terça-feira, 29 de junho de 2021

algum limite

 eu não como goiaba há 2 anos, e sinto falta de casa.

eu também travei, e não consigo me concentrar pra terminar de corrigir minha dissertação, mesmo desesperada pra arrumar um emprego - e eu preciso de um emprego principalmente pra ter dinheiro pra enviar meus livros de são paulo pra porto velho. eu queria viajar, mas não me sinto segura sem ser vacinada, sem dinheiro, e agora que algumas coisas se complicaram em casa, eu não tenho mais nenhuma coragem de pedir dinheiro pros meus pais. eu tenho 28 anos, acho que cheguei no limite do "pedir dinheiro pros pais".

hoje eu senti muito frio, e muita vontade de chorar, e fiquei deitada parte do dia. queria sumir. pode ser tpm, mas pode ser a entrada de algum período depressivo. não sei ainda. o verão ainda não chegou de verdade, e eu só queria chorar.

eu ainda não fui tomar meu açaí no restaurante amazonense no centro da cidade, e acho que vou chorar quando tomar.

domingo, 20 de junho de 2021

eu queria ser uma italiana bonita

 volta e meia e venho aqui e digo que não estou tendo um dia bom. os motivos são variados, mas tem um assunto que sempre volta: o do medo de não ser amada por quem eu sou.

acho que esse medo é uma coisa meio geral, mas pega sempre mais pesado em pessoas que não se encaixam em padrões físicos ou mentais. eu fui uma menina gorda e racializada (seja nas feições que não são totalmente brancas ou no cabelo que nunca está suficientemente assentado), sempre fui rebelde demais, e sensível demais também. depois de dar voltas e mais voltas na minha cabeça e na terapia, eu entendi que precisava me amar, e trabalhar para o meu crescimento ao invés de esperar que alguém me amasse ou aceitasse. é isso que eu faço. eu tive que entender que não posso comparar a minha história com a de ninguém, nem o meu jeito ou a minha aparência com a de ninguém. a fuga das redes sociais serve basicamente pra isso também. 

mas tem dias em que tudo o que eu queria era alguém que segurasse minha mão. tipo na música dos beatles mesmo. tem dias em que tudo o que eu queria é a companhia que algumas pessoas conseguem de forma tão fácil. o amor, o carinho, a afeição, a admiração. eu queria não ter que aceitar que talvez eu vá ser sempre sozinha, e vou ter aguentar o peso do mundo sozinha, mas com alguma espécie de leveza - pra não sucumbir. é difícil. eu nunca vou ser uma italiana bonita e magra, que vai receber áudios apaixonados de alguém do outro lado do mundo. às vezes me dar conta disso... dói.


sábado, 12 de junho de 2021

desejo

 hoje é um daqueles dias que eu queria limpar a casa, tomar um banho e ser deixada sozinha. ligar a tv enquanto faço as unhas, sentindo o cheiro de sofá limpo.

um dia, de novo. um dia.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Voltar a viver

 Ontem eu terminei a primeira versão da minha dissertação e enviei para minha orientadora.

Tenho certeza que volta com correções (não muitas, porque já foi quase tudo corrigido), mas o grosso da escrita já foi. 

Eu saí para beber uma sangria no meu lugar predileto do Porto, pra esquecer que estou me sentindo uma fraude por ter escrito só 75 páginas de texto corrido. "No Brasil eu teria que ter escrito pelo menos 100!", o demônio sussurra em um dos meus ouvidos.

Foi o que deu pra fazer. Eu fui mal orientada, eu levei um pé na bunda, meu país está passando por um genocídio, eu usei livros baixados da internet. Eu fiz o possível. É nisso que tenho que pensar.

Hoje já comecei a estudar francês por mais horas, e logo mais saio para caminhar. Eu estou vendo Seinfeld e Buffy, e vou abrir o primeiro romance de banca que estiver no meu kindle. Eu não preciso ser perfeita. Eu só preciso ter uma vida.

domingo, 30 de maio de 2021

Acabou

 Eu não gosto de mentiras.

Eu também não gosto de mentir, e talvez seja por isso que eu seja tão ruim nisso. As poucas vezes que eu menti na vida não acabaram de uma forma boa, e as pouquíssimas coisas que eu não conto para os meus pais acabam habitando algum canto obscuro da minha consciência, cheio de culpa. Talvez seja algo da educação católica, alguma baboseira sobre abrir sua vida inteira para a sua família, misturada com a culpa católica - e quem sofre do mal da culpa católica sabe que ela pode acontecer em relação a absoltamente tudo. 

Por mais estranho que seja, eu prefiro encarar a realidade. Digo estranho porque quem me conhece minimamente sabe que eu sou uma pessoa sensível, e tudo me afeta. Mas eu prefiro ser afetada pela realidade do que viver uma ilusão, uma mentira. Prefiro ser afetada pela realidade, sofrer, ficar estressada, do que descobrir algo sem estar preparada para esse algo. Eu odeio ser pega desprevenida. Mas acho que acima de tudo, eu odeio a sensação de ser traída. Eu posso até entender os motivos de quem trai (e aqui falo de qualquer tipo de traição, apesar de estar sentindo agora uma traição de confiança), mas eu não aceito. 

A minha mãe pegou covid pela segunda vez, mentiu que estava com outra coisa, e a maioria do meus amigos sabia. Eu ouvi justificativas de algumas pessoas: foi por amor, foi pra te proteger, foi porque você tava estressada e ocupada na fase final da dissertação. Eu me sinto como alguém de 10 anos, que precisa ser protegido de notícias ruins pra não ficar traumatizado. A diferença é que tenho quase 30, e que minha vida poderia ter sido afetada diretamente se algo ruim acontecesse. "Mas se estivesse ruim ela teria contado" - teria mesmo? Ou seguiria mentindo? Acho que agora não dá mais pra confiar se faria ou não, né. Se eles mentem e omitem, eu acho que também posso fazer isso.

Toda a culpa que eu sentia por omitir coisas mínimas dos meus pais foi embora. Eu sinto muita raiva, mas pelo menos disso eu estou livre.