sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Praga

 A barra do meu computador me diz que faz -1C lá fora. Eu fui à cozinha, e tinha uma espécie de névoa no céu, mesmo cedo. Eu acho que nunca vou me acostumar com esses dias curtos de inverno, que acabam 16h da tarde. A neve só é bonita nas fotos. Mas disso eu tinha uma desconfiança quase certa; estar nesse continente só confirmou que sou alguém tropical.

O peso de não saber hebraico fica cada vez maior, a cada dia que passa. Minha garganta dói, a pele do meu rosto age de forma estranha, meu couro cabeludo chora. Pode ser o clima, pode ser a água, pode ser a quantidade de cremes e óleos que eu uso para controlar esse cabelo que não gosta de ser controlado. Mas também pode ser emocional - porque eu não sei hebraico, porque eu ainda não tenho uma rede de apoio nesse país, e não tenho vontade de sair pra procurar pessoas que estejam dispostas a fazer parte desse rede de apoio. Sendo franca, talvez seja porque eu não tenha lá toda essa vontade de fazer parte da rede de apoio de ninguém. 

Aqui todos são educados, mas ao mesmo tempo rudes. Parece que todos eles internalizaram o frio que faz aqui a maior parte do ano. Não sei se aturo ou surto, não sei se tenho forças pra deixar que o meu verão se faça presente pelo menos na minha bolha. Ainda me sinto acuada. Ainda não posso ser eu mesma. Talvez seja por isso que os dias passam sem que eu perceba - porque por enquanto, eu não estou morando em mim.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Maus hábitos

Hoje eu comi quase um pacote inteiro daqueles canudinhos pra sorvete, e bebi pouca água. Almocei um peixe horrível - congelado, sabe deus que peixe era, mas eu também estou no meio da Europa, praticamente no leste... o que eu esperava? - com ervilhas, em mais uma tentativa de fazer dieta que provavelmente vai ser levada aos trancos e barrancos. Os canudinhos foram uma resposta ao peixe ruim; como sempre, eu estou em um estado de descontrole emocional.
Minha terapeuta também me disse que eu regredi em alguns aspectos. Foi um golpe. Eu esperava que ela fosse falar isso, afinal de contas eu meio que falei com todas as letras que estava radicalizada, tinha voltado a ouvir Nina Simone e estava me sentindo meio tola em relação aos meus anseios.
A também (quase) constante crise existencial voltou com todas as forças.
Meu estômago dói como doía há 15 anos. Eu acho que vou voltar a escrever aqui, e voltar a deixar de lado todas as ourtas redes que me lembram que essencialmente eu sou uma pessoa muito sozinha, e que tenho essa dificuldade absurda de manter relações saudáveis.
Se eu tivesse um rivotril, hoje eu seria feliz. Até um dramin me ajudaria hoje. Talvez um gaviscon. Mas eu to aqui tentando me contentar com essa postagem e um dos meus livros de conforto.


ps. o livro em questão é o "Lead", da série Stage Dive, da Kylie Scott. Baixaria pura. Eu releio essa série pulando várias páginas em vários momentos de crise. Fiz isso por muitos anos com "A Herdeira" e "Se houver amanhã", do Sidney Sheldon.
pps. talvez eu deva tomar um banho. Brasileiro resolve tudo indo tomar um banho.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Como desaparecer completamente

Ninguém nunca me ensinou nada sobre responsabilidade afetiva, mas o catolicismo e a culpa católica sempre correram nas minhas veias como lava. A culpa por não conseguir arrumar o mundo - que eu comprei do meu pai, por o ver constantemente tentando e não conseguindo. A culpa por não conseguir salvar as pessoas que estavam ao meu redor, fossem conhecidas ou não. Não sei se é nítido que eu sou essa pessoa que acaba carregando muito peso e internalizando sentimentos, mas sei que ao longo da vida eu fui amiga de muita gente que fez com que eu me sentisse ainda mais culpada. 
O fato de eu ser uma pessoa quebrada ajuda, eu acho. Talvez os amigos que aparecem e também estão quebrados confiem em mim para mostrar que estão quebrados. Mas eu não sou assim o tempo todo. De vez em quando eu estou bem. E talvez isso faça parecer pro mundo que eu sou forte o tempo todo, e aguento levar porrada o tempo todo. Que aguento mudanças de humor, patada, que aguento inconstâncias. Essas coisas que machucam aos poucos, e que a gente vai aguentando porque se diz "ah, meu amigo só teve um dia ruim. Ele merece que alguém aguente um dia ruim. Eu sou amiga, amigo serve pra isso". 
E assim a gente vai levando. 
Ontem uma amiga disse que eu tive muitas amigas que cometeram abusos comigo, e eu só olhei pra ela com vontade de chorar.
"Eu sempre tive homens me abusando psicologicamente, mas nunca mulheres. Parece muito mais cruel", ela me disse.
Eu não sei se foi abuso ou não, mas sei que sempre me senti culpada. Porque essas amigas precisaram de mim, e eu não estava lá - porque eu tenho as minhas próprias demandas, porque me senti magoada pela grosseria com que elas me tratavam. Eu sempre me senti filha da puta, e todas as vezes que elas se afastaram, ficou um gosto amargo na minha boca. Eu sempre acho que poderia ter feito mais, mesmo sabendo ali no fundo que eu não teria condições. A memória de todas elas me assombra. E é tão sombra, que a cada erro que eu cometo com qualquer amigo, as memórias voltam. A culpa volta. Eu me sinto fisicamente doente, e tenho vontade de desaparecer da vida de todo mundo, como se eu tivesse 16 anos de novo e que sumir fosse resolver alguma coisa. Eu vou pra longe cada dia mais e não resolve nada. Por que desaparecer funcionaria?
Hoje eu acordei, abri o instagram e vi coisas que não queria ver. E eu senti vontade de chorar, de escrever, e ouvir as mais tristes do Radiohead enquanto sentia culpa. Eu tenho uma lista de coisas pra fazer e lugares para visitar, mas hoje só queria ficar sozinha no quarto, pedir comida chinesa gordurosa e chorar deitada na cama, porque sinto que não mereço nada de bom, nem que nenhuma pessoa se aproxime de mim. Porque no fim de tudo, é só isso que sou: uma filha da puta, que vai falar algo errado, e que vai fazer algo imperdoável pra qualquer pessoa que seja minha amiga.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

tudo igual

 eu tenho as mãos geladas, e o rosto inchado de chorar ocasionalmente por dias. tento manter alguma espécie de rotina e mentalizo sempre que só quem pode se ajudar sou eu mesma. no fim das contas, só eu posso cuidar de mim. só eu posso crescer. só eu posso identificar quando não estou bem, e posso me alimentar bem, sair de casa, lavar o cabelo e manter a casa limpa. sei lá. eu acho que me cansei de sentir sempre as mesmas coisas.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

"tudo passa, tudo passará"

 absolutamente ninguém me prometeu equilíbrio na vida adulta, mas se eu sequer sonhasse na adolescência que existia a possibilidade de eu passar semanas sentindo o peso de crises existenciais intensas e me sentindo o maior fracasso da face da terra, eu acho que teria acabado com tudo ali mesmo. não tinha final de saga infanto-juvenil que me segurasse viva, apesar de ser muito doce a esperança de liberdade que a vida adulta proporciona pra adolescência; é engraçado pensar na mudança de paradigma que eu tive ("a vida tem que ser um infinito de felicidade, senão não vale a pena" pra "a vida é feita de pequenos momentos que eu preciso aproveitar, qualquer coisa no meio tempo é mais do mesmo) e como essa mudança foi natural, além de muito necessária. talvez as forças que a gente encontra pra continuar vivendo estejam exatamente nessas pequenas mudanças de paradigma. se não fosse isso, nada valeria a pena.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Sobre chorar no ombro de um homem por 30 minutos seguidos

 Um dia antes de nós dois viajarmos você me perguntou se eu estava bem, e eu disse que não sabia. Eu comecei a chorar copiosamente, porque sentia que alguma coisa dentro de mim estava sendo deixada pra trás - e não era um sentimento exatamente ruim, apesar de haver muito medo. Parecia que eu estava crescendo. Pela primeira na vida eu não tinha chorado na frente dos meus pais antes de ir embora, porque eu acho que eles também sabiam que agora eu estava viajando pra ter a minha vida, não tão conectada a eles. É doloroso, aterrorizante, mas libertador... Assim como todas as coisas relacionadas ao meu futuro. Eu espero que você sempre queira fazer parte dele, porque eu sei o tamanho do meu desejo para que você sempre esteja aqui do meu lado.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

29 voltas ao redor do sol

 eu espero que tudo que eu planejo dê certo, porque eu acho que tudo o que planejo é a escolha certa por agora.

apesar de todas as incertezas, atrasos e sumiços... acho que vai valer a pena.