quarta-feira, 26 de março de 2014

Dickinson de um amor só.

Eu sou alguém antigo preso num corpo de um mundo novo.
Talvez meu ambiente de crescimento tenha me transformado em um ser que tende a ilusões e platonismos. Talvez eu tenha nascido assim, mas quem sabe. Só sei que nego o para sempre desde sempre e talvez isso tenha feito de mim alguém amargo. É como negar que sou extremamente sensível enquanto choro assistindo um seriado britânico dramático ou vendo alguém tentar vender doces no transporte público: é negar o que está bem na minha frente. 
Eu quis ser dadá mas acabei barroca, negando ser romântica. 
E bem, negar nunca me fez bem.
Talvez eu seja Fanny declarando Bright Star pela floresta, Byron tomando vinagre por ser paranoico com aparências; Werther morrendo por amor, Austen fantasiando uma vida inteira com o que poderia ser, Plath sucumbindo ao ciúme, Woolf enlouquecendo, Heathcliff vingativo.
Talvez eu seja Jane Eyre e espere para sempre.
Não estou no aguardo dessa chama, porque sei que fogo é algo raro hoje. Mas anseio. E dói saber que não vou ter algo assim - não nessa idade, não nesse lugar, não nessa época. Sempre doeu. Provavelmente sempre doerá.
Mas sigo iludida. Pela primeira vez, com orgulho.

"Ah! dearest love, sweet home of all my fears, 
And hopes, and joys, and panting miseries, -- 
To-night, if I may guess, thy beauty wears 
A smile of such delight, 
As brilliant and as bright, 
As when with ravished, aching, vassal eyes, 
Lost in soft amaze, 
I gaze, I gaze!"


(Ode to Fanny by John Keats)

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