uma fermata em cima de todos os prazeres
os deveres em semifusa
Construindo castelos de ar.
Eu acho muito curioso como vários anos de análise e autoanálise agem no meu consciente.
Não tenho consigo dormir nas últimas semanas, mesmo estando de férias e teoricamente não tendo nenhum preocupação. Claro que sempre tenho a sombra de algo sobre mim - estudar hebraico ou tcheco, sair de casa pra me exercitar, tocar piano (ou tentar). Sempre tenho que fazer algo. Não lembro de um dia na vida em que a sombra de uma obrigação não estivesse ali. Mas eu me dou alguns dias e vivo como uma camponesa, sem me preocupar ativamente com coisa alguma.
Ontem contei aos meus pais que parei o doutorado e comecei a trabalhar.
A culpa e o fracasso que vem me acompanhando nos últimos tempos voltaram com força total; ler um romance bobinho dessa nova autora que parou o doutorado pra escrever romances (ah...!) também não ajudou. Mas hoje eu consegui dormir 8h seguidas e as dores no corpo que eu vinha sentindo sumiram. Puf! Milagre.
ps. obviamente meus pais esqueceram tudo o que me disseram quando eu ligava chorando ("não aguento mais o doutorado!) e disseram que só queriam que eu fosse feliz. E meu pai meteu alguns comentários semi-maldosos no meio do áudio (de 5 minutos!) de apoio. Mas meu pai vai ser sempre meu pai.
doce de leite com gruminhos e músicas do roberto carlos e do roberto villar
cordel recitado pra mim e pros meus amigos, palavras cruzadas feitas com lápis pequeno
amor incondicional, sem expectativas, sem julgamentos.
nos dias em que eu não conseguir ser feliz por mim, vó, eu vou ser feliz pela senhora
Dei mil voltas pelo mundo pra terminar chorando na frente de uma câmera por causa dos meus pais.
Tenho pensado muito sobre como não aguento nem minha rotina, e fico pensando em ter filhos. "Não sei se vou aguentar", eu falo pro meu companheiro todas as vezes que preciso pedir um pedaço de bolo de chocolate por delivery porque estou doente, porque não consigo dormir pensando nas coisas que devo fazer, ou quando não consigo fazer feijão e frango pro almoço da semana. Ele faz o feijão e o frango, pede o bolo e leva pra minha mesa de trabalho, e diz que "pai e mãe sempre dão um jeito".
Talvez não devesse ser assim.
(Eu queria que meus pais fizessem terapia)