- Por que você não está copiando?
- Por que meu caderno tá com a C.
- E por que tá com a C.?
-Por que ela faltou aula e pediu emprestado pra copiar.
G. me lança um olhar feio e continua a dar aula. A cada oportunidade, ele vira e olha para mim. "Ele pensa que eu vou conversar, é?", eu penso. "Idiota. Imbecil. Mal amado. Mal comido."
Cruzo os braços, em defesa. Como toda vez que eu tenho muita raiva, eu me arrepio. Ele percebe que eu não estou nem um pouquinho feliz.
- Copiem aí pra mim. - G. diz para a turma.
Ele se aproxima de mim e fala baixo, num tom que só eu escute:
- Se fosse eu, deixaria ela se virar depois.
Olho com meu olhar mais indiferente para G. Olha para C. que copia desesperada a matéria do meu caderno.
- É mesmo?
- É.
- Mas eu não sou você. Eu não sou como você. Eu não quero ser você. Sabe, G. eu acho que eu sei por que você virou professor. Você devia ser um daqueles nerds que todo mundo ri da cara; um daqueles nerds que puxa o saco do professor. E dar aulas é a sua vingança contra todos aqueles que riam de você, todos os dias. Que eram mais amados que você. Que saíam mais que você. Que namoravam mais que você. E até hoje o fazem. Mas sabe de uma coisa G.? Você não vai me irritar. Eu não vou me ferrar por um capricho de um professorzinho. Eu vou aceitar as suas indiretas podres, seus comentários irônicos numa boa. Por enquanto. Mas um dia, você vai ter o que merece por se achar tão superior aos seus alunos. Um dia, um dia.
ps.: eu não falei, mas morri de vontade. E esse vai pra (quase) todos os professores.
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