segunda-feira, 17 de outubro de 2016

De todos os livros e filmes que já vi na vida, a personagem com quem eu mais me identifiquei foi a May, de A vida secreta das abelhas. Não só porque nós temos o mesmo apelido, mas porque ela é excessivamente sensível. Eu sempre fui sensível demais e sempre chorei muito. Quando algo muito feliz acontece comigo ou com qualquer pessoa, eu choro e sinto que meu coração vai transbordar de alegria. Quando algo muito triste acontece, eu choro e passo dias sentindo que o mundo não vale a pena. O vô tá no hospital desde semana passada e eu já não estava muito bem, daí hoje recebo a notícia de que o filho de um amigo no meu pai foi assassinado. Ele era policial, daqueles que eu desaprovo, que batem palma pra gente que incita a violência. Mas ele não merecia morrer, muito menos de forma tão violenta. Quando eu paro pra pensar, acho que ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém - mesmo um criminoso merece julgamento. Que seja punido pela justiça terrena. Mas nenhuma vida vale mais do que a outra, por mais degenerada que a pessoa esteja. O Bianor Jr. tinha 25 anos - era só dois anos mais velho que eu. Ele não era alguém da Síria, alguém por quem meu coração pesa mas se blinda. Ele não era próximo. Eu lembro mais do irmão dele que foi fazer vestibular comigo no Acre, e da mãe dele que me chamava de boneca e dizia que queria muito ter tido uma filha menina (eram quatro meninos). Meu pai acabou de me dizer que 6h da manhã ela estava lavando o asfalto porque não queria o sangue do filho dela no chão. Eu sei que Deus não tira a dor do nosso peito, porque inúmeras vezes eu implorei pra Deus tirar do meu coração esse monte de coisa ruim que eu sinto e escondo, então não sei se peço pra Deus ou pra qualquer outra divindade tirar o peito da mãe do Bianor Jr o que ela tá sentindo agora.
Eu queria poder ajudar a pessoas de alguma forma.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Deus,

Eu quase nunca falo com você, mas já escrevi várias vezes pra alguém que não sei o nome e nem sei se me ouve ou se existe. Eu acho que existe porque eu sinto que existe, mas não tenho certeza. Também acho que a certeza não é importante. Desde segunda eu não durmo direito e tô com esse nó na garganta. Às vezes eu choro também, como agora. Eu não sei se meu vô vai conseguir melhorar ou não. Meu outro vô também teve avc e meu pai passou por isso, então quando eu escuto meu pai falar racionalmente, fico menos preocupada. Menos ansiosa. Mas hoje parece que meu vô não tá muito bem. Liguei pro meu pai e ele tava passando o telefone da neurologista amiga da minha mãe pras minhas tias. Minha mãe só avisou que tava indo pra Belém amanhã. Eu sei que isso não é bom. Meu vô tá sofrendo, minha família tá sofrendo e eu sei que minha mãe tá sofrendo e eu não posso fazer nada. Eu não sei rezar. Não sei se rezar ajuda em alguma coisa. Não sei nem a situação real do meu vô, se peço pra você fazer com que ele melhore, ou só que ele não sofra e que ele aguente até pelo menos minha mãe chegar em Belém. Quando meu tio foi assassinado eu era criança e não entendi muito bem o que tava acontecendo. Mas pelo menos eu tava perto dos meus pais. Agora não to. Nunca consegui ficar em silêncio e rezar, mas sempre consegui escrever. Acho que isso é uma oração. Se eu acho que é, e sinto que é, talvez seja. Tomara que você me escute.

domingo, 9 de outubro de 2016

It's alright, Ma

Eu ia escrever algo sobre setembro amarelo e minha luta contra ansiedade e depressão, mas o mundo riu bem na minha cara e eu entrei em mais um período depressivo. Não limpo a casa há duas semanas, não como direito, tem louça empilhada na pia e só levanto na hora certa durante a semana - quando levanto. Culpei o tempo frio ("ah, deve ser depressão sazonal"), mas esquentou e eu não tive coragem de sair da cama pra resolver meu problema com o bilhete único. Ando sentindo muita dor de cabeça e tentando não tomar remédio pra não ficar mais sonolenta. Também ando chorando muito mais que o normal - que já é absurdo - e ainda não marquei nenhuma consulta médica, nem comecei a procurar terapia.
Mas quando eu terminar de escrever isso, vou lavar o cabelo e ir até o terminal Bandeira andando e ouvindo rádio. Talvez um solzinho melhore o que está me deixando assim - seja lá o que for.