quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Balanço

Em 2016 eu:
- Rezei por uma greve na universidade porque eu provavelmente entraria em parafuso de forma muito difícil de reverter se o semestre tivesse sido normal;
- Liguei zero pra minha aparência (ligar no sentido de estar tão ocupada com outras coisas que não coloquei "aparência" na lista de prioridades);
- Resolvi meio mal resolvido o lance com meu ex-namorado que me deu um pé na bunda mas ainda quis me deixar ali de reserva (flash news: aqui não, querido);
- Tive uma das piores crises existenciais da minha vida adulta por causa de autoestima, desencadeada por uma decisão que nem lembro de ter tomada (ah, o álcool) e que ainda me dá vergonha (de vez em quando meu cérebro faz questão de lembrar da coisa toda, uns lampejos meio sensoriais acoplados a memórias inventadas);
- Terminei o bacharelado do Português (ainda falta uma nota, mas tenho certeza que passei);
- Voltei pro facebook e continuo com muita preguiça de redes sociais e comunicação;
- Conheci muita gente, mas dei um jeito de ficar mais reclusa e introvertida;
- Passei a depender de listas e agendas de maneira quase compulsiva;
- Descobri muitas doenças. Muitas mesmo. Várias de fundo emocional.

Em 2017 eu quero:
- Resolver essa merda com a autoestima. Chega. Já deu;
- Voltar pra terapia;
- Morrer de estudar e adiantar bastante coisa pra ficar mais livre no último ano da faculdade;
- Conseguir, de alguma forma, morrer de estudar e ser menos reclusa e ter alguma vida social (até hoje algo inexistente em minha vida);
- Procurar alguma atividade que me acalme e não me deixe pilhada a ponto de querer perfeição (que quando não é atingida é motivo de auto-massacre e depreciação).

É isso. Vamos lá.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

"Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber"

Tenho prazos a cumprir e a depressão que eu segurei por um tempo voltou com tudo hoje. É quase sempre quando a gente tá atolado em trabalho né? Aí a  técnica de se afundar em trabalho pra não pensar que quer sumir não funciona. Fico com aquela sensação esquisita que o Leminski e o Renato Russo já descreveram tão bem, de estar cheio do vazio, o corpo quente sentindo frio. Eu colo recados coloridos com memento mori por toda a casa pra lembrar o que sei racionalmente: que vai passar... Mas é tipo droga: eu esqueço que é o horror enquanto dura.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

A internet várzea, a internet moleque

Uma das minhas coisas prediletas a fazer quando estou entediada é entrar no Omegle pra falar inglês. Claro, é como um mar de pintos, a mão tem que estar no ESC pra mudar de conversa (e fugir de tarados e pintos) o tempo todo, mas de vez em quando dá pra encontrar alguém legal, que também foi movido por alguma força louca e sem sentido pra entrar no Omegle. Ontem eu conversei:
- com uma travesti inglesa que mora na Tailândia e gosta de música eletrônica, a Suzanne;
- com um belga mentiroso que disse conhecer o Dimitri Vegas (um DJ famoso que eu só conhecia porque meu irmão fica ouvindo música de maloqueiro boyzinho enquanto toma banho/dirige e todo mundo de casa acaba ouvindo também);
- Um cara que parecia normal mas me chamou de "Mistress" e quando eu comecei a rir falou que gostava de ser humilhado com risada. Fiquei com medo e dei ESC na conversa em questão de segundos, mas passei um bom tempo rindo da situação e do tipo de pessoa que a internet esconde.
Mas né, não esconde. A internet é composta de seres humanos (ainda bem que quase ninguém me lê, e se lê, provavelmente é de humanas e não vai retrucar que a internet é feita de megabytes ou qualquer coisa assim que eu não sei o nome) e humanos são estranhos e fingem muito bem. Quando a gente para pra pensar, o tio de onde você compra um lanchinho pode ser alguém que curte S&M e ser humilhado por pessoas que dão risada dele na internet, e seu colega de classe por de ter fetiche por pés, ou qualquer coisa que parece bizarrice mas é mais comum que a gente imagina.
Às vezes eu esqueço dessa internet pré-textão no facebook, hashtag no twitter e no instagram. Sinceramente? É maravilhosa (zero comportamento de massa, 100% tara que vem do âmago, movida por desejos pessoais solitários).

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Tentando ser Armada Dumbledore e Neville depois que o Harry vai embora de Hogwarts.

Hoje fiquei acordada até 3h da madrugada (mesmo sabendo que teria que levantar às 7h) pra saber quem seria o novo presidente dos EUA. Quando o Trump foi ganhando em quase todos os estados e eu fui me xingando por mais uma vez não tentar entender o sistema eleitoral americano, bateu o desespero. Minha timeline do twitter estava em choque, todos os jornalistas e estrangeiros que eu sigo não conseguiam acreditar no que estava acontecendo. Parecia um pesadelo. Surreal. Pra falar a verdade, ainda parece surreal: eu cheguei na FFLCH e todo mundo só falava disso, meu professor de Literatura Brasileira que se atem ao programa o máximo que pode não parou de soltar comentários embasbacados durante a aula e passei o dia conversando com meus amigos no whatsapp sobre o que eu estava sentido. 
É medo. 
Eu me sinto dentro de um livro de terror, um livro de história. Só consigo lembrar dos livros de relato de guerra e ditadura que li, em que todo mundo sabia que havia algo errado, as pessoas trocavam cartas e se encontravam pra falar que algo estava MUITO errado e o mundo seguia em frente. A turba vivia como se nada estivesse fora de lugar, e de repente o fascismo começava a gargalhar na cara de todo mundo. Sempre malicioso, sempre disfarçado de progresso e "bem maior" - enquanto toda e qualquer minoria que ousasse ir contra era massacrada. Me assusta muito o fato de o Brasil não escancarar a memória do horror que foi a Ditadura Militar; isso dá margem pra Bolsonaros e Malafaias vomitarem ódio sem culpa nenhuma, e sem que nada aconteça com eles. Os filhotes da ditadura que só sabem esbravejar "Comunistas! Guerrilheiros!" tomam força, e os jovenzinhos que não aprendem de forma plena filosofia, sociologia e história na escola, acham que tortura é algo comum. Que matar um ser humano é normal. Que alguém não ter um direito por ser diferente é ok. Ah, esse nosso país cristão...
O Trump ser presidente da maior máquina de guerra do mundo sendo louco do jeito que é: assusta. Mas o fato de ele ganhar a eleição falando as coisas que falou e defendendo as coisas que defendeu assusta um milhão de vezes mais. Votar num homem que estupra mulheres, racista, xenófobo e intolerante é dar apoio a esse tipo de comportamento. Votar num homem que saúda um torturador, é ser conivente com tortura. 
Tenho a sensação contínua de caminhar pra trás. Parece que as pessoas vestem uma máscara de progressistas, de inclusivas, mas basta um fascista aparecer e começar a despejar retórica (boa ou não) que as pessoas se revelam. Eu decidi que vou militar, que não vou deixar discurso de ódio passar, que vou ter paciência pra discutir - agora mais do que nunca o debate é importante -, mas às vezes eu sento na cadeira da minha sala, meu coração se aperta e eu só tenho vontade de sumir pra não ver o mal que o futuro (dessa vez não tão distante) vai trazer. É muito difícil ter forças. 

Queria que minha edição surrada de A Ordem da Fênix estivesse aqui comigo agora.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

De todos os livros e filmes que já vi na vida, a personagem com quem eu mais me identifiquei foi a May, de A vida secreta das abelhas. Não só porque nós temos o mesmo apelido, mas porque ela é excessivamente sensível. Eu sempre fui sensível demais e sempre chorei muito. Quando algo muito feliz acontece comigo ou com qualquer pessoa, eu choro e sinto que meu coração vai transbordar de alegria. Quando algo muito triste acontece, eu choro e passo dias sentindo que o mundo não vale a pena. O vô tá no hospital desde semana passada e eu já não estava muito bem, daí hoje recebo a notícia de que o filho de um amigo no meu pai foi assassinado. Ele era policial, daqueles que eu desaprovo, que batem palma pra gente que incita a violência. Mas ele não merecia morrer, muito menos de forma tão violenta. Quando eu paro pra pensar, acho que ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém - mesmo um criminoso merece julgamento. Que seja punido pela justiça terrena. Mas nenhuma vida vale mais do que a outra, por mais degenerada que a pessoa esteja. O Bianor Jr. tinha 25 anos - era só dois anos mais velho que eu. Ele não era alguém da Síria, alguém por quem meu coração pesa mas se blinda. Ele não era próximo. Eu lembro mais do irmão dele que foi fazer vestibular comigo no Acre, e da mãe dele que me chamava de boneca e dizia que queria muito ter tido uma filha menina (eram quatro meninos). Meu pai acabou de me dizer que 6h da manhã ela estava lavando o asfalto porque não queria o sangue do filho dela no chão. Eu sei que Deus não tira a dor do nosso peito, porque inúmeras vezes eu implorei pra Deus tirar do meu coração esse monte de coisa ruim que eu sinto e escondo, então não sei se peço pra Deus ou pra qualquer outra divindade tirar o peito da mãe do Bianor Jr o que ela tá sentindo agora.
Eu queria poder ajudar a pessoas de alguma forma.