor negro: conheci um alemão e fui com ele até o Yad Vashem. Eu rio de nervoso quando penso nesse comentário dela.
Eu dei a ele meu número de telefone. Um mês depois ele me liga e diz que me enviou uma carta. Fui até a caixa postal do hostel em Tiberiades, e sim, tinha carta dele, escrita em caneta tinteiro e falando que ele tinha decidido trabalhar em uma fazenda no sul do país. Ele me ligou de novo, e ficou combinado que ele me encontraria em Tel Aviv antes de eu ir embora.
Ele realmente foi até Jaffa, e ficou no mesmo hostel que eu. Andamos boa parte de Tel Aviv atrás de meias de algodão, um sapato de couro e filme pra câmera dele. Eu paguei um almoço. Ele pagou um jantar. Ele me contou que não tinha redes sociais, e que tinha como hobby ir pras feiras em que se vivia como no século retrasado (por isso as meias de algodão e a roupa vintage). Ele pediu pra colocar os braços em volta de mim, e disse que eu podia encostar nele se estivesse frio. Quando eu percebi as intenções, eu já tinha que ir embora, e o Chris (esse é o nome dele) ficou sendo uma história boa pra contar - absolutamente todo mundo quer me bater quando eu conto, e pergunta porque eu não fiz a brasileira e beijei de uma vez. Eu digo que não percebi na hora. Eu realmente não percebi, e quando percebi, achei que era brincadeira. Eu sempre acho que é - e um contato no telefone.
Quando eu mudei pra Portugal, avisei os amigos que fiz em Israel que poderia ir visitá-los; o Chris foi um deles. Nós trocamos endereços pra trocar cartas, porque eu decidi que usaria menos redes sociais e diminuiria meu ritmo, pra ver se me encontro. Então hoje eu escrevi essa carta, em papel sem linha e falando de assuntos aleatórios. Foi divertido. Eu gosto de escrever à mão. Amanhã vou enviar e escrever mais cartas. Lembrar dessa história e escrever como se eu estivesse em 2006 fazem com que a pisciana que eu deixo de lado apareça.

Sigo com tosse, mas hoje fez 20 graus e eu me senti um pouco melhor. Ainda não sei o que fazer pro meu aniversário, mas já comecei a pensar.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Dia 2

Hoje parte do meu dia na cama foi vendo Evangelion, além de vídeos no YouTube. Parte do tempo que eu vejo Evangelion, eu fico pensando em como eu teria sido mais feliz se tivesse visto na adolescência. Evangelion tem tudo o que eu mais gostava quando era mais nova (e sigo gostando hoje): crise existencial, inadequação, raiva do pai e longos silêncios. Eu ia gostar de ter uma personagem que tem sentimentos conflitantes em relação ao pai como modelo. Talvez eu até conseguisse assistir tudo de uma vez - hoje eu acho muito pesado, só consigo assistir três episódios e troco pra alguma coisa bobinha. Enfim.
No último episódio que vi hoje, o Shinji (a personagem principal) toca aquele prelúdio famoso do Bach, o que me fez lembrar que eu estou decidida a ouvir compositores novos esse ano, e um pouco menos dos dramáticos de sempre (Mozart, Chopin, Liszt, Satie e Mahler).
Eu queria voltar a cantar, ou voltar pro piano. 

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Dia 1

Eu parei de tossir.
Também consegui levantar, limpar meu quarto, e ficar obcecada por lavar roupas e sapatos - chove há três dias, não seria muito prático lavar roupas e sapatos agora - e jogar soda cáustica na banheira. Também cnosegui ver uma série norueguesa, comecei a ver uma italiana, amanhã vou à missa, e quero responder todas as mensagens que tenho no whatsapp. 
Esse mês eu faço 27. 
Faço 27, e consigo lembrar de quando tinha 14 e imaginava que fazia 27. Eu tinha recém descoberto o Clube dos 27, e já tinha sintomas de depressão; eu ainda não queria sumir, só sentia coisas demais. 
Não acho que eu tenha virado o que eu esperava aos 27. Pra ser sincera, eu não tinha algo muito específico em mente. Eu acho que queria ter paz de espírito, mas sempre quis ter paz de espírito, e há alguns anos eu entendi que assim como felicidade, paz de espírito é sempre um caminho. Eu esperava estar satisfeita com trabalho, mas meu trabalho é a Academia, e estou bem longe de estar satisfeita com isso. Acho que nunca vou estar. Talvez seja hora de pensar melhor nisso. Eu não esperava que minha vida fosse virar a Academia, e também não esperava que fosse estar tão preocupada com amor. Acho um castigo digno de círculo do inferno pessoal: eu amar o amor, e ao mesmo tempo desgostar tanto de pensar no amor pra mim.