tag:blogger.com,1999:blog-28121457292380108532024-03-09T18:46:59.182-08:00O pra sempre sempre acabaConstruindo castelos de ar.Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.comBlogger806125tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-81998898007618309482024-02-23T10:23:00.000-08:002024-02-23T10:23:54.775-08:00Blackbird<p style="text-align: justify;"> Sábado passado eu casei. Alguns amigos que moram em São Paulo vieram pra cá, minha melhor amiga e meus pais vieram de Porto Velho, e na hora da cerimônia mesmo eu senti vontade de fugir pra Gretna Green.</p><p style="text-align: justify;">Eu realmente não gosto de grandes cerimônias, ou de todos os olhos voltados para mim. </p><p style="text-align: justify;">Eu também estou há milímetros de tomar uma das maiores decisões da minha vida. E vai ser só minha.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">"All your life, you were only waiting for this moment to arrive.</p><p style="text-align: justify;">Blackbird: fly. Into the light of a dark, black night."</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-78821505284058887632024-01-31T11:07:00.000-08:002024-01-31T11:07:03.861-08:00No milésimo dia desse mês quase eterno<p style="text-align: justify;"> Tomei minha primeira multa de trânsito e 4 pontos na carteira (e provavelmente em menos de um mês a outra multa chega) e estou há algumas horas abrindo o aplicativo do Gmail em estado de negação. "Nunca mais vou dirigir" - é o que se passa na minha cabeça (realidade: semana que vem preciso pegar a estrada de novo pra buscar alguém no aeroporto. Aliás, nem preciso ir tão longe: preciso pegar o carro na sexta-feira para ir à fisioterapia, e na volta preciso passar no mercado mais barato para comprar atum enlatado). </p><p style="text-align: justify;">Depois dos 25 minha vida virou um esquete de comédia em que a protagonista diz "nunca mais vou fazer isso!", e logo em seguida corta pra ela fazendo exatamente isto. Meus pais reclamam sempre que eu só faço o que quero, mas no meu coração eu sinto que estou sempre fazendo coisas que odeio (talvez eles digam isso porque eu só não faço o que eles querem). </p><p style="text-align: justify;">Estou na segunda sessão de fisioterapia e meu pé dói menos. Hoje eu me peguei esticando os pés e a dor usual que sinto não apareceu. Tive um momento de revelação muito parecido com o momento de revelação que tive depois de 2 meses de fisioterapia depois de operar os dedos - uau, fisioterapia funciona, o mundo é lindo, eu amo a ciência!</p><p style="text-align: justify;">Hoje também me senti fracassada, e já comecei a pensar no banzo que a Europa vai me causar em alguns meses. E como sempre, eu acalentei essa tristeza, pensando ali que não tenho ninguém por mim em Praga além do Matous. Tudo o que quero esse ano é entrar em acordo com essa realidade. </p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-48005305430347630172024-01-26T10:33:00.000-08:002024-01-26T10:33:29.956-08:00'I'm not here, this isn't happening"<p style="text-align: justify;">Nesse momento da vida em que nada de fora faz sentido, eu me encontro cada dia mais olhando pra dentro e pra trás. Talvez porque olhar pra frente, além de me causar um mal estar tremendo, não faz muito sentido justamente por eu não sentir vontade de ir pra frente. Ter investido todas as minhas forças numa vida intelectual e acadêmica não me rendeu nada, e ter feito toda a minha personalidade girar em torno disso só fez com que no momento em que eu não quis mais ser uma intelectual, tudo fosse abaixo. Todos esses anos em escolas, universidades, cursinhos, salas de aula, foram só pedaços de um castelo de ar que começou a ruir há 3 anos. Eu sigo dentro desse castelo e ele está pegando fogo. Eu não sei como sair, e sinto que todas as pessoas em que eu confio também não querem que eu saia dele.</p><p style="text-align: justify;">Eu só queria parar. Só um pouquinho.</p><p style="text-align: justify;">Desde 2020 alguns gostos que eu tive na adolescência voltaram. Eu voltei a ver e rever animes, aos poucos estou abandonando as redes, voltei a ver filmes e até a ler livros físicos. Meu maior feito do ano passado foi ter terminado "Terra estranha" do James Baldwin. Levou meses. Eu lia algumas páginas todas noites, e foi dolorido - que loucura que um livro em 1962 ressoe tão forte hoje, não?</p><p style="text-align: justify;">Também li alguns romances. Nada memorável. Nada como uma trilogia da Nora Roberts, uma série da Meg Cabot ou até mesmo a pior melhor série que li durante a faculdade (Stage Dive). Acho que sinto falta de algo que me deixe obcecada, que vire minha vida de cabeça pra baixo e me mude completamente. A coisa mais próxima que me causou esse sentimento transpassante foi "Aftersun"; chorei por horas depois de assistir, levei pra terapia diversas vezes e passei meses pensando nesse filme. De vez em quando ainda penso. Principalmente porque ando pensando bastante em ser mãe.</p><p style="text-align: justify;">Essa semana o John Galliano fez um retorno triunfal com uma coleçao da Maison Margiela e eu lembrei de quando tinha 12 anos e quis ser estilista. Meu sonho era morar em São Paulo e estudar Moda na Santa Marcelina - fui uma criança semi-criativa, e nessa fase do anime eu gostava de desenhar mulheres e roupas. Esse sonho morreu assim que eu entendi que ter um corpo gordo seria uma pedra no meu caminho; ficou só o sonho de São Paulo mesmo. Eu era tão obcecada pelo Galliano, que fui algumas vezes até a Harrods atrás de um perfume dele. Nunca comprava. Só ficava admirando o frasco pensando que um dia eu teria dinheiro suficiente para ter várias coisas bonitas, incluindo aquele perfume. Nessa época eu também sonhava em ir a um show da Madonna com meu pai, e hoje sei que é muito provável que isso não aconteça. Alguns anos depois de namorar o perfume do Galliano pela vitrine, ele foi demitido da Dior por ser racista. Perdi todo o encanto. O sonho morreu. Meu sonho de ver um show da Madonna com meu pai talvez esteja definhando também - talvez essa seja a última turnê dela, talvez eu não more no Brasil. Envelhecer parece ser ter muita certeza na montanha de "talvez" que a vida vai nos jogando.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">E ah. Em algumas semanas eu vou casar.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-64147348977752282602024-01-24T08:37:00.000-08:002024-01-24T08:37:02.362-08:00talvez?<p> mesmo perdida, eu sinto que aos poucos eu estou voltando a ser eu </p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-43651925292929680512024-01-07T14:09:00.000-08:002024-01-07T14:09:59.147-08:00Eu quero acreditar que a Anistia Internacional e o C1 em francês não me tornariam alguém feliz <p style="text-align: justify;"> Eu um dia quis mudar o mundo, até meu mundo acabar um pouco. Aí decidi que só queria ser feliz. Mas acho que sempre ficou ali um resquício dessa vontade, misturada com um sentimento de fracasso (que sempre me acompanhou em quase todos os âmbitos de vida). Eu nem tentei mudar o mundo - não do jeito clássico, óbvio, de quem trabalha em ONG, coloca a mão na massa. Claro que cada ser humano pode mudar muita coisa em proporções menores; talvez a "escolha" de ser professora tenha sido causada por esse desejo de mudar alguma coisa. </p><p style="text-align: justify;">Eu nunca estive tão perdida profissionalmente. E por conta dessa sensação, de estar nesse deserto, sozinha, caminhando sem nem ver um oásis, tudo que se relaciona com minha falta de vida profissional ou com a vida profissional que eu poderia ter tido me machuca de maneiras inimagináveis. Alguns fantasmas do meu passado voltam para me assombrar; fantasmas que eu nem sabia que existiam, mas toda vez que aparecem, eu acabo entrando numa grande espiral de crise existencial.</p><p style="text-align: justify;">Hoje eu chorei no ombro do meu amor, listando todas as minhas frustrações; chorei porque os remédios que eu tomo para perder peso só me dão nausea, e porque meus pés doem. Chorei porque estar nesse deserto é horrível. Chorei porque não tenho coragem de fazer o que precisa ser feito.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-53064595981992873702023-11-28T11:58:00.000-08:002023-11-28T11:58:45.322-08:00"don't deceive your free will at all, just receive it"<p> de "eu não consigo fazer amigos aqui" pra "eu não preciso fazer amigos aqui"</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-41517832604487151022023-11-21T08:18:00.000-08:002023-11-21T08:18:33.385-08:00no estilão de "a pior pessoa do mundo" e "cha cha real smooth"<p>a melhor coisa de estar passando pela crise dos 30, muito acima do peso, odiando o doutorado e querendo largar, sem saber o que fazer da vida, pensando em ter filhos e morando num lugar cheio de gente horrorosa, é que pela primeira vez eu me sinto pertencente a um grupo: sabe aquelas moças malucas de filme, que terminam a faculdade e não sabem um caralho de pra onde vão?</p><p><br /></p><p>essa sou eu </p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-36955076174056802332023-08-23T04:33:00.001-07:002023-08-23T04:33:06.054-07:00so we meet again my heartache<p> a vida inteira eu vou ter depressão, e ninguém é obrigado a lidar com isso além de mim </p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-18619111328823776072023-07-12T09:58:00.001-07:002023-07-12T09:58:13.013-07:00Desafogar <p style="text-align: justify;"> Todo mundo me pergunta sobre a minha tese, e eu não quero falar sobre ela. Primeiro porque não tenho muito gosto pelo que estou fazendo - tem algumas coisas que me interessam no assunto, mas a tese em si foi sendo moldada por orientadores, de uma forma que ficasse a gosto deles. Eu queria estudar literatura. Eu queria estudar uma escritora mulher, e fazer close reading do livro dela - podia até ser em hebraico, mesmo o hebraico (ou a falta do hebraico) sendo uma das principais causas da minha insônia, palpitações e episódios de compulsão alimentar. Eu não digo que odeio o que estou fazendo porque já trabalhei fazendo serviço braçal, e sei o cansaço que dá - mas ficar sentada na frente do computador e fazer qualquer coisa não seja trabalhar na minha tese não é bem um indicativo de que eu ame o que estou fazendo.</p><p style="text-align: justify;">Eu acho que estou perdendo amigos. Meus amigos são todos do Brasil, e minha comunicação com eles é online; como a minha vida online está uma bagunça, eu sinto que não consigo manter o contato necessário pra manter uma amizade. É normal. São coisas da vida. São fases. Mas hoje eu me peguei pensando que preferia ser alguém offline que consegue responder e-mails de amigos do que ser alguém cronicamente online que sabe de onde vem todo e qualquer meme, mas se sente extremamente solitário.</p><p style="text-align: justify;">(meu celular usa o toque de alerta do MSN pra qualquer notificação, e eu sei distinguir quando é mensagem do whatsapp e quando é e-mail. Ver a notificação do gmail faz meu coração acelerar. Sempre pode ser meu orientador perguntando por notícias. E eu sempre tô aqui, na mesma, sem avançar muito. Abrir o gmail me dá náusea; eu virei alguém que vive com náusea. Eu nunca li <i>A Náusea</i> do Sartre, mas sei que é um romance existencialista; mas olha... se não for sobre uma mulher que quase vomita antes de abrir o gmail, eu acho que vou adiar a leitura por alguns anos, até o fim do doutorado)</p><p style="text-align: justify;">Meu mundinho aqui em Praga é muito pequeno, minúsculo. Eu preciso expandir esse mundo, mas não quero. Eu acho que não gosto das pessoas daqui. Eu tive uma prévia das pessoas daqui, e não gostei. Ou talvez eu só esteja em depressão ansiosa mesmo, e não consiga me conectar com absolutamente ninguém. Talvez eu seja uma versão não tão doente da mocinha do <i>Meu ano de descanso e relaxamento</i> - eu estou no começo do livro e já marquei vários trechos pavorosos do grande fluxo de consciência dela... será que devo me preocupar? Talvez essa maluquice seja algo em comum que todas nós, mocinhas que gostamos de história da arte e coisas tristes, tenhamos. </p><p style="text-align: justify;">Eu nunca tive tanto perfis em redes sociais como tenho agora. Todos são meio abandonados, porque eu odeio qualquer tipo de obrigatoriedade e constância, mas estou em todos, aguardando qual vai ser a rede premiada pós-derrocada do twitter. O twitter segue sendo meu palanque; eu não consigo acompanhar minha timeline (sigo quase 3 mil perfis, a maioria jornalistas e jornais) e quando falo sobre qualquer coisa que estou assistindo ou lendo, as mesmas cinco pessoas me respondem. É como meu blog em 2012. Todos os dias eu penso que vou ser forte o suficiente pra largar tudo e ficar só com meu blog, mas abro as outras redes por impulso, reflexo. Só mais uma prova de que não é saudável.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-26970715697158967612023-06-20T03:19:00.003-07:002023-06-20T03:20:14.060-07:00não dá<p> ouvir dos meus pais que maturidade é fazer coisas que você não gosta e engolir a tristeza: doeu mais do que eu imaginava que doeria</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-10591955833045744122023-02-26T01:56:00.001-08:002023-02-26T01:56:11.503-08:00Balzaca <p style="text-align: justify;"> Oi Marte,</p><p style="text-align: justify;">Esse último ano foi uma doideira. Tanto que nos últimos meses, a única maneira que eu consigo te descrever meu estado mental, é assim: doida. Sem açucarar mesmo. </p><p style="text-align: justify;">Eu entrei no doutorado, e hoje não tenho certeza se é isso que quero. Eu também mudei de país sem saber muito bem o que ia acontecer - aqui no leste europeu (que os locais chamam de centro-europa e ficam bem bravos se alguém diz que é leste) eu não sei a língua, o racismo clássico e o racismo cultural imperam, não faz sol direito e as pessoas são tão frias quanto o inverno que faz aqui... Mas é aqui que meu amor mora. Eu encontrei um amor tranquilo nesse último ano. É coisa mais fácil de todas, mesmo quando nós discutimos política até eu ficar fula da vida (e ele não perceber), ou ele acha semi-engraçado todos os meus rituais do TOC (e respeita). Talvez nosso futuro não esteja nesse país, mas eu sei que meu futuro é com esse amor. Eu ainda não comecei as aulas de tcheco, mas eu sei falar <i>miluji tě - </i>e por enquanto é isso que importa.</p><p style="text-align: justify;">(É mentira. Eu preciso aprender tcheco urgentemente. Mas eu também preciso aprender hebraico urgentemente, pro doutorado. Tudo é urgente na minha vida agora, e meu grande problema é que quero andar cada vez mais devagar)</p><p style="text-align: justify;">Esses dias eu falei que meu relacionamento mais duradouro era com o Duolingo; eu estou fazendo lições todos os dias há 1197 dias. Mas acho que meu relacionamento mais antigo é com você, Marte - essa pessoa que não sei quem é, mas que todos os anos vem aqui me desejar coisas boas. Eu espero que sua vida esteja tranquila. Obrigada por todos esses anos.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-37262871316469513002023-02-13T06:51:00.003-08:002023-02-13T06:51:57.034-08:00doida<p> todas as coisas girando ao mesmo tempo dentro da minha cabeça</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-20673814498105713762023-01-25T00:49:00.002-08:002023-01-25T00:49:22.686-08:00vai ficar tudo bem (eu acho)<p> eu me sinto como se estivesse acordando. saindo de um longo período de sono em que eu não descansei de verdade, mas corri perdida de um lado para o outro até encontrar um rumo meio incerto. ainda faço tudo em câmera lenta, como (quase) qualquer um que acorda, mas ao menos estou acordando.</p><p>-</p><p>um dos meus objetivos desse ano, além de voltar aos meus passatempos de infância (fazer pulseira e cordão de miçanga e pintar com lápis de cor e aquarela), é tentar segurar a hiperestimulação a que sempre forcei minha cabeça. eu sinto que vai ser uma daquelas "tarefas de vida" - difícil pra caralho, vou falhar sempre, mas não vou desistir. só sei que do jeito que está, não dá mais.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-79235049492540540252023-01-12T03:14:00.002-08:002023-01-12T03:15:30.556-08:00"last year's wishes are this year's apologies"<p> eu não sei o que estou fazendo, mas tenho certeza que não estou feliz. aí penso na quantidade de pessoas que queriam estudar e me sinto culpada por não estar feliz. </p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-31943537412805825542022-12-02T14:19:00.004-08:002022-12-02T14:19:49.407-08:00Praga<p style="text-align: justify;"> A barra do meu computador me diz que faz -1C lá fora. Eu fui à cozinha, e tinha uma espécie de névoa no céu, mesmo cedo. Eu acho que nunca vou me acostumar com esses dias curtos de inverno, que acabam 16h da tarde. A neve só é bonita nas fotos. Mas disso eu tinha uma desconfiança quase certa; estar nesse continente só confirmou que sou alguém tropical.</p><p style="text-align: justify;">O peso de não saber hebraico fica cada vez maior, a cada dia que passa. Minha garganta dói, a pele do meu rosto age de forma estranha, meu couro cabeludo chora. Pode ser o clima, pode ser a água, pode ser a quantidade de cremes e óleos que eu uso para controlar esse cabelo que não gosta de ser controlado. Mas também pode ser emocional - porque eu não sei hebraico, porque eu ainda não tenho uma rede de apoio nesse país, e não tenho vontade de sair pra procurar pessoas que estejam dispostas a fazer parte desse rede de apoio. Sendo franca, talvez seja porque eu não tenha lá toda essa vontade de fazer parte da rede de apoio de ninguém. </p><p style="text-align: justify;">Aqui todos são educados, mas ao mesmo tempo rudes. Parece que todos eles internalizaram o frio que faz aqui a maior parte do ano. Não sei se aturo ou surto, não sei se tenho forças pra deixar que o meu verão se faça presente pelo menos na minha bolha. Ainda me sinto acuada. Ainda não posso ser eu mesma. Talvez seja por isso que os dias passam sem que eu perceba - porque por enquanto, eu não estou morando em mim.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-39043544134844577592022-11-08T14:14:00.005-08:002022-11-08T14:14:51.689-08:00Maus hábitos <div style="text-align: justify;">Hoje eu comi quase um pacote inteiro daqueles canudinhos pra sorvete, e bebi pouca água. Almocei um peixe horrível - congelado, sabe deus que peixe era, mas eu também estou no meio da Europa, praticamente no leste... o que eu esperava? - com ervilhas, em mais uma tentativa de fazer dieta que provavelmente vai ser levada aos trancos e barrancos. Os canudinhos foram uma resposta ao peixe ruim; como sempre, eu estou em um estado de descontrole emocional.</div><div style="text-align: justify;">Minha terapeuta também me disse que eu regredi em alguns aspectos. Foi um golpe. Eu esperava que ela fosse falar isso, afinal de contas eu meio que falei com todas as letras que estava radicalizada, tinha voltado a ouvir Nina Simone e estava me sentindo meio tola em relação aos meus anseios.</div><div style="text-align: justify;">A também (quase) constante crise existencial voltou com todas as forças.</div><div style="text-align: justify;">Meu estômago dói como doía há 15 anos. Eu acho que vou voltar a escrever aqui, e voltar a deixar de lado todas as ourtas redes que me lembram que essencialmente eu sou uma pessoa muito sozinha, e que tenho essa dificuldade absurda de manter relações saudáveis.</div><div style="text-align: justify;">Se eu tivesse um rivotril, hoje eu seria feliz. Até um dramin me ajudaria hoje. Talvez um gaviscon. Mas eu to aqui tentando me contentar com essa postagem e um dos meus livros de conforto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">ps. o livro em questão é o "Lead", da série Stage Dive, da Kylie Scott. Baixaria pura. Eu releio essa série pulando várias páginas em vários momentos de crise. Fiz isso por muitos anos com "A Herdeira" e "Se houver amanhã", do Sidney Sheldon.</div><div style="text-align: justify;">pps. talvez eu deva tomar um banho. Brasileiro resolve tudo indo tomar um banho.</div>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-82612354743969060442022-05-06T03:00:00.004-07:002022-05-06T03:00:58.534-07:00Como desaparecer completamente <div style="text-align: justify;">Ninguém nunca me ensinou nada sobre responsabilidade afetiva, mas o catolicismo e a culpa católica sempre correram nas minhas veias como lava. A culpa por não conseguir arrumar o mundo - que eu comprei do meu pai, por o ver constantemente tentando e não conseguindo. A culpa por não conseguir salvar as pessoas que estavam ao meu redor, fossem conhecidas ou não. Não sei se é nítido que eu sou essa pessoa que acaba carregando muito peso e internalizando sentimentos, mas sei que ao longo da vida eu fui amiga de muita gente que fez com que eu me sentisse ainda mais culpada. </div><div style="text-align: justify;">O fato de eu ser uma pessoa quebrada ajuda, eu acho. Talvez os amigos que aparecem e também estão quebrados confiem em mim para mostrar que estão quebrados. Mas eu não sou assim o tempo todo. De vez em quando eu estou bem. E talvez isso faça parecer pro mundo que eu sou forte o tempo todo, e aguento levar porrada o tempo todo. Que aguento mudanças de humor, patada, que aguento inconstâncias. Essas coisas que machucam aos poucos, e que a gente vai aguentando porque se diz "ah, meu amigo só teve um dia ruim. Ele merece que alguém aguente um dia ruim. Eu sou amiga, amigo serve pra isso". </div><div style="text-align: justify;">E assim a gente vai levando. </div><div style="text-align: justify;">Ontem uma amiga disse que eu tive muitas amigas que cometeram abusos comigo, e eu só olhei pra ela com vontade de chorar.</div><div style="text-align: justify;">"Eu sempre tive homens me abusando psicologicamente, mas nunca mulheres. Parece muito mais cruel", ela me disse.</div><div style="text-align: justify;">Eu não sei se foi abuso ou não, mas sei que sempre me senti culpada. Porque essas amigas precisaram de mim, e eu não estava lá - porque eu tenho as minhas próprias demandas, porque me senti magoada pela grosseria com que elas me tratavam. Eu sempre me senti filha da puta, e todas as vezes que elas se afastaram, ficou um gosto amargo na minha boca. Eu sempre acho que poderia ter feito mais, mesmo sabendo ali no fundo que eu não teria condições. A memória de todas elas me assombra. E é tão sombra, que a cada erro que eu cometo com qualquer amigo, as memórias voltam. A culpa volta. Eu me sinto fisicamente doente, e tenho vontade de desaparecer da vida de todo mundo, como se eu tivesse 16 anos de novo e que sumir fosse resolver alguma coisa. Eu vou pra longe cada dia mais e não resolve nada. Por que desaparecer funcionaria?</div><div style="text-align: justify;">Hoje eu acordei, abri o instagram e vi coisas que não queria ver. E eu senti vontade de chorar, de escrever, e ouvir as mais tristes do Radiohead enquanto sentia culpa. Eu tenho uma lista de coisas pra fazer e lugares para visitar, mas hoje só queria ficar sozinha no quarto, pedir comida chinesa gordurosa e chorar deitada na cama, porque sinto que não mereço nada de bom, nem que nenhuma pessoa se aproxime de mim. Porque no fim de tudo, é só isso que sou: uma filha da puta, que vai falar algo errado, e que vai fazer algo imperdoável pra qualquer pessoa que seja minha amiga.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-25351066262828704782022-04-22T13:16:00.001-07:002022-04-22T13:16:14.662-07:00tudo igual<p style="text-align: justify;"> eu tenho as mãos geladas, e o rosto inchado de chorar ocasionalmente por dias. tento manter alguma espécie de rotina e mentalizo sempre que só quem pode se ajudar sou eu mesma. no fim das contas, só eu posso cuidar de mim. só eu posso crescer. só eu posso identificar quando não estou bem, e posso me alimentar bem, sair de casa, lavar o cabelo e manter a casa limpa. sei lá. eu acho que me cansei de sentir sempre as mesmas coisas.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-39165377331333417922022-04-15T00:18:00.004-07:002022-04-15T00:25:54.710-07:00"tudo passa, tudo passará"<p style="text-align: justify;"> absolutamente ninguém me prometeu equilíbrio na vida adulta, mas se eu sequer sonhasse na adolescência que existia a possibilidade de eu passar semanas sentindo o peso de crises existenciais intensas e me sentindo o maior fracasso da face da terra, eu acho que teria acabado com tudo ali mesmo. não tinha final de saga infanto-juvenil que me segurasse viva, apesar de ser muito doce a esperança de liberdade que a vida adulta proporciona pra adolescência; é engraçado pensar na mudança de paradigma que eu tive ("a vida tem que ser um infinito de felicidade, senão não vale a pena" pra "a vida é feita de pequenos momentos que eu preciso aproveitar, qualquer coisa no meio tempo é mais do mesmo) e como essa mudança foi natural, além de muito necessária. talvez as forças que a gente encontra pra continuar vivendo estejam exatamente nessas pequenas mudanças de paradigma. se não fosse isso, nada valeria a pena.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-2197923349884427162022-04-06T03:51:00.004-07:002022-04-06T03:51:52.238-07:00Sobre chorar no ombro de um homem por 30 minutos seguidos<p> Um dia antes de nós dois viajarmos você me perguntou se eu estava bem, e eu disse que não sabia. Eu comecei a chorar copiosamente, porque sentia que alguma coisa dentro de mim estava sendo deixada pra trás - e não era um sentimento exatamente ruim, apesar de haver muito medo. Parecia que eu estava crescendo. Pela primeira na vida eu não tinha chorado na frente dos meus pais antes de ir embora, porque eu acho que eles também sabiam que agora eu estava viajando pra ter a minha vida, não tão conectada a eles. É doloroso, aterrorizante, mas libertador... Assim como todas as coisas relacionadas ao meu futuro. Eu espero que você sempre queira fazer parte dele, porque eu sei o tamanho do meu desejo para que você sempre esteja aqui do meu lado.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-10506506043725185142022-02-25T15:57:00.003-08:002022-02-25T15:57:40.357-08:0029 voltas ao redor do sol<p> eu espero que tudo que eu planejo dê certo, porque eu acho que tudo o que planejo é a escolha certa por agora.</p><p>apesar de todas as incertezas, atrasos e sumiços... acho que vai valer a pena.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-51611905717718553512021-07-08T15:10:00.002-07:002021-07-08T15:13:09.538-07:00demônio do meio-dia<p style="text-align: justify;"> há meses eu te sinto respirar atrás de mim, esperando o momento certo pra atacar. não que você alguma vez nesses longos anos em que me faz companhia tenha esperado o momento certo: sou eu quem forço a barra, seguro o máximo que posso pra que você chegue quando eu estou menos ocupada, ou quando eu consigo fazer malabares com você e as outras questões da minha vida.</p><p style="text-align: justify;">quando eu tinha 12 anos, eu lembro de te sentir comigo pela primeira vez. claro que era tudo muito confuso, e eu tinha outras companhias e outras descobertas a fazer, mas você já estava ali, e aparecia na frente do espelho quando eu ficava sozinha, ou quando eu tinha um caderno na mão.</p><p style="text-align: justify;">aos 15, eu te dei uma ajuda com remédios: tomei um que te ajudou a crescer, e eu já sentia que você provavelmente me acompanharia pro resto da vida. seus amigos, que também viraram uma espécie de companheiros meus, chegaram com novidades: eu passei a me punir, ficar sem comer e depois comer até não aguentar mais, me coçar até tirar sangue, arrancar os cabelos da parte da frente da minha cabeça.</p><p style="text-align: justify;">aos 18, você voltou e me ninou por muito tempo. eu tentei te expulsar de perto de mim, usando remédios. eventualmente, os remédios serviram pra que eu tentasse sair de mim. eu não consegui. esse ano esse episódio completa 10 anos. eu não te entendia muito bem, então chorava muito, não conseguia levantar da cama e as paredes brancas do meu quarto úmido são um gatilho até hoje.</p><p style="text-align: justify;">aos 23, você voltou com uma cara diferente: eu achei que você não voltaria mais, e de certa forma, você não voltou. ou eu mudei, fiquei mais forte. então você teve que mudar também, e eu conseguia fazer tudo o que precisava fazer sem que você me paralisasse. o que de certa forma tornou tudo mais difícil: eu parecia normal; só sentia vontade de me jogar na faixa exclusiva do ônibus do ponto da maria antônia. você trouxe outros amigos, e eu tive que aprender a lidar com eles tomando outros remédios. </p><p style="text-align: justify;">agora, aos 28, você voltou próximo do final de um ciclo. eu sigo fragilizada, por vários motivos. dessa vez, eu estava mais ou menos preparada. eu já te sinto há meses, respirando atrás de mim. eu achei que pudesse ser outra coisa, mas não foi. eu ainda não sei como vou fazer pra lidar com você agora, mas preciso fazer alguma coisa.</p><p style="text-align: justify;">em todas vezes, principalmente depois dos 18, depois que eu tentei sair de mim e não consegui, ter você por perto me dá a sensação de falha. de que eu sou um ser humano quebrado, e que não fui forte o suficiente pra lidar com você e com a vida. eu gosto da teoria de uma antiga terapeuta, de que você nasceu comigo, e sempre esteve no meu sangue. a sensação de fracasso fica menor quando eu penso assim.</p><p style="text-align: justify;">eu não sei se vou contar pros meus pais que você voltou, ou pra qualquer pessoa. eu acho que por enquanto, vou só tentar me fechar um pouquinho, pra entender como você está agora, e como eu posso lidar com você. eu me sinto um fracasso, mas eu acho que sou muito forte, sabe. você sempre esteve comigo, mas nunca me venceu.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-35102696474212981612021-07-02T13:49:00.003-07:002021-07-02T13:53:09.191-07:00todas as divindades como testemunha<p> nunca mais eu vou dar atenção pra nenhum homem que não me mereça</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-80419817138544375382021-06-29T10:20:00.002-07:002021-06-29T10:20:51.828-07:00algum limite<p style="text-align: justify;"> eu não como goiaba há 2 anos, e sinto falta de casa.</p><p style="text-align: justify;">eu também travei, e não consigo me concentrar pra terminar de corrigir minha dissertação, mesmo desesperada pra arrumar um emprego - e eu preciso de um emprego principalmente pra ter dinheiro pra enviar meus livros de são paulo pra porto velho. eu queria viajar, mas não me sinto segura sem ser vacinada, sem dinheiro, e agora que algumas coisas se complicaram em casa, eu não tenho mais nenhuma coragem de pedir dinheiro pros meus pais. eu tenho 28 anos, acho que cheguei no limite do "pedir dinheiro pros pais".</p><p style="text-align: justify;">hoje eu senti muito frio, e muita vontade de chorar, e fiquei deitada parte do dia. queria sumir. pode ser tpm, mas pode ser a entrada de algum período depressivo. não sei ainda. o verão ainda não chegou de verdade, e eu só queria chorar.</p><p style="text-align: justify;">eu ainda não fui tomar meu açaí no restaurante amazonense no centro da cidade, e acho que vou chorar quando tomar.</p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2812145729238010853.post-40064947742392716692021-06-20T12:22:00.001-07:002021-06-20T12:22:56.953-07:00eu queria ser uma italiana bonita<p style="text-align: justify;"> volta e meia e venho aqui e digo que não estou tendo um dia bom. os motivos são variados, mas tem um assunto que sempre volta: o do medo de não ser amada por quem eu sou.</p><p style="text-align: justify;">acho que esse medo é uma coisa meio geral, mas pega sempre mais pesado em pessoas que não se encaixam em padrões físicos ou mentais. eu fui uma menina gorda e racializada (seja nas feições que não são totalmente brancas ou no cabelo que nunca está suficientemente assentado), sempre fui rebelde demais, e sensível demais também. depois de dar voltas e mais voltas na minha cabeça e na terapia, eu entendi que precisava me amar, e trabalhar para o meu crescimento ao invés de esperar que alguém me amasse ou aceitasse. é isso que eu faço. eu tive que entender que não posso comparar a minha história com a de ninguém, nem o meu jeito ou a minha aparência com a de ninguém. a fuga das redes sociais serve basicamente pra isso também. </p><p style="text-align: justify;">mas tem dias em que tudo o que eu queria era alguém que segurasse minha mão. tipo na música dos beatles mesmo. tem dias em que tudo o que eu queria é a companhia que algumas pessoas conseguem de forma tão fácil. o amor, o carinho, a afeição, a admiração. eu queria não ter que aceitar que talvez eu vá ser sempre sozinha, e vou ter aguentar o peso do mundo sozinha, mas com alguma espécie de leveza - pra não sucumbir. é difícil. eu nunca vou ser uma italiana bonita e magra, que vai receber áudios apaixonados de alguém do outro lado do mundo. às vezes me dar conta disso... dói.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Mayhttp://www.blogger.com/profile/13635111278740112248noreply@blogger.com0