domingo, 3 de abril de 2016

Tanto bate até que fura

Quase todos os dias da minha vida algo me deixa triste. Eu vivo desmotivada, com dores, com olheiras profundas de tantos anos sem dormir direito. Às vezes a tristeza é passageira - eu me dou um tempo, tomo um banho, como um chocolate, leio um livro e melhoro. Às vezes eu ignoro e continuo levantando da cama todos os dias na hora certa, indo pra faculdade e estudando mesmo quando não consigo me concentrar em absolutamente nada. Às vezes é depressão - e eu estive no buraco muitas vezes e por tempo suficiente pra saber quando é e quando não é -, mas mesmo sendo algo que me deixa no piloto automático, me faz deixar pilhas de louça suja na pia e a cama desfeita (eu arrumo a cama todos os depois que levanto) eu não deixo de fazer o que devo fazer e não desisto. Não desisto porque já sobrevivi uma vez, porque sou privilegiada e por mais que duvide de mim mesma a cada segundo (meus sonhos soam como piada pra mim e a cada falha eu ouço uma voz na minha cabeça me dizendo que eu sou burra e incompetente), eu ainda consigo me ver equilibrada e realizada em um futuro distante. 
Toda vez que eu sinto um ataque de pânico ou uma crise de depressão eu reprimo. Reprimo porque a cada instante alguém me diz que é frescura, que eu tenho tudo o que quero de bens materiais e que meus privilégios não podem ser mensurados; acabei internalizando o que esse monte de gente me disse e agora quem diz isso pra mim sou eu mesma. E infelizmente, além de ter uma dificuldade enorme pra me perdoar, costumo ser mais dura comigo que qualquer outra pessoa.
Eu não durmo bem há alguns anos. Em algumas épocas fica pior e eu fico com tanta vergonha que não saio de casa sem corretivo debaixo dos olhos. Cortei leituras na cama, celular, redes sociais; passei a ter horário relativamente fixo pra dormir e mesmo assim continuo dormindo mal ou tendo insônia. Minha alimentação também mudou: depois de vários anos sem comer carne, eu voltei a comer. Não como mais nada com lactose por causa da intolerância. Como frutas, verduras, eventualmente café, raramente álcool e doces com parcimônia (quase tudo de doce tem lactose). E mesmo assim meu estômago dói como se tivesse uma furadeira dentro dele e vivo com enjoo. Meus exames deram nada.
Não lembro de um dia depois da puberdade em que eu não tenha sentido dores no corpo. Dores de cabeça me acompanham há anos. Há algum tempo eu desenvolvi uma urticária maluca que vai e volta quando quer. E mesmo assim não desisto. Não deixo de fazer o que tenho que fazer. Abafo todas as crises de ansiedade, tento chorar no ônibus ou em algum horário que não atrapalhe minha rotina de estudos e quando sinto uma tristeza profunda e sinto que sou incapaz de ser boa em qualquer coisa na vida, eu ignoro. É frescura meu corpo estar respondendo? 
Dizem que se uma pessoa consegue sair de alguma distúrbio psicológico, ela não sai a mesma. Eu era reticente em relação a isso até sentir na pele: eu não sou a mesma menina de antes dos 18 anos, quando eu senti tão lixo que quis acabar com a minha vida. E apesar de lutar por algum equilíbrio todos os dias, às vezes minha mente volta pra aquele quarto branco e pra aquele monte de remédio que eu tomei de uma vez só, achando que melhoraria de alguma forma.
Eu faço listas do que preciso fazer porque acho que talvez isso me dê equilíbrio.
Eu escrevo sobre os meus sentimentos pra tirar de dentro de mim e ver se isso me dá alguma paz.
Eu levanto da cama todos os dias, tomo banho, faço todas as refeições e estudo pra sentir que valho alguma coisa e que vou alcançar algum sonho algum dia (um passo de cada vez).
Eu rio de coisas que não riria há alguns anos atrás (quando era muito mais mal humorada) e agradeço pelo que tenho pra ver se isso me deixa mais feliz.
Não venham me dizer que sou fraca, que o que tenho é frescura sem saber da peleja que tenho comigo mesma.

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