domingo, 3 de novembro de 2024
O tempo em minhas mãos
quarta-feira, 12 de junho de 2024
360
segunda-feira, 8 de abril de 2024
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
Blackbird
Sábado passado eu casei. Alguns amigos que moram em São Paulo vieram pra cá, minha melhor amiga e meus pais vieram de Porto Velho, e na hora da cerimônia mesmo eu senti vontade de fugir pra Gretna Green.
Eu realmente não gosto de grandes cerimônias, ou de todos os olhos voltados para mim.
Eu também estou há milímetros de tomar uma das maiores decisões da minha vida. E vai ser só minha.
"All your life, you were only waiting for this moment to arrive.
Blackbird: fly. Into the light of a dark, black night."
quarta-feira, 31 de janeiro de 2024
No milésimo dia desse mês quase eterno
Tomei minha primeira multa de trânsito e 4 pontos na carteira (e provavelmente em menos de um mês a outra multa chega) e estou há algumas horas abrindo o aplicativo do Gmail em estado de negação. "Nunca mais vou dirigir" - é o que se passa na minha cabeça (realidade: semana que vem preciso pegar a estrada de novo pra buscar alguém no aeroporto. Aliás, nem preciso ir tão longe: preciso pegar o carro na sexta-feira para ir à fisioterapia, e na volta preciso passar no mercado mais barato para comprar atum enlatado).
Depois dos 25 minha vida virou um esquete de comédia em que a protagonista diz "nunca mais vou fazer isso!", e logo em seguida corta pra ela fazendo exatamente isto. Meus pais reclamam sempre que eu só faço o que quero, mas no meu coração eu sinto que estou sempre fazendo coisas que odeio (talvez eles digam isso porque eu só não faço o que eles querem).
Estou na segunda sessão de fisioterapia e meu pé dói menos. Hoje eu me peguei esticando os pés e a dor usual que sinto não apareceu. Tive um momento de revelação muito parecido com o momento de revelação que tive depois de 2 meses de fisioterapia depois de operar os dedos - uau, fisioterapia funciona, o mundo é lindo, eu amo a ciência!
Hoje também me senti fracassada, e já comecei a pensar no banzo que a Europa vai me causar em alguns meses. E como sempre, eu acalentei essa tristeza, pensando ali que não tenho ninguém por mim em Praga além do Matous. Tudo o que quero esse ano é entrar em acordo com essa realidade.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2024
'I'm not here, this isn't happening"
Nesse momento da vida em que nada de fora faz sentido, eu me encontro cada dia mais olhando pra dentro e pra trás. Talvez porque olhar pra frente, além de me causar um mal estar tremendo, não faz muito sentido justamente por eu não sentir vontade de ir pra frente. Ter investido todas as minhas forças numa vida intelectual e acadêmica não me rendeu nada, e ter feito toda a minha personalidade girar em torno disso só fez com que no momento em que eu não quis mais ser uma intelectual, tudo fosse abaixo. Todos esses anos em escolas, universidades, cursinhos, salas de aula, foram só pedaços de um castelo de ar que começou a ruir há 3 anos. Eu sigo dentro desse castelo e ele está pegando fogo. Eu não sei como sair, e sinto que todas as pessoas em que eu confio também não querem que eu saia dele.
Eu só queria parar. Só um pouquinho.
Desde 2020 alguns gostos que eu tive na adolescência voltaram. Eu voltei a ver e rever animes, aos poucos estou abandonando as redes, voltei a ver filmes e até a ler livros físicos. Meu maior feito do ano passado foi ter terminado "Terra estranha" do James Baldwin. Levou meses. Eu lia algumas páginas todas noites, e foi dolorido - que loucura que um livro em 1962 ressoe tão forte hoje, não?
Também li alguns romances. Nada memorável. Nada como uma trilogia da Nora Roberts, uma série da Meg Cabot ou até mesmo a pior melhor série que li durante a faculdade (Stage Dive). Acho que sinto falta de algo que me deixe obcecada, que vire minha vida de cabeça pra baixo e me mude completamente. A coisa mais próxima que me causou esse sentimento transpassante foi "Aftersun"; chorei por horas depois de assistir, levei pra terapia diversas vezes e passei meses pensando nesse filme. De vez em quando ainda penso. Principalmente porque ando pensando bastante em ser mãe.
Essa semana o John Galliano fez um retorno triunfal com uma coleçao da Maison Margiela e eu lembrei de quando tinha 12 anos e quis ser estilista. Meu sonho era morar em São Paulo e estudar Moda na Santa Marcelina - fui uma criança semi-criativa, e nessa fase do anime eu gostava de desenhar mulheres e roupas. Esse sonho morreu assim que eu entendi que ter um corpo gordo seria uma pedra no meu caminho; ficou só o sonho de São Paulo mesmo. Eu era tão obcecada pelo Galliano, que fui algumas vezes até a Harrods atrás de um perfume dele. Nunca comprava. Só ficava admirando o frasco pensando que um dia eu teria dinheiro suficiente para ter várias coisas bonitas, incluindo aquele perfume. Nessa época eu também sonhava em ir a um show da Madonna com meu pai, e hoje sei que é muito provável que isso não aconteça. Alguns anos depois de namorar o perfume do Galliano pela vitrine, ele foi demitido da Dior por ser racista. Perdi todo o encanto. O sonho morreu. Meu sonho de ver um show da Madonna com meu pai talvez esteja definhando também - talvez essa seja a última turnê dela, talvez eu não more no Brasil. Envelhecer parece ser ter muita certeza na montanha de "talvez" que a vida vai nos jogando.
E ah. Em algumas semanas eu vou casar.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2024
domingo, 7 de janeiro de 2024
Eu quero acreditar que a Anistia Internacional e o C1 em francês não me tornariam alguém feliz
Eu um dia quis mudar o mundo, até meu mundo acabar um pouco. Aí decidi que só queria ser feliz. Mas acho que sempre ficou ali um resquício dessa vontade, misturada com um sentimento de fracasso (que sempre me acompanhou em quase todos os âmbitos de vida). Eu nem tentei mudar o mundo - não do jeito clássico, óbvio, de quem trabalha em ONG, coloca a mão na massa. Claro que cada ser humano pode mudar muita coisa em proporções menores; talvez a "escolha" de ser professora tenha sido causada por esse desejo de mudar alguma coisa.
Eu nunca estive tão perdida profissionalmente. E por conta dessa sensação, de estar nesse deserto, sozinha, caminhando sem nem ver um oásis, tudo que se relaciona com minha falta de vida profissional ou com a vida profissional que eu poderia ter tido me machuca de maneiras inimagináveis. Alguns fantasmas do meu passado voltam para me assombrar; fantasmas que eu nem sabia que existiam, mas toda vez que aparecem, eu acabo entrando numa grande espiral de crise existencial.
Hoje eu chorei no ombro do meu amor, listando todas as minhas frustrações; chorei porque os remédios que eu tomo para perder peso só me dão nausea, e porque meus pés doem. Chorei porque estar nesse deserto é horrível. Chorei porque não tenho coragem de fazer o que precisa ser feito.