É engraçado ver como quase todo mundo gosta de resumir as coisas, tornar absolutamente tudo mais simples. Até mesmo uma pessoa. O ser humano é complexo em cada mínimo detalhe biológico: físico e principalmente mental - e é justamente esse aspecto o mais erroneamente simplificado. Não se pode querer explicar sentimentos. Mesmo o ser mais dotado de empatia não pode afirmar com certeza como o outro se sente. Ele se põe no lugar e expressa achismos. Mas ele não pode afirmar o que o outro pensa ou como o outro se sente (por mais que você ache que isso é possível fazer e faça o tempo todo comigo, pai).
Quando eu digo que estou triste ou com a autoestima baixa, ninguém pode fazer nada. As pessoas podem me escutar e dizer "eu sei, é difícil, mas vai passar" (mesmo não sabendo o quão difícil é), mas julgar e dizer "você é assim por causa disso e disso" além de inútil é cruel. E é mais ou menos isso que acontece TODAS AS VEZES em que eu tento explicar o que eu sinto pra vocês: eu tento apontar motivos (que podem estar corretos ou não - nem minha terapeuta, nem nenhum dos textos que eu escrevo desde os 12 anos podem mostrar ao certo a "causa dos meus problemas e paranoias"), mal termino e sou julgada. "Você devia ter feito isso. Eu falei pra você". Como se eu, alguém que sofre de ansiedade a ponto de ter entrado em depressão, precisasse de mais julgamentos. Tenho plena consciência de que preciso de conselhos e é dever de vocês dá-los. Mas eu não preciso de mais gente me julgando. A minha mente já faz um trabalho muito bom em relação a isso.
Não tentem querer resumir meus sentimentos. É estúpido dizer que eu tenho autoestima baixa porque sou gorda. Isso não é matemática, existe todo um contexto por trás de mim. E autoestima não tem a ver apenas com aparência, por mais que vocês insistam em me dizer isso quando eu menciono "autoestima". Uma pessoa não chega ao ponto de querer não existir simplesmente porque é "gorda" ou "feia". Eu não me enganei ou tentei enganar os outros quando disse que não ligava pra isso, mãe. Eu realmente achava e ainda acho que é idiota ligar pra isso, mas como todo ser humano, eu também quero ser aceita. É muito confuso pra minha cabeça ter que aceitar a ideia de que eu tenho que mudar - e durante essa mudança sofrer desnecessariamente - pra poder ser aceita. Eu sempre quis só ser aceita, principalmente por vocês, Talvez a fonte da ansiedade seja essa: a aceitação. Eu não posso mudar o pensamento de toda uma sociedade, mas eu poderia tentar mudar o de vocês. Não é legal e nem fácil ouvir um "Eu te amo do jeito que você é, mas..."; o implícito sempre foi bem claro pra mim: você está errada. "Eu te amo, mas você está errada".
Eu sei que não é fácil pra nenhum dos dois me ver confusa ou triste. Eu sei que se fosse por vocês, eu não sofreria. Mas vida é isso. Eu também queria ter respostas. Mas não tenho. E nem vocês (por mais que você ache que pode resolver tudo na minha vida, pai. A vida acaba sendo minha, não é?).
(Escrito pros meus pais em 06/07/2013. Não tive coragem de enviar)
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