Tenho prazos a cumprir e a depressão que eu segurei por um tempo voltou com tudo hoje. É quase sempre quando a gente tá atolado em trabalho né? Aí a técnica de se afundar em trabalho pra não pensar que quer sumir não funciona. Fico com aquela sensação esquisita que o Leminski e o Renato Russo já descreveram tão bem, de estar cheio do vazio, o corpo quente sentindo frio. Eu colo recados coloridos com memento mori por toda a casa pra lembrar o que sei racionalmente: que vai passar... Mas é tipo droga: eu esqueço que é o horror enquanto dura.
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
terça-feira, 15 de novembro de 2016
A internet várzea, a internet moleque
Uma das minhas coisas prediletas a fazer quando estou entediada é entrar no Omegle pra falar inglês. Claro, é como um mar de pintos, a mão tem que estar no ESC pra mudar de conversa (e fugir de tarados e pintos) o tempo todo, mas de vez em quando dá pra encontrar alguém legal, que também foi movido por alguma força louca e sem sentido pra entrar no Omegle. Ontem eu conversei:
- com uma travesti inglesa que mora na Tailândia e gosta de música eletrônica, a Suzanne;
- com um belga mentiroso que disse conhecer o Dimitri Vegas (um DJ famoso que eu só conhecia porque meu irmão fica ouvindo música de maloqueiro boyzinho enquanto toma banho/dirige e todo mundo de casa acaba ouvindo também);
- Um cara que parecia normal mas me chamou de "Mistress" e quando eu comecei a rir falou que gostava de ser humilhado com risada. Fiquei com medo e dei ESC na conversa em questão de segundos, mas passei um bom tempo rindo da situação e do tipo de pessoa que a internet esconde.
Mas né, não esconde. A internet é composta de seres humanos (ainda bem que quase ninguém me lê, e se lê, provavelmente é de humanas e não vai retrucar que a internet é feita de megabytes ou qualquer coisa assim que eu não sei o nome) e humanos são estranhos e fingem muito bem. Quando a gente para pra pensar, o tio de onde você compra um lanchinho pode ser alguém que curte S&M e ser humilhado por pessoas que dão risada dele na internet, e seu colega de classe por de ter fetiche por pés, ou qualquer coisa que parece bizarrice mas é mais comum que a gente imagina.
Às vezes eu esqueço dessa internet pré-textão no facebook, hashtag no twitter e no instagram. Sinceramente? É maravilhosa (zero comportamento de massa, 100% tara que vem do âmago, movida por desejos pessoais solitários).
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
Tentando ser Armada Dumbledore e Neville depois que o Harry vai embora de Hogwarts.
Hoje fiquei acordada até 3h da madrugada (mesmo sabendo que teria que levantar às 7h) pra saber quem seria o novo presidente dos EUA. Quando o Trump foi ganhando em quase todos os estados e eu fui me xingando por mais uma vez não tentar entender o sistema eleitoral americano, bateu o desespero. Minha timeline do twitter estava em choque, todos os jornalistas e estrangeiros que eu sigo não conseguiam acreditar no que estava acontecendo. Parecia um pesadelo. Surreal. Pra falar a verdade, ainda parece surreal: eu cheguei na FFLCH e todo mundo só falava disso, meu professor de Literatura Brasileira que se atem ao programa o máximo que pode não parou de soltar comentários embasbacados durante a aula e passei o dia conversando com meus amigos no whatsapp sobre o que eu estava sentido.
É medo.
Eu me sinto dentro de um livro de terror, um livro de história. Só consigo lembrar dos livros de relato de guerra e ditadura que li, em que todo mundo sabia que havia algo errado, as pessoas trocavam cartas e se encontravam pra falar que algo estava MUITO errado e o mundo seguia em frente. A turba vivia como se nada estivesse fora de lugar, e de repente o fascismo começava a gargalhar na cara de todo mundo. Sempre malicioso, sempre disfarçado de progresso e "bem maior" - enquanto toda e qualquer minoria que ousasse ir contra era massacrada. Me assusta muito o fato de o Brasil não escancarar a memória do horror que foi a Ditadura Militar; isso dá margem pra Bolsonaros e Malafaias vomitarem ódio sem culpa nenhuma, e sem que nada aconteça com eles. Os filhotes da ditadura que só sabem esbravejar "Comunistas! Guerrilheiros!" tomam força, e os jovenzinhos que não aprendem de forma plena filosofia, sociologia e história na escola, acham que tortura é algo comum. Que matar um ser humano é normal. Que alguém não ter um direito por ser diferente é ok. Ah, esse nosso país cristão...
O Trump ser presidente da maior máquina de guerra do mundo sendo louco do jeito que é: assusta. Mas o fato de ele ganhar a eleição falando as coisas que falou e defendendo as coisas que defendeu assusta um milhão de vezes mais. Votar num homem que estupra mulheres, racista, xenófobo e intolerante é dar apoio a esse tipo de comportamento. Votar num homem que saúda um torturador, é ser conivente com tortura.
Tenho a sensação contínua de caminhar pra trás. Parece que as pessoas vestem uma máscara de progressistas, de inclusivas, mas basta um fascista aparecer e começar a despejar retórica (boa ou não) que as pessoas se revelam. Eu decidi que vou militar, que não vou deixar discurso de ódio passar, que vou ter paciência pra discutir - agora mais do que nunca o debate é importante -, mas às vezes eu sento na cadeira da minha sala, meu coração se aperta e eu só tenho vontade de sumir pra não ver o mal que o futuro (dessa vez não tão distante) vai trazer. É muito difícil ter forças.
Queria que minha edição surrada de A Ordem da Fênix estivesse aqui comigo agora.
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