sábado, 29 de fevereiro de 2020

Dia 29

Chego ao final do mês sem conseguir engolir de tanta dor na garganta, mas já com os antibióticos comprados (e um tomado). 
Tenho muita coisa pra fazer e não consigo pensar direito em nada. Vou me refugiar em listas, agendas e horários pra conseguir fazer tudo.
Estar atarefada é mais fácil que pensar.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Dia 28


Hoje vi Little Women no cinema, e foi uma catarse tão grande, que achei que fosse chegar em casa e chorar sentada no chão do quarto.
Crescer é difícil demais. Como minha adolescência foi dolorosa, mesmo sem privações financeiras. Mesmo sendo pobre menina rica, como foi doloroso. O começo da vida adulta também. Todos os sentimentos que eu senti no passado voltaram em minutos do filme, e tudo o que eu ainda sinto em relação ao amor voltou. Tudo o que ainda é doloroso e difícil.
Amanhã eu provavelmente vou me arrepender de ter falado isso: mas quando minha hora vai chegar? 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Dia 27

Querido Marte,
Hoje o meu dia foi bom. Não foi tão bom quanto no ano passado - mesmo cercada de pessoas recém-conhecidas, eu estava de férias, tinha acabado de formar (os sonhos ainda estavam frescos na memória), gritei qualquer coisa na frente do Mar da Galileia, dancei e cantei com estranhos na chuva e bebi tanto arak que não lembro de nada ruim. Mas são anos diferentes, e situações diferentes. 
Eu fui ao médico, depois fui à aula, e pela primeira vez acho que vou conseguir responder todo mundo que me enviou mensagens. Você me lê, não lê, Marte? Então você sabe que eu tenho um problema com mensagens. Eu sou lenta pra respondê-las. É terrível. Já me custou amizades.
Eu cantei parabéns com minha colega de apartamento, e comi um bolo de cenoura com tanto chocolate que não consigo nem descrever. Tinha bala de goma de melancia em cima. Não fez muito sentido, não combinou com o bolo de aniverário de alguém que fez 27 anos, mas eu sou assim, não é? Estou aqui vivendo essa juventuda tardiamente, e às vezes me sinto mais próxima dos 20 e menos dos 30. Mesmo já tendo 30 na minha cabeça. É meu jeitinho, bem dramático.
Eu já disse isso em algum ano anterior, mas todos os anos eu espero pelas sua mensagem do dia 27 de fevereiro. Virou uma tradição minha também. É a coisa mais de livro que eu vivo - e você provavelmente sabe que eu amo essa sensação de estar vivendo algo parecido com algo de livro. Eu não sei nada de você, e você sabe dos meus pensamentos mais íntimos, que estão todos aqui nesse blog desde os mes 14 anos. Eu acho fantástico. Já fui muito mais ansiosa nisso de saber algo sobre você, mas o tempo me fez alguém menos curiosa. Hoje eu fico feliz só com a mensagem. O que vier além disso é lucro.

Meu médico me passou antibióticos, anti-inflamatórios e corticóides. Mas eu recebo com carinho o abraço e o cafuné enviados. Li o post scriptum com um sorriso no rosto.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Dia 26


Eu queria ter viajado pra Londres, pra ficar perto de amigos próximos e me sentir mais em casa. Eu provavelmente choraria pensando que fiz 17 anos la, e estaria fazendo 27. Não deu. Sigo doente, e amanhã tenho médico (que marquei dia 30 de janeiro, no auge da febre causada pela gripe horrorosa que peguei). Minha garganta segue inflamada, minha cabeça machucada de tanta dermatite, tenho cólicas, deveria ter lido alguns textos pra amanhã, mas comi M&Ms de amendoim e vi Brooklyn 99 com uma bolsa de água quente em cima da barriga.
Meu irmão me deu notícias boas, e fiquei mais tranquila. Meu cérebro ridículo - que não consegue se acalmar por mais de 30 minutos - já começou a se preocupar com outras coisas da vida; trabalho, dinheiro, detalhes de viagem. Parei de pensar neles, e instantaneamente minha garganta começou a doer mais. Assim como tudo que acontece comigo: foi emocional, e cheguei à conclusão de que preciso de terapia. Então eu comecei a olhar site de roupas, pra procurar calças e camisas pretas. Lembrei do ponto exato em que virei alguém consumista pra afogar as mágoas da vida, lá em 2015, no terceiro ano de São Paulo, depois de um pé na bunda.
Estou solteira há 5 anos. Já?
Também notei que engordei, e assim que tudo de chocolate do meu armário acabar, vou voltar a fazer alguma espécie de dieta. Amanhã não: vou comer bolo de cenoura e tomar refrigerante.
Talvez eu escute Erik Satie e chore enquanto caminho até o clínico geral da universidade. Tenho aula à tarde; ter aula no meu aniversário me lembra quando eu tive prova da minha matéria nemesis no terceiro ano do ensino médio (química), e ninguém ligou pra mim (meu aniversário: o único dia do ano que eu quero toda a atenção do mundo). Eu terminei o dia vendo algum filme triste na sala da casa, e meus pais quiseram compensar me dando o teatro completo do Shakespeare no outro dia. Não adiantou. Poor little rich girl.
Em 2014 eu passei sozinha no quarto, na pensão que eu morava, e comi uma mini torta de morango de uma padaria duvidosa da rua que eu morava no Jardim Bonfiglioli. Passei mal depois. Meu ex-namorado sociopata nem tentou ir me ver. Também foi um dia ruim.
Eu tenho certeza que amanhã não vai ser um dia ruim. Mas por que eu estou chorando enquanto escrevo esse post, com a sensação de que vai ser? 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Dia 25

Hoje eu li um texto do Edward Said sobre o exílio, e passei parte do dia pensando em como as experiência de estar fora - seja como exilado, expatriado, imigrante ou refugiado - modifica alguém.
Eu sempre me senti fora. Fora dos meus costumes, dos grupos que me rodeavam. Então eu saí da minha terra, e vi como ela estava em mim, de maneiras que eu nunca nem imaginei. Foi estando fora que eu passei a me sentir pertencente a algo; o problema é que agora esse algo estava distante. E eu estou sempre querendo ir pra mais longe, e cada dia mais conectada com a minha origem: seja ela a América Latina, o Brasil, a Amazônia, Rondônia ou Porto Velho.
Dia 27 eu vou jantar num restaurante brasileiro comer Baião de dois com farofa e macaxeira. Vou tomar um açaí no restaurante amazonense antes. No outro dia tem festa no Dona Arepa, e minha segunda casa aqui no Porto - a Venezuela - também vai fazer parte da minha celebração.