sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Praga

 A barra do meu computador me diz que faz -1C lá fora. Eu fui à cozinha, e tinha uma espécie de névoa no céu, mesmo cedo. Eu acho que nunca vou me acostumar com esses dias curtos de inverno, que acabam 16h da tarde. A neve só é bonita nas fotos. Mas disso eu tinha uma desconfiança quase certa; estar nesse continente só confirmou que sou alguém tropical.

O peso de não saber hebraico fica cada vez maior, a cada dia que passa. Minha garganta dói, a pele do meu rosto age de forma estranha, meu couro cabeludo chora. Pode ser o clima, pode ser a água, pode ser a quantidade de cremes e óleos que eu uso para controlar esse cabelo que não gosta de ser controlado. Mas também pode ser emocional - porque eu não sei hebraico, porque eu ainda não tenho uma rede de apoio nesse país, e não tenho vontade de sair pra procurar pessoas que estejam dispostas a fazer parte desse rede de apoio. Sendo franca, talvez seja porque eu não tenha lá toda essa vontade de fazer parte da rede de apoio de ninguém. 

Aqui todos são educados, mas ao mesmo tempo rudes. Parece que todos eles internalizaram o frio que faz aqui a maior parte do ano. Não sei se aturo ou surto, não sei se tenho forças pra deixar que o meu verão se faça presente pelo menos na minha bolha. Ainda me sinto acuada. Ainda não posso ser eu mesma. Talvez seja por isso que os dias passam sem que eu perceba - porque por enquanto, eu não estou morando em mim.

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