Feche a página se quiser algo sério. Isso vai ser só um desabafo.
Sei que já disso isso. Milhões de vezes. Pra quem quis e não quis ouvir. Mas a adolescência é - não sei me expressar de outra forma - a fase mais fodida da vida. Se você não concorda, provavelmente é um inconsequente que se encaixa. Eu não.
Tudo comecou quando os meus pais não bombardearam com com glitter e cor-de-rosa na infância. Enquanto as minhas amigas assistiam Cinderela e afins, eu assistia Mogli, Rei Leão, anime e Pernalonga e Patolino. Minhas fantasias de carnaval eram de bruxa e cigana, nunca de princesa. Com o tempo, eu comecei a odiar rosa, frescura e qualquer outra coisa que lembrasse de longe feminilidade. Meus amigos eram meninos e eu de certa forma queria ser como um menino. Não queria ser zoada, pagar de fraquinha. Meu orgulho não deixava.
O primeiro choque veio aos 10, quando era descobri que era menina. Primeiro sutiã, essas palhacadas. A responsabilidade que um maldito pedaco de pano trouxe foi quase insuportável. Eu não podia mais querer ser menino. Eu tinha que ser feminina. Eu tinha que ser como as Barbies que sempre brinquei (depois dos vestidos e cabelos impecavelmente arrumados, única coisa de menina da minha infânica). As cobrancas vieram de todos os lados. Mãe, amigas, escola. Só meu pai me entendia. Só meu pai sabia que o meu mundo era perfeito do jeito que estava, cheio de livros e cadernos.
Mas eu tive que mudar. Foi duro na época, eu lembro. Levantava os punhos e gritava contra esse tipo de sistematizacão sempre que podia. Mas mudei.
Aos 12 eu tive minha primeira desilusão de amigas. Aos 13 a segunda. Aos 14, a terceira e pior - aquela que me mudou completamente. A Umáyra de hoje não tem uma fibra da Umáyra de antes dos 14. Marcas profundas. Soa falso, extremamente dramático e exagerado, mas cada um lida com as coisas de modo diferente.
Os livros, se tornaram meus livros. Meus amigos, meus amantes. Parece papo de gente velha que tem sua própria biblioteca, eu sei. Mas só neles eu podia confiar. Os livros me apresentaram ao cinema, que me apresentou à boa música. A boa música me fez sentir (mais) revolta, e me tornei radical em relacão a tudo. Eu tinha muito menos que duas décadas de existência e ninguém me segurava.
Além de entrar em conflito com o mundo, entrei em conflito comigo mesma. Eu, pequenino menino wannabe, comecei a ter sentimentos por alguém. Uma das únicas coisas na vida que não me atingiu precocemente. Tive vergonha. Vergonha porque nenhum radical pode sentir nada, além de revolta. Eu não era eu, eu era o instrumento de uma idéia. Vergonha porque não podia quebrar meus votos de ser pra sempre imune a esse tipo de coisa. Então escondi.
Aos 15 reaprendi (?) a confiar em alguém. Acalmei a militante que existia dentro de mim. Aprendi a ouvir, aceitar, esperar, ter paciência, fingir. Sozinha. Convivi com alguém que sugava o pouco positivo que eu tinha. Firme, forte, rocha. Virei rocha. Tinha sangue quente suficiente correndo nas veias pra me sensibilizar pelos outros, mas nervos de aco em relacao a mim mesma.
Os 16 chegaram, meu último ano de escola chegou e com ele a expectativa da quebra de rotina. De futuro. Assustador e sombrio, mas excitante. Foi um inferno. Inferno porque a aparência - aquela coisa tola e inútil - contra quem eu sempre lutava em silêncio, resolveu vir à tona. Não aguentava mais estudar coisas que não me traziam solucões. Tudo me sufocava. Tudo.
Contei o que sentia pro meu amor platônico. Primeira vez na vida que contei o que sentia. Primeira vez na vida que fiz algo sem pensar. Frustrei-me.
Não sabia o que fazer. Queria viver de leitura, viver de escrita, viver de palavras. As palavras me construíram e reconstruíram, e com isso cheguei à conclusão de que eles eram minha vida.
Se não fossem as palavras, queria que fossem as pessoas. As pessoas são egoístas, é verdade. Mas eu queria ajudá-las. Eu também era uma pessoa.
Não decidi. "Não sei, não sei", não passei no vestibular. Desmoronei. Chorei por três dias seguidos. Não quis ver ninguém. "Fugir" era a única saída, não importava como. E mais uma vez, as palavras me pegaram no colo e me fizeram enxergar as coisas como são.
Fugi. Me despedi de alguns, porque minha mãe me obrigou. Estava tão eufórica que não me importei. Eu, Umáyra-neofóbica, eufórica com algo novo. Estava mudando de novo e não percebi.
Experimentei tudo que pude, procurei dizer "não" o menos possível, conheci coisas novas e me permiti sentir.
Fiz 17 longe de casa e tudo virou possibilidade.
Ainda me sinto lixo, montanha russa emocional, não sei o que fazer, não sei onde vou morar, não sei nada do futuro e não planejo mais nada.
Pela primeira vez na vida, eu só sinto. Há dois meses eu não sou barroca, não sou realista, não sou romântica, nem me atrevo a dizer que sou árcade.
Eu só sinto.
E é libertador.
Eu sei que não vivi o suficiente pra saber o que é realmente se foder e não sofri de verdade, mas como eu disse, cada um lida com as coisas do jeito que sabe. Minha adolescência vai terminar oficialmente daqui a pouco, mas eu não sei se vai acabar dentro de mim. Talvez com análise, talvez sozinha. Talvez tudo isso seja fase e eu só não enxergo saída porque estou olhando as coisas pelo ângulo errado. Talvez eu devesse fazer útil a velha rabugenta de 70 anos que existe dentro de mim. Não sei. Por enquanto só vou seguir meu lado direito do cérebro.
(Por enquanto, Enjoy the silence, Wrong, Peace will come to me, Mastigando Humanos, Meg Cabot, Nora Roberts, Álvaro de Campos, Paulo Leminski, Charles Bukowski, Bakunin, Jane Austen, Rock n Roll. O que salvou a minha vida diversas vezes).
Nenhum comentário:
Postar um comentário