Acordo. Ao tirar o cobertor de cima do corpo, sinto mais frio que o normal. Meus olhos quase não abrem. Londres é ensolarada quando não deveria ser - se a cidade é cinza, podia ser cinza só em certas alturas do dia, como o final da tarde e a noite. Me arrasto até a sala, onde meu copo de leite está a minha espera. Eu cresci muito em dois meses, mas o café nunca vai entrar na minha vida. Sempre serei a crianca do cereal-acucarado-com-leite, pão-com-nescau. Jogo-me no sofá e ligo a televisão. Não. Não é dia pra televisão.
Comeco a me preparar psicologicamente pro banho. É sempre assim, mas eu sinto que vai ser pior. O banheiro é frio, apesar de o aquecedor estar no máximo. Sinto meu pé queimar quando entra em contato com a água quente. Terminado o banho, vou ao ritual das roupas. Nunca tive problemas em relacão a roupas. Eu só escolhia e pronto. Mas agora eu não. Por mais que eu saiba que vou esconder minhas roupas com o casaco, eu me demoro. Jeans. All star. Alguém muda de canal, pra MTV. Toca "The man who sold the world", interpretado pelo Nirvana. Isso. A música, o tempo, as cores, meu humor. Pego minha camisa de flanela. Xadrex azul, do tipo que minha mãe não compraria nunca para mim. Visto. Olho-me no espelho. Sinto.
Kurt Cobain gastava 500 dólares com heroína por dia. Tomava doses cavalares de lítio. Foi uma das maiores montanhas-russas emocionais da história. "Lithium" e "Negative creep" estão aí pra provar. Eu não faco nada disso. Eu sou bem normal, se me comparo com ele. Eu tenho meus vícios, minhas drogas alternativas. Minhas palavras e meus medicamentos que constantemente me consomem. "O que me nutre, me destrói", Nietzsche dizia. E eu sabia que seria destruída, se procurasse a salvacão para o meu dia cinzento em uma das minhas drogas alternativas.
Assim que me olhei no espelho senti algo diferente. Aquela roupa, aquela cor nos lábios, aqueles cabelos rebeldes. Esse era o meu lítio do dia. Aquela camisa de flanela xadrex azul era minha salvacão.
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