quarta-feira, 7 de setembro de 2016

"O que é meu não se divide"

Eu sempre gostei de ter um tempo pra mim.

Talvez seja coisa de gente que gosta de muito de ler e tem mais livros que amigos (saudades comunidade do orkut); mesmo aproveitando o tempo que tinha com meus amigos, minha hora mais sagrada era a hora da leitura - normalmente no meu quarto, deitada, às vezes escondida no banheiro para escapar de alguma função doméstica. Em Londres eu aprendi a gostar de andar sozinha pelas ruas, no meu próprio ritmo (rápido quando eu tinha compromisso e olhando pra tudo quando eu só tinha que visitar algum museu). Em Pelotas eu aprendi a fazer compras só pra uma pessoa, a viajar nos assentos mais perto da porta pra fugir dos tarados do fundo do ônibus, a chegar em casa e ter o silêncio me esperando. Foi em Pelotas que ganhei meu computador, que não me deixava ficar só nem quieta por nenhum segundo - eu chegava em casa e ia direto me abrir pra desconhecidos em redes sociais.
Só aqui em São Paulo eu aprendi verdadeiramente a ser só.
Fiz mudanças, faxinas, refeições e fui ao cinema. Mesmo quando namorava, fazia quase tudo só. Agora que quase não uso mais redes sociais e meu celular quase não funciona, nem o pisca-pisca incessante de conhecidos distantes me faz companhia - e eu não poderia estar mais feliz.
Sinto que cresço. Cada dia descubro alguma coisa sobre mim, aprendo alguma coisa e me acostumo com o silêncio. Às vezes eu tenho que driblar o silêncio, mas nada que fones de ouvido e vídeos de karaokê não ajudem. Já não fujo mais da terrível ligação para marcar consultas médicas, nem de lavar as frutas assim que chego do mercado. Anoto tudo o que preciso fazer na minha agenda, e sinto um prazer quase físico quando risco o que fiz no dia. Não dependo emocionalmente de ninguém que não me ame incondicionalmente (minha família).

Eu finalmente me basto.

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