Há mais ou menos um ano, foi-me permitido comprar seis livros, como presente de Natal. Como eu estava morrendo por livros e a espera de uma semana de compras pela internet me pareceu uma sentença, restou-me caçar um livro na única livraria decente da cidade, o Sebo (porque Porto Velho é tão legal que só tinha três livrarias na época, sendo uma exclusivamente de best-sellers e dois sebos. Um deles - o que eu mais compro - é dividido em três partes: a de livros usados no 2º piso, a de revistas e a de livros novos. O outro sebo só tem livros usados. Hoje, a Exclusiva - dos best-sellers - ganhou uma filial no shopping, e a falida Nobel renasceu das cinzas trazendo uma cafeteria e uma quantidade de livros razoável).
Comprei a chick-lit de sempre (Meg Cabot), a chick-lit nova (Libba Bray. Por falar nisso, fica a aqui o meu protesto contra a Rocco filha-da-puta que lança só o 1º livro da série e os outros dois não. Só de raiva vou comprar os outros em inglês e mandar a Rocco tomar na bunda) e um livro com a capa muito bonita de um sueco chamado Stieg Larsson. Como leio QUALQUER PORCARIA, eu me limito a passar os olhos pelas abas e jogar na cesta de compras; mas o livro realmente me chamou atenção. Primeiro porque foi um dos primeiros romances policiais não americanos que eu vi. Segundo porque a co-protagonista era uma espécie de anarco-punk. Batata!
"Os homens que não amavam as mulheres" é o título. A princípio, erroneamente julguei ser uma espécie de Dan Brown europeu, mas 100 páginas me fizeram mudar de opinião. O começo meio emperrado, o bairrismo sueco excessivo e as conversas sobre política não são coisas típicas de Dan sei muito sobre simbologismo Brown - as únicas coisas que batem são a trama envolvente e um casal protagonista. Apesar de até mesmo o casal sueco ser diferente dos normais. Mikael Blomkvist é um jornalista cheio dos defeitos que se envolve com Lisbeth Salander, uma garota inteligentíssima, mas visivelmente problemática e esquisita; e só por isso podemos dizer adeus às beldades e ao perfeito Robert Langdon de Brown.
Lisbeth é reservada a ponto de parecer retardada, mas Mikael consegue "fazer um furo nesse muro", e com ajuda de Lisbeth desvenda um caso arquivado há 40 anos. Lisbeth começa a "gostar" de Mikael, mas o flagra com Erika Berger, editora-chefe da revista Millennium, a qual Blomkvist é co-proprietário. Berger e Blomkvist mantém uma relação há anos, que é inclusive "autorizada" pelo marido de Berger (pra você ver a estranheza das pessoas e relações deste livro).
"A menina que brincava com fogo", 2º livro da série, trata diretamente sobre Salander. Acusada de cometer três assassinatos, ela se esconde. Não por medo da punição, mas pelo simples fato de não querer ser importunada. O único desejo de Lisbeth é ser deixada em paz. Ao longo do livro é descoberta a razão do comportamento estranho da garota, o que envolve espionagem internacional e o Estado. O livro vira um daqueles impossíveis-de-serem-largados lá pelo meio e atinge o clímax no final - final esse que é o mais frustrante de todos os finais de romances-policiais.
Depois de alguns meses de espera e vontade de socar a Companhia das Letras por não lançar logo o 3º livro, "A Rainha do castelo de ar" saiu. A capa seguiu o mesmo modelo das outras (com todo aquele fogo e o dragão), a quantidade de páginas deu uma aumentada, mas nada que impeça a brava Umáyra de dar uma de Johnnie Walker e seguir em frente. O livro continua do final do 2º, puta golpe de marketing do escritor. A trama consegue ficar ainda mais complexa, o Estado ainda mais envolvido e a maior quantidade de bosta da história das bostas é jogada no ventilador.
Tia Larsson, meus queridos, fala do seu próprio país. Toda aquela argumentação ditatorial estilo "os fins justificam os meios" é utilizada e a tensão domina tanto os personagens quanto o leitor. Eu me lembrei de quando tinha 8 anos e li Harry Potter e a Câmara Secreta, todo um imaginário macabro dominando meus sonhos. Há tempos um livro não tirava meu sono. I mean, se o meu Estado se voltasse contra mim, o que eu conseguiria fazer? Larsson vai além de organizações religiosas ou suposições de que seu país teria descoberto vida em outros planetas. Ele faz uma crítica ao seu país supostamente democrata que agiu exatamente como a URSS e sua KGB.
Aí logo depois de entregar o manuscrito do último livro pra editora, Stieg Larsson morre de ataque cardíaco aos 50 anos. Jornalista. Ativista político. Ataque cardíaco (DEATH NOOOOOOOTE DETECTADO!). Faz-me rir. Se tem uma coisa que eu aprendi com esses livros, foi o significado da palavra "conspiração".
ps. Uma das coisas mais legais dos livros é a divisão dos capítulos. O livro é geralmente dividido em quatro ou cinco, e cada capítulo é dividido em sub-capítulos. No início de cada capítulo, um tema aparentemente sem conexão com o enredo é explorado, mas ao final do livro faz sentido.
pps. Também comprei "O símbolo perdido" do Dan Brown. Baby, I swear is deja vu.
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