sexta-feira, 20 de abril de 2018

confesión

a veces creo que nadie va a enamorarse de mí sin sentir verguenza

Contando

Você me disse que ela era louca, e claro que eu desconfiei, porque todas nós somos um pouco loucas. Não. Minto. Você não me disse que ela era exatamente louca, mas me contou das coisas que ela fazia, e eu achei que ela fosse um pouco louca. Você me falou o primeiro nome dela, e deu pequenos detalhes, suficientes para que eu montasse um quebra-cabeça, uma colcha de retalhos de alguém que teve algo que eu não tenho. 
Há duas semanas eu sentei do lado de alguém que parecia com ela. O mais estranho de tudo é que aquele lugar era enorme, e eu poderia ter encontrado todas as pessoas do mundo, mas eu encontrei justamente com a imagem que eu formei dela baseada nas coisas que você disse. Ela também usava óculos, e parecia assertiva. Você me disse que ela não era confiante, mas eu acho que todas as pessoas confiantes demais escondem alguma insegurança. Ela falava alto, era menor que eu, e eu até poderia dizer que parecia mais bonita. Ela estava falando sobre algo meio sexual, e violento, e eu pensei em todas as minhas travas, aquelas que eu não ouso falar na análise.
Perdi a fome. 
Empurrei aquele bolo de comida pra aguentar a tarde atarefada.
A voz dela ficou mais alta pros meus ouvidos, e eu senti vontade de gritar. Ninguém mais estava ouvindo aquela voz estridente? Ninguém mais achava que ela parecia louca, e grande demais, mesmo sendo menor que eu? 
Senti frio e fiquei com medo de vomitar toda a comida e todos os sentimentos da frente de pessoas que não conhecia. 
Eu sou uma mulher grande, mas me senti minúscula. Um quebra-cabeça irreal tornou real o meu maior medo: o de ser exposta como uma menina.

domingo, 8 de abril de 2018

Meu eu de agora

Eu tenho depressão (de novo), não consigo controlar a ansiedade e se transformou em transtorno, que juntou com um transtorno obssessivo compulsivo (não sei de onde).
Venci esse leão uma vez, e vou vencer de novo.
Quinta começo com os remédios.
Queria poder responder as pessoas e conversar. Meu amor pelos meus amigos continua o mesmo, senão maior. Sou muito grata. Mas estou meio perdida e queria sumir. Não sei como vou pedir perdão pra eles (por ser ausente) depois que isso passar. Eu queria ser mais forte.


ps. Oi Marte. Eu procurei seu comentário anual de aniversário e fiquei triste quando não achei. Vi hoje e abri o maior sorriso do dia. Todo ano eu penso no quão livresca é essa nossa relação - eu não te conheço, não sei se você me conhece, mas sei que você me conhece porque me lê (e tirando a terapia, aqui é o lugar em que eu mais sou eu mesma). Talvez um dia eu escreva um livro sobre isso, mesmo que eu nunca te conheça. Aí posso escolher o final...

terça-feira, 20 de março de 2018

Sonho, sangue e América do sul

Eu tenho 25 anos agora e posso cantar me sentindo com 25 anos.
Quinta agora tenho psicóloga, porque sim, eu estou um pouco doida. E perdida. E me magoando por paixões de novo. E sem tempo pros meus amigos.
O básico.
Queria que as milhares de listas que eu faço organizassem a minha cabeça.


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

"I formulate infinity and store it deep inside of me"

Faltam sete dias pra eu completar um quarto de século.
Esse drama todo de "um quarto de século" é justamente porque faltam sete dias pra eu completar um quarto de século.
E eu estou... cansada.
Vim mais cedo pra São Paulo na esperança de estudar (três livros pra ler! Dois do TGI) e não adiantou muita coisa. O mês que eu tinha simplesmente voou; agora eu tenho cinco dias pra ler pelo menos dois desses três livros, mas eu não consigo fazer nada além de sentir falta de ar, dor de cabeça e chorar. 
Aliás chorar é algo que eu venho fazendo com maestria por 25 anos, mas preciso me dar os parabéns pelos últimos dois meses. Acho que eu vim pra São Paulo mais cedo pra ficar sozinha, em silêncio e chorar sem medo de ser pega de surpresa por alguém me perguntando porque eu estava chorando. Funcionou bem até meu irmão voltar e eu voltar a entrar em parafuso; eu gosto de dizer pra mim mesma que as duas últimas semanas foram piores porque eu estou em inferno astral - mesmo não tendo certeza se isso existe mesmo, mas sentindo muitas coisas. Fevereiro é o mês em que eu me sinto mais pisciana e gosto de falar que sou pisciana (além dos momentos sentimentais do dia-a-dia, que são muitos no meu). 
Eu voltei a fazer dieta, a tomar os sucos dietéticos pelos quais minha mãe pagou caro (e eu coloquei fé, vou ser sincera). Até consegui diminuir consideravelmente os doces, quase zerar. Hoje eu acordei mais taciturna que o normal e não consegui segurar a tremedeira pela falta de açúcar, então fui na padaria da Augusta e comprei um trocinho de maracujá ("é bom pros nervos, né moça?"), cheguei em casa e fui food-shamed pelo meu irmão - o que resultou numa torrente de mensagens furiosas pra minha mãe, algumas lágrimas, mais dor de cabeça (todos os dias no mesmo horário, uma semana e contando) e eu chorando rios vendo Queer Eye na Netflix. Eu estou engordando, mesmo de dieta. Deve ser a tireóide. Também perdi o ânimo de ir pra academia, e todos os dias uso a desculpa de que tenho esses três livros pra ler, mas a verdade é que eu ando sem ânimo pra absolutamente tudo. Também deve ser a tireóide. A falta de ar e o peso no peito me incomodam, e os telefones de terapeutas que só chamam e não atendem também. Mas eu vou sobreviver, até ficar tranquila alguma hora. Essas coisas sempre foram e voltaram, e eu estou aqui até hoje.
Hoje é o dia em o Kurt Cobain nasceu, e eu me impressiono como uma dia achei que fosse me desconectar dessa ligação estranha que eu sinto com um homem que morreu quando eu tinha 1 ano e sentia coisas demais. Eu ainda me sinto tão adolescente. A diferença é que hoje eu consigo ver muita beleza em tudo, e até tenho muitos momentos felizes, mas continuo me achando essencialmente triste; é como se um buraquinho negro ainda estivesse aqui dentro.
Eu espero que um dia ele fique mais escondido que aparente.